segunda-feira, 28 de maio de 2018

ALBERT RICHARD DIETZE

Filho de August Friedrich Dietze e Auguste Friedrike Sack Gr. Scorlop, nasceu na cidade de Kitzen, na Prússia, Alemanha, em 29 de dezembro de 1838. Faleceu em Santa Leopoldina, Espírito Santo, a 24 de agosto de 1906. Segundo informações de familiares, Dietze chegou ao Brasil pouco antes de completar 30 anos de idade, passando a trabalhar no Jardim Botânico, no Rio de Janeiro. Os motivos que atraíram tão sensível e culta personalidade a aventurar-se sozinha em terras tão distantes são ignorados. Porém, tudo leva a crer que a complexa e confusa situação sócio-político-econômica da Alemanha naquele tempo, provocada por questões relativas à unificação, à perda da hegemonia prussiana, à agressiva ideologia nacionalista e racista (entre outras), problemas que geravam um clima tumultuado, insegurança, tensões e guerras internas e externas, pesaram sobre a decisão de Dietze.
Formado em agronomia em seu país de origem, pouco depois de desembarcar no Brasil, Albert Dietze tornou-se auxiliar do então diretor do Jardim Botânico, cargo que o teria aproximado do botânico alemão Karl Glasl e também do botânico e paisagista francês Glaziou (1833-1897) (1), o qual acabava de ser nomeado para o cargo por D Pedro II, em 1863. Dietze atuava também como fotógrafo e era bom desenhista, qualificações que, se por um lado, lhe eram úteis na função que exercia ao lado daquele paisagista - em especial para registrar as espécies vegetais e os jardins - por outro, não lhe permitiam alçar maiores vôos. O inquieto alemão traçou rapidamente outra trajetória para sua vida profissional. Instalou, no mesmo ano, na capital imperial, a sua Photographia Alemã e demitiu-se do cargo de assistente de Glasl, que ocupou por apenas quatorze meses.
Embora se desconheça como se deu o seu aprendizado artístico, sabe-se que já desenvolvia a atividade fotográfica na Alemanha. Segundo afirmam seus familiares, Dietze retratou na Europa uma clientela de ilustres personalidades e membros da nobreza, como atesta, por exemplo, o retrato da baronesa Wladimir von Rusland e suas filhas, reproduzido neste trabalho, em cuja composição e outros atributos se percebe nítida influência da pintura européia clássica. Foi também o fotógrafo do imperador Guilherme I, conforme atestam algumas imagens da nobreza produzidas por ele e algumas medalhas que localizamos no acervo de seus familiares, as quais lhe teriam sido concedidas pelo próprio Kaiser. Ao chegar ao Brasil, além de já dominar os segredos das câmaras e dos produtos químicos para processamento das imagens fotográficas, revelava grande habilidade como desenhista, conhecia e amava profundamente a música, destacando-se como exímio instrumentista.
Na corte, os encomendários de seus retratos eram, provavelmente, na sua maioria, imigrantes ilustres ou membros da elite local.
Quando passou a se dedicar exclusivamente à fotografia, além dos retratos de estúdio circula também pelo interior do Rio de Janeiro, estendendo os percursos até o Espírito Santo. Vem à procura de clientela interessada em adquirir suas imagens, o que lhe possibilitaria ampliar as fronteiras comerciais, em razão da concorrência que se estabelece entre os mais conhecidos e conceituados estúdios fotográficos existentes na capital imperial. No entanto, parece ter sido atraído muito mais pela curiosidade de conhecer uma região ainda pouco desenvolvida, mas que havia sido escolhida como pátria por muitos de seus conterrâneos, assentados como colonos nos loteamentos que o governo oferecia nas terras devolutas da região central do Espírito Santo (2), a contar pela singularidade da maior parte das imagens que aqui produziu.
