segunda-feira, 28 de maio de 2018

BENEVIDES DE LIMA JÚNIOR

Nasceu em Conceição da Barra, em 1888, e faleceu na mesma cidade, em 1973. Foi aluno do Instituto de Belas Artes de Vitória, de 1910 a 1912, tendo inclusive exposto obras de pintura, conforme se lê nesta nota publicitária:
Esteve exposto em uma das vitrines da Primavera um magnífico quadro da lavra do talentoso moço sr. Benevides Lima Jurúor. É um trabalho que denota apurado gosto artístico e revela que o autor tem decidida vocação para a pintura. (1)
A falta de perspectivas para sobreviver de arte leva-o a dedicar-se ao comércio, no ramo de secos e molhados, em Vitória. Um incêndio na sua venda, no dia de São João, provocado por uma explosão de fogos de artificio, faz com que decida regressar à cidade natal em 1920. No entanto, nunca abandonou a atividade artística, embora o desenho e a pintura permanecessem sempre como atividades secundárias.
Dedica-se também à fotografia, como hobby. Ao voltar a Conceição da Barra, levou consigo a câmara Kodak que usava para fazer suas imagens. As chapas e o material para a revelação e reprodução das imagens eram trazidos de navio do Rio de Janeiro. Por falta de outra perspectiva de trabalho, passa a atuar como fotógrafo profissional. Algum tempo depois, volta a estabelecer-se como comerciante, sem abandonar, no entanto, as atividades como fotógrafo, que continuaram a ser a sua principal fonte de renda e de criação artística. Além de retratos para documentos, registrava também o carnaval, casamentos, cenas de rua, no mercado local, paisagens e os pescadores nas margens do rio Cricaré, e mesmo os mortos, a pedido de familiares que queriam guardar a última lembrança de seus entes queridos, ou enviar uma recordação a parentes distantes que não puderam participar da cerimônia fúnebre. Benevides Lima esmerava-se nos retoques e nos contrastes de luz, atividade que o mantinha ligado ao desenho, sua verdadeira vocação artística.
Quando os negócios começam a prosperar, a fotografia volta a ser atividade secundária. Mesmo continuando a aceitar encomendas da elite local, uma vez que era o único fotógrafo existente na localidade, preferia expor as imagens que mais lhe agradavam, por suas qualidades estéticas, nas vitrinas de sua casa comercial Sentia-se orgulhoso e recompensado apenas com o olhar curioso e a admiração dos fregueses sobre seus trabalhos. Mesmo já bastante difundida nessa época, e atingindo escalas de produção industrial nos grandes centros, em razão de seus custos ainda relativamente altos para as pessoas das classes sociais menos favorecidas economicamente, a fotografia era ainda inacessível, e mesmo desconhecida, para alguns, o que transformava essa linguagem em objeto de deslumbramento e curiosidade. Os locais e as pessoas conhecidas estampados nas fotografias as transformavam também num moderno veículo de comunicação e desvelamento de valores e costumes sociais, permitindo uma nova interação e re-significação do mundo representado, como observa Rita de Cássia Bóbbio Lima:
Rever a cidade nas fotos, poder estar presente nelas ou ainda poder identificar os seus ídolos locais nas imagens era urna realidade que, ao mesmo tempo, permitia entrar no mundo da fantasia, no mundo dos mitos. É que praticamente todos, ricos e pobres, conseguiam se desvestir dos seus conceitos e preconceitos, para apreciar o arquétipo de urna realidade que era acessível a toda a comunidade. (2)
Alguns dos trabalhos de Benevides Lima eram vendidos como cartões-postais, para serem enviados a parentes e amigos distantes ou mesmo para serem colecionados.
Notas: (1) O Diário, 8 de março de 1912, p.3.
(2) Rita de Cássia Bóbbio Lima. Relatos e retratos de Conceição da Barra.
Referência: LOPES, Almerinda da Silva. Memória aprisionada: a visualidade fotográfica capixaba, 1850/1950. [Vitória, ES]: EDUFES, 2002.
Fontes:
O Diário, Vitória, 08 março, 1912, p.3.

LIMA, Rita C. Bóbbio. Relatos e retratos de Conceição de Barra. Vitória, UFES, 1995.


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