segunda-feira, 28 de maio de 2018

ARCESISLAU SOARES

Nasceu em Cachoeiro de Itapemirim (?). Faleceu em Vitória, na década de 1940.
Fez os estudos primários e secundários na cidade natal No início do século XX, transferiu­ se para Vitória, onde instalou um estúdio fotográfico denominado Foto-Film. No entanto, algumas informações da imprensa afirmam que atuava como fotógrafo desde 1881, provavelmente em Cachoeiro de Itapemirim.

Em 1909, tornou-se fotógrafo oficial do governo de Jerônimo Monteiro, de quem era amigo e conterrâneo. Nessa função, além de retratos de autoridades e de representantes da política, registrou as intervenções executadas no tecido urbano de Vitória, reformas e transformações dos monumentos históricos, como do antigo convento jesuítico e na igreja de São Tiago, bem como no seu entorno, obras que dariam origem ao atual Palácio Anchieta.

Vista geral das praia de Vila Velha e Inhoá.
Autor: Arcesislau Soares.
Data: Cerca de 1908.
Dimensões: 9x14 cm.(Bilhete postal).
Acervo: Olga Couto.
Naquela época, inseria um carimbo no verso das fotos: ''A. Soares" ou um selo, colado no suporte de papelão com motivos florais em relevo, sobre o qual montava as fotografias: 'Foto-Film, de Arcesislau Soares - Victória". Alguns de seus trabalhos eram também assinados: A .Soares.

Praça 8 de Stembro.
Autor: Arcesislau Soares.
Data: 1912.
Dimensões: 16x22,5 cm; 17,8x23,8 cm (suporte).
Acervo: arquivo Público do Estado do Espírito Santo.
Continuava, no entanto, a elaborar retratos de membros da elite, em sua oficina, assim como vistas e paisagens naturais e arquitetônicas de todas as regiões do Estado. Numa propaganda de 1910, anuncia a exposição de trabalhos desse gênero, além das últimas novidades da indústria fotográfica, que faziam os preços dos retratos caírem muito, tornando esse gênero de imagem amplamente difundido e acessível aos membros das classes sociais menos favorecidas economicamente:

Arcesilau Soares expôs na Casa Samorini, um dos seus últimos trabalhos de paisagem da luz e pelo gosto da perspectiva. Este artista pretende trabalhar agora também no gênero de photographias electricas, cobrando a dúzia de retratos a 2$000, para atender a pedidos de sua freguesia. (1)

No ano seguinte, o fotógrafo expunha os seus trabalhos numa vitrina de outra casa comercial:

Acha-se em exposição na vitrine do café Rio Branco uma nítida collecção de photographias, trabalho do sr, Arcesislau Soares, hábil photographo, residente nesta capítal. (2)

Em 1918, o empreendimento fotográfico de Arcesislau Soares tem a sua razão social mudada para Photo Iris, de Soares & Cia, conforme citam os anúncios publicitários:

lnstallou-se nesta capital um excellente atelier de photographia, à rua 1 de março n. 3. À frente desse estabelecimento de arte photographica, acha-se o conhecido artista photographo Arcesislao Soares, o que é urna garantia de que o Photo lris poderá desempenhar quaesguer trabalhos concernentes ao mister. (3)

As propagandas oferecem algumas informações sobre a especialidade do fotógrafo:

Photo Iris, de Soares & Cia - executa-se com perfeição qualquer trabalho concernente à arte. Retratos em todos os tamanhos e em diversos systemas - a óleo, crayon, aquarella. (4)

Seguem-se as exposições realizadas pelo fotógrafo, anunciadas pela imprensa local:

Em exposição no mostruário da Marcenaria Brasileira de Buzatto & Companhia, encontra-se um retrato do sr. Arthur Bernardes, trabalho a lápis, obra que muito recomenda o seu autor Arcesislau Soares. (5)

Em 1920, o Diário da Manhã, publicava a seguinte nota publicitária:

O conhecido e apreciado photographo Arcesislau Soares expoz na casa Samorini um dos seus ultimos trabalhos de paysagem photographica, no qual se revela impecavel pela distribuição da luz e pelo gosto da perspectiva.
Esse artista pretende trabalhar agora, tambem no genero de photographias electricas, cobrando a duzia de retratos a 2$000, para attender a pedidos de sua freguesia. (6)

A imprensa exalta a habilidade do fotógrafo nos retratos retocados:

Em exposição, no mostruario da Marcenaria Brasileiro de Buzarro & Cia., encontra-se um retrato do sr. dr. Arthur Bernardes, trabalhado a lapis, obra que muito recomenda o seu autor Arcesislau Soares. (7)

Em 1927, por solicitação do governo local, registrou todas as etapas da construção da "ponte que ligará Vitória ao continente", desde o lançamento do primeiro caixão metálico até os convidados e o público presente ao evento. (8)

Victoria Orly.
Autor: Arcesislau Soares.
Data: 21/02/1917.
Dimensões: 17x11 cm.
Acervo: Bernadette e Olga Rubim