Ainda em 1869, faz a primeira visita à ex-colônia de Santa Leopoldina, quando obtém registros fotográficos que são hoje verdadeiros documentos históricos de um Espírito Santo que passou por muitas transformações e que hoje em nada se parece com o cenário congelado naqueles ícones. No mesmo ano, o fotógrafo alemão elabora também um grande número de vistas, paisagens, fazendas, monumentos naturais e construídos pelo homem, além de elaborar retratos de índios e escravos, captados em suas andanças por diferentes localidades da Província. Embora haja referência do autor de que tais retratos desses tipos étnicos foram elaborados com o intuito de estudá-los, naquela época, sabe-se que índios e negros erem exibidos em exposições nacionais e européias como uma espécie de excentricidade ou mesmo exotismo, conforme já foi citado neste trabalho. Apesar da dificuldade em elaborar retratos, em especial dos arredios botocudos, é no mínimo curioso o empenho do alemão em obtê-las, urna vez que não lhe rendiam, certamente, nem fama nem o valor cobrado pelos retratos tirados dos membros da elite. Mas foi graças a esse interesse que tais ícones acabariam por se tomar, ao que tudo indica, os mais antigos registros de negros e índios espírito­santenses que se conhece ou que, pelo menos, chegaram até nós. Essas imagens eram reveladas inicialmente no estúdio que mantinha no Rio de Janeiro, e, a partir dos anos 1870, eram processadas na oficina que inaugura neste Estado (3).
Pomeranos Johanna Zich e duas outras pessoas não
identificadas (Santa Leopoldina).
Autor: Albert Richard Dietze (carimbo no verso:
A. R. Dietze, Rio de Janeiro).
Dimensões: 10,5x7,5 cm; 12x10 cm (suporte)
Acervo: Nilza Abnrt (Itaimbé, ES)
Dietze parece ter encontrado boa receptividade para o trabalho que desenvolvia, o que fez com que anunciasse várias vezes, na imprensa local, o prolongamento de sua permanência em Vitória, em 1873, ano em que também se casa, em Santa Leopoldina, conforme veremos adiante. Em um desses anúncios, transcrito neste ensaio, no capítulo que trata da propaganda, o fotógrafo informa também que na sua "última viagem à Europa, conseguiu aprender e aperfeiçoar-se de forma a ficar em estado de poder rivalizar com as casas mais afamadas do Brasil" (4). Depreende-se daí que, no intervalo que vai da sua chegada ao Brasil, por volta de 1868, até 1873, já havia voltado à Europa mais de urna vez (5).
Embora não exista registro da data da viagem, nem do tempo de permanência de Dietze na Alemanha, para "aperfeiçoar a sua arte" e, ao que tudo indica, em busca das últimas novidades, adquirindo lá equipamentos e material específico, ele parece ter permanecido na terra natal entre 1871 e 1872, em razão de não haver, nesse período, qualquer referência, por parte da imprensa capixaba, a sua atuação como fotógrafo. No entanto, a partir de 1873, o alemão volta a publicar propagandas nos jornais capixabas, nas quais informa, entre outras coisas, que ainda vive e trabalha profissionalmente como fotógrafo no Rio de Janeiro. Nesses anúncios, oferece, em Vitória, os seus préstimos aos clientes que possam pagar 5$000 ou 6$000 (cinco ou seis mil réis) a dúzia de retratos, em formato carte de visite, valor que aumentava muito, caso o freguês preferisse ter sua imagem reproduzida em maiores dimensões.


Dietze é também um dos pioneiros, no Estado, a empregar os processos do colódio e do albúmen, que lhe possibilitam elaborar retratos relativamente baratos e lhe facilitam o trabalho de paisagista. A preocupação de equipar seu gabinete fotográfico para colocá-lo à altura de seus mais famosos concorrentes, como cita nos anúncios, é uma forma de evitar que esse pequeno, mas seleto, público continuasse a viajar ao Rio de Janeiro para tirar retratos individuais ou da família, nas melhores casas do gênero, como pudemos constatar nos álbuns das mais ilustres e tradicionais famílias capixabas.
Alguns outros fotógrafos estabelecidos na capital do Império também começam, na mesma época, a se dirigir para o Espírito Santo, publicando anúncios nos jornais locais à procura de clientes. Circulavam por Vitória, vilas e fazendas do interior, elaborando retratos e vistas, que eram revelados nos respectivos estúdios, no Rio de Janeiro, e depois entregues ao retratado, num retorno próximo.
Num momento em que a capital do Império já dispunha de inúmeros estúdios de renomados retratistas, que disputavam entre si o interesse da burguesia pelos seus serviços, aventurar-se em regiões mais afastadas e menos desenvolvidas significava, para o profissional menos conhecido, obter não apenas maior espaço para comercializar seus retratos, mas também possibilidades de trabalhar por preços iguais, ou mesmo superiores, aqueles cobrados pelos nomes mais disputados no Rio de Janeiro e em outros estados. Talvez por isso Dietze enfatize, nesse e em outros anúncios publicitários, a sua atualização permanente na Europa, o que era atributo significativo para a manutenção de preços elevados, à altura de qualquer artista.
Tal itinerância profissional fez com que o alemão, à medida que via aumentar a sua clientela, passasse períodos cada vez mais longos no Espírito Santo, até decidir morar e instalar um estúdio fotográfico em Vitória, sem que para isso tivesse encerrado as atividades do estabelecimento fotográfico na capital do Império.
Em 1873, mesmo continuando a manter a sua Photographia Alemã no Rio de Janeiro, repete a sua itinerância pelo Espírito Santo, conforme anúncios publicitários na imprensa local, oferecendo seus serviços fotográficos na então Vila da Serra e em outras localidades da região de Vitória, e até do sul do Estado, entre elas Anchieta, Piúma, Cachoeiro de Itapemirim, Itabapoana e Itapemirim, conforme já citamos antes. Algumas vistas elaboradas por Dietze na Serra, são entretanto, anteriores a 1873. A contar pelas referências que insere no verso das mesmas, elas parecem ter sido captadas entre 1869 e 1870. Além de se constituírem, certamente, nas imagens mais antigas daquele município - o que as transforma em importantes documentos históricos - ainda revelam outra peculiaridade da produção dietzeana: o interesse pelas panorâmicas. No entanto, a falta de recursos técnicos não lhe permitiam registrar, nessa época, detalhes das nuvens (dificuldade maior dos fotógrafos pioneiro), nem um raio de visão de pelo menos 180 graus na mesma chapa. Isso o obrigava a reduzir o céu a uma faixa estreita, uma vez que permanecia branco e chapado. Para solucionar o segundo problema, recorria a mais de uma chapa, montando depois, minuciosamente, os vários cortes, como se constata numa fotografia denominada Vila da Serra, pertencente também à Coleção D. Thereza Christina, na qual se valeu da justaposição de duas chapas, reproduzida neste estudo.
Esta nota publicitária inserida no jornal O Espírito Santense indica que o fotógrafo só se estabelece difinitivamente em Vitória em 1875/6:
“Photographo-Ricardo Dietze; faz sciente que abriu seu estabelecimento photographico na Rua do General Osório n. 22, tirando retratos: 5$000 e 6$000 por dúzia e 3$000 e 4$000 por meia dúzia”. (6)
Salvo erro de imprensa, chama a atenção a frequente mudança do número da casa onde estava estabelecido o fotógrafo, entre 1873 (quando se instala em Vitória provisoriamente) e 1876. Mesmo que os anúncios indiquem sempre a mesma rua General Osório, o respectivo número aparece citado como 16, 21, 22, 36, 46, não necessariamente nesta ordem.
Vista da Vila da Serra (panorâmica). Autor: Albert Richard Dietze. Dimensões: 9x22,5 cm. Acervo: Coleção Teresa Cristina, Biblioteca Nacional. Reprografia: Setor de Iconografia da Biblioteca Nacional.
Considerando-se que, a partir de 1875, não existe mais nenhuma referência à Photografia Alemã, tudo indica que encerra as suas atividades no Rio de Janeiro, no final de 1874, para se fixar em Vitória. Embora reconhecido e desfrutando de uma seleta clientela, as longas ausências do estúdio do Rio de Janeiro, para se deslocar por todo o interior do Espírito Santo, certamente· afastam pouco a pouco a clientela carioca, o que o leva a optar por permanecer entre nós. O mais provável é que não tenha fechado, mas transferido a razão social do empreendimento que mantinha no Rio de Janeiro a algum conterrâneo. Embora sem qualquer comprovação, talvez se possa supor que teve como sucessor Carlos Hoenen. Isso porque, a partir daí, não nomeia mais de Photographia Alemã o estabelecimento que mantém em funcionamento em Vitória desde 1873, e a data coincide com a abertura do estúdio de Hoenen, na capital do Império, com aquela mesma denominação. Os anúncios publicados na imprensa da capital do Espírito Santo, a partir de 1875, citam simplesmente Photographla - Albert Richard Dietze. O mesmo ocorre a seguir em Santa Leopoldina, para onde Dietze se mudou no início de 1877, depois de publicar no jornal O Espírito Santense que ''vai se retirar desta capital, onde permanecerá apenas até 31 de dezembro", de 1876.