Nessa época, ainda elaborava trabalhos para o governo local, uma vez que realizou um ampla iconografia sobre o alagamento e calçamento da Avenida Vitória. (9)

Embora não conseguíssemos localizar nenhum familiar do fotógrafo para obter maiores informações sobre este profissional, a revista Vida Capichaba informa que Arcesislau Soares foi retratista da Policia Militar, durante muitos anos. Cita ainda que, no início do século, casou-se com uma moça da família Busato, com a qual teve um filho chamado Ciro Soares. No final dos anos 1920, Soares residia e trabalhara na Praça da Independência, 42 (atual Costa Pereira), em Vitória:




Photo-Film: O Sr. Arcesislau Soares, competente artista, a quem devemos uma grande parte da reportagem photographica do presente número especial, acaba de inaugurar à Praça da lndependência, esquina da Rua do Oriente, um bem montado atelier para execução de todos os trabalhos concernentes à sua arte. Dada a reconhecida capacidade profissional do seu proprietário, o seu estabelecimento, que se denomina Photo-film, merecerá, por certo, a preferencia da nossa elite social. (10)

A moda da fotopintura, cada vez mais difundida a partir do início do século XIX, faz com
Nazira Milled Salviato.
Autor: Atelier Artístico Soares & Mandarino.
Victoria. Data: 1928.
Dimensões: 48x37 cm.
Acervo: Dilu Salviato.
Reprografia: Jore Fagundes.
que Arcesislau se associe, em 1928, ao pintor e fotógrafo local Pedro Mandarino, voltando o empreendimento a ter a denominação anterior de Foto-Film, agora especializado em retratos em branco e preto, retocados ou redesenhados a crayon, trabalhos que eram assinados a lápis com os dizeres:

Ateliér (sic) Artistico
A. Soares & Mandarino
Victoria (11)

Era também especializado em retratos coloridos com aquarela, segundo informam as propagandas. Embora a maior parte desses anúncios pouco esclareça sobre a especialização dos fotógrafos, limitando-se a informar mudanças de endereço ou alterações na aparência da oficina, conforme se depreende nos textos que transcrevemos abaixo, a análise de alguns retratos desse estúdio - que conseguimos localizar-nos autorizam a destacar a sua qualidade, seja na singularidade das composições, nos efeitos de claro e escuro e na exímia habilidade com que manejavam os lápis e os pincéis:

Arcesislau Soares e Pedro Mandarino, hábeis fotógrafos desta capital, mudaram o seu atelier para a Rua Pereira Pinto nº 18, sobre a Casa Busato, que em ligeira visita que lhe fizemos tivemos oportunidade de ver magníficas ampliações e o gosto e arte desses competentes profissionais. (12)

No mesmo ano, publicam novo anúncio do Foto-Film de Arcesislau Soares e Pedro Mandarino, que funciona agora à Rua Jeronymo Monteiro, 77 (Vitória):

avisam aos seus clientes que mudaram o seu gabinete fotográfico para aquele endereço (em cima da confeitaria Balbi). Nessas modernas instalações estão aptos a atender todas as exigências do seu ramo artístico. Nesse atelier executam-se quaisquer trabalhos fotográficos. (13)

Ainda no mesmo ano de 1928, é registrada a sua participação como membro da diretoria da Loja Maçônica União e Progresso.

Notas: (1) Diário da Manhã, 26 out. 1910, p.2;23 dez. 1910, p.3. O nome do fotógrafo aparece grafado nos jornais como Arcesilau, Arcesislau e Arcesilslao.

(2) Id. Ib. 7 abril 1911,p.2.

(3) “Photo Iris”, Id., 24 set. 1918, p.2.

(4) Diário da Manhã, 10 out. 1918, p.4. O empreendimento com o nome de Foto Iris foi alterado novamente para Foto-Film, na década de 20. A década de 50, ainda existia um estúdio denominado Foto Irís, mas pertencente a José Accioly, e estava instalado na Rua Jerônimo Monteiro, 69.

(5) Diário da Manhã, 23 dez. 1922, p.3.

(6) “Arte photographica”, Id. Ib. 30 out. 1920 p.3.

(7) Id. 23 dez. 1922. p.3.

(8) Vida Capichaba (92), 23 maio 1927.

(9) Id. (181). 30 jun. 1929.

(10) Id. Ib., (92), 23 maio 1927.

(11) Anotação transcrita de um retrato do ateliê citado.

(12) “Atelier Artístico”, Vida Capichaba, (116), 15 março 1928.

(13) Id. Ib., (127), 31 maio 1928.

Referência: LOPES, Almerinda da Silva. Memória aprisionada: a visualidade fotográfica capixaba, 1850/1950. [Vitória, ES]: EDUFES, 2002.

Fontes: Acervo fotográfico do Arquivo Público do Estado do espírito Santo e do Arquivo Público do Município de Vitória.

Diário da Manhã, 1907-1936.

Vida Capichaba, 1923-1957.

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