A partir de 1876, insere no verso das fotografias elaboradas em Cachoeiro de Santa Leopoldina, um carimbo com os dizeres abaixo:
Photographia - Albert Richard Dietze
Station Caja - Santa Leopoldina - Espírito Santo.
Esses mesmos dados também constavam, ao que tudo indica, das propagandas do estabelecimento fotográfico publicadas nos jornais que circulavam naquela mesma localidade, periódicos esses que não foram preservados. Depois de se deslocar por todo o território espírito­santense fotografando, identifica-se e revela maior predileção pela região montanhosa onde haviam sido criadas as ex-colônias de Santa Leopoldina, Santa Isabel, especialmente pela localidade denominada Suíça (assim batizada em virtude de ter sido formada, em 1854, só por imigrantes daquele país). No entanto, o motivo principal do fotógrafo ter revelado tanto interesse pela região (e até mesmo o que o teria trazido ao Brasil) foi, ao que tudo indica, o desejo de tornar­se proprietário de terras,  em razão das facilidades para pagamento e incentivo ao plantio oferecidos elo governo imperial. Tal anseio se concretiza, provavelmente em 1876 ou 1877, uma vez que declara, nos textos manuscritos que insere no verso das fotografias que elabora na época, nas ex­colônias, e envia a D. Pedro Il, ser proprietário "de meio lote de terras na Suissa, na foz do Rio das Farinha” das Farinhas" (7), afluente do Santa Maria, rio esse de fundamental importância para a vida e a economia cafeeira da região. A aspiração do proletariado de adquirir as próprias terras tinha um significado muito grande se considerarmos que os imigrantes germânicos não sonhavam com essa possibilidade, num país em que o sistema agrário mantinha-se ainda atrelado à antiga estrutura feudal.
A compra de um lote de terras cultiváveis lhe permitiria pôr em prática os conhecimentos adquiridos no curso de agronomia, no país de origem, mas era a fotografia que lhe garantia melhores condições de subsistência em dias tão dificeis, uma vez que mantém o estúdio naquela localidade em plena atividade. Numa época em que o café começa a dar resultados bastante satisfatórios, e quando a população da colônia de Santa Leopoldina saltava de cerca de 5.000 pessoas, em 1874, para mais de 8.000 habitantes, no ano de 1877, Dietze dispunha de um número razoável de compradores de seus retratos. Mas o incansável e dedicado pesquisador, da natureza e da vida das colônias, não se acomoda. Elabora também panoramas de Santa Leopoldina e grande quantidade de imagens, as quais põe à venda em algumas casas especializadas, através de anúncios que publica nos jornais da época. São ícones relativos ao relevo, à exuberância da flora, à paisagem natural e arquitetônica. Esta última, ora parece perfeitamente integrada ou fundida com a floresta do entorno, ora contrapõe-se a ela, ao ser inserida em clareiras abertas na selva, demarcando ou assinalando desmatamentos, queimadas e lavouras em formação. A vegetação nativa tanto é expressa por uma variedade de formas e espécies rasteiras, como composta de altivas árvores, cujos desenho das copas e movimento rebelde dos ramos, entram em confronto com as linhas precisas e bem definidas dos contornos das montanhas, que lhes servem de moldura ou de fundo. Registra também as igrejas, as pontes, os rios, o porto, além das atividades comerciais, agrícolas e sociais da região, tomando-se uma espécie de documentarista da vida dos colonos pomeranos e da natureza urbana e rural, dessa e de outras localidades do Estado.
Em razão de sua vasta formação cultural européia, por ser prussiano como a grande maioria dos colonos (8), e pela facilidade de se comunicar, uma vez que aprendeu, em curto espaço de tempo, a falar e a escrever perfeitamente a língua portuguesa, como se pode constatar nos textos escritos no verso das fotografias que enviou ao imperador D. Pedro II e à imperatriz Thereza Christina, Dietze toma-se uma espécie de líder, professor e orientador dos colonos.
A abnegação no trabalho e o apego à terra que o acolheu representavam não apenas a aspiração de garantir um futuro digno para a família, mas também a certeza de encontrar condições para que seus filhos crescessem livres e se sentissem felizes na região que o europeu escolheu para criá-los e educá-los, liberdade que acreditava não existir no país de origem, naquele momento. Do casamento, em 1873, com Frederica Cristina Henrietta Sacht, também alemã (cujos pais se chamavam Detlev e Emma Sacht) (9),  Albert Richard Dietze teve nove filhos:  Ana, Ricardo, Alberto, Maria, Gustavo, Otto, Carlota, Paulina e Emma. (10)
As diferenças culturais, a falta de recursos de toda a ordem, bem como a insatisfação de alguns conterrâneos, em razão do descumprimento de certas cláusulas dos contratos firmados entre o governo imperial e os colonos, não são motivos capazes de fazer o alemão revelar qualquer desânimo ou descontentamento. Mesmo mantendo uma vida modesta - apesar do trabalho árduo em diversas atividades e no estúdio - Dietze é um perseverante e humilde defensor da natureza e dos colonos. Mostra-se perfeitamente integrado àquela região espírito-santense, nos textos que escreve no verso das fotografias que envia ao casal imperial, de quem se tornou amigo e admirador, segundo depoimento de seu neto, Henrique Bucher. Homem determinado e rico em idéias e iniciativas, expressa, nitidamente, em alguns desses textos, a vontade de dedicar seu conhecimento em proveito dos imigrantes locais, na sua maioria seus conterrâneos. Em outros, evidencia uma visão romântica ou utópica, ao tentar pôr em prática projetos inusitados para a colônia e ao entrecruzar o fascínio do estrangeiro pela opulência da natureza e a retórica. do trabalho É o que se depreende deste fragmento do manuscrito inserido no verso de uma das fotografias enviadas por Dietze ao imperador:
Desde 1869 mantendo-me nesta província e há aproximadamente um ano e meio estabeleci-me na Colônia Santa Leopoldina, possuo meio lote de terras na Suíça, na foz do Rio Farinha em Santa Maria. O local é o mais apropriado para o estabelecimento de indústrias e seria o mais ardente desejo do abaixo assinado de chamar a vida tais projetos, se não lhe faltasse os meios para tal. Eu acalento a intenção de fundar um Instituto de Agricultura, bem corno uma Escola Normal, porque meus conhecimentos adquiridos numa escola de agricultura na Alemanha e os conhecimentos há muitos anos reunidos na agronomia, fizeram nascer em mim o desejo muito natural de ensinar a outros, para que muitos ainda possam usufruir disto. (...). (11)
É admirável a obstinação do alemão, acalentando o sonho de criar um Instituto de Agricultura e uma Escola Normal, objetivando solucionar as necessidades mais prementes dos imigrantes que se estabeleceram em Santa Leopoldina: a sobrevivência e a educação. Nesse sentido, a instalação do primeiro asseguraria a todos os agricultores receber ensinamentos de como obter maior rentabilidade de produção, através do desenvolvimento de técnicas agrícolas para plantio e cultivo de gêneros, de aperfeiçoamento dos implementos e mecanização (em alguns textos revela-se perplexo com o primitivismo dos métodos artesanais adotados pelos colonos), nos cuidados com o solo, no aproveitamento dos recursos naturais, na criação de animais etc.; enquanto que o segundo estabelecimento de ensino formaria professores capazes de alfabetizar (em português e alemão) e transmitir maior grau de instrução aos filhos dos humildes imigrantes, do que aquele que recebiam em casa dos pais incultos e conhecedores apenas de uma agricultura rudimentar e manual. Dessa maneira, as crianças receberiam os conhecimentos básicos, necessários para a sua formação intelectual e cultural.


Maria Dietze (2 da esquerda para a direita), Carlota Dietze (1 a direita) e
Outras moças não identificadas.
Autor: A. R. Dietze (carimbo no verso: Photografia Albert Dietze,
Station Caja, santa Leopoldina).
Dimensões: 10,5x12,7 cm; 11,4x14 cm (suporte).
Acervo: Liska Bucher. 
A vontade de ajudar os conterrâneos é, para Dietze, quase uma missão. Suplanta contrariedades e vicissitudes e não parece menos significativa que o desejo de enriquecer na nova pátria, se considerarmos que desenvolveu uma infinidade de atividades, muitas das quais sem receber qualquer tipo de remuneração. Talvez por essa razão tenha aceitado a nomeação de "membro do corpo consular estrangeiro" (12),  função honorária que exerceu por muitos anos ou, como sugerem alguns documentos, até o final da vida. E se o teor desses manuscritos não descarta alguma intenção de impressionar o imperador, essa dedicação e vontade empreendedora também não afastam a possibililade de ser esta  a maneira de agradecer a D. Pedro II a oportunidade de concretizar o sonho de tornar-se dono de terras na nova pátria.
A contar pela informação de Maurício Lamberg - viajante e fotógrafo alemão - de que Dietze dedicava grande parte de seu tempo  preocupado em melhorar as condições de vida dos colonos, ensinando-lhes até mesmo a ler e escrever, hábitos de higiene e a reivindicar direitos, a sua liderança, formação cultural e posição social destacada na comunidade, em relação aos colonos, também lhe trouxeram  inimizades. Lamberg registrou assim o contato de ambos na "Suissa" (sic), em 1887:
(...) um domingo, visitei o agente consular que aqui reside, o Sr. Dietze, que faz, não há dúvida, vários negócios, mas que apesar disso ainda não conseguiu fazer fortuna. Embora tenha muitas inimizades, encontrei nele um homem amável e intelligente, que accredito muito, está acima dos que o cercam. (13)

A opção por viver numa das regiões brasileiras menos desenvolvidas, até então, e muito próxima, portanto, de seu estágio primitivo, transformava-se, ao mesmo tempo, num desafio de vencer as dificuldades e numa excentricidade, pois significava tomar contato com o desconhecido e com o exótico. Povoada por grupos de nativos que despertavam a atenção dos "civilizados" pela singularidade de seus hábitos e por sua tipologia, os índios foram flagrados inúmeras vezes pela objetiva do alemão. Foi um dos primeiros fotógrafos a elaborar verdadeiros documentários sobre os índios botocudos, que, na época, já não atemorizavam os colonizadores pela ferocidade e bravura com que alguns historiadores os situam ao enfrentarem, anteriormente, os homens brancos. Trafegando em sentido inverso à da maioria de seus colegas de profissão, que se dedicaram prioritariamente ao retrato, Albert R. Dietze produziu um número muito grande de fotografias de paisagens naturais e arquitetônicas, com destaque para as igrejas, residências e propriedades agrícolas dos imigrantes germânicos, vistas de ruas, cachoeiras, povoados. Registrou também espécies da vegetação local, que se colocam como fragmentos de uma contemplação minuciosa. Remetem a detalhes que fisgam o olhar do pesquisador-naturalista em meio ao aparente "caos da floresta". A produção desse gênero fotográfico parece ter sido superior à de retratos, mesmo que fossem estes os que asseguravam, naquele tempo, mais dividendos aos seus autores. Se parece evidente que os imigrantes agricultores não detinham recursos financeiros suficientes para pagar pelos retratos, por outro lado, talvez possamos afirmar que a vocação artística e o espírito científico do alemão prevaleciam sobre o de simples comerciante de imagens. Seus registros fotográficos acabaram gerando um repertório precioso de um Espírito Santo que não existe mais. Na verdade, muitas dessas paisagens não são apenas revelações da paixão e da identificação do fotógrafo pelos encantos naturais de Santa Leopoldina e outras localidades do Espírito Santo, mas são, acima de tudo, a expressão da sensibilidade do artista, seja na singularidade na escolha dos ângulos, nos enquadramentos, nos cortes, nos contrastes, ou mesmo na maneira como desvela a superabundância da natureza.

Determinado, inteligente, culto, sensível e empreendedor versátil, Albert era um apaixonado pelas artes em geral, o que certamente repercutiu na qualidade indiscutível de suas fotografias, sua principal ocupação e fonte de sobrevivência, durante muitos anos. Em razão do prolongado e permanente contato com inúmeros produtos químicos usados no processamento das chapas, bem como na revelação e fixação das imagens fotográficas, acabou perdendo o olfato. Dietze trouxe também para Vitória uma atividade precursora do cinema, organizando sessões diárias de projeção de vistas e retratos de personalidades européias, com um aparelho denominado por ele de Viantoscopo. Os espetáculos eram improvisados na sala da sua própria casa, mediante cobrança de ingresso. Dietze oferecia assim, ao público da pacata capital, oportunidade de realizar uma viagem imaginária ao redor do mundo, sem que para isso precisasse sair do lugar (14).
O interesse pelo dinamismo das formas e o ritmo de transformação da natureza e da vida é assinalado também nos ícones fotográficos produzidos por Dietze, seja na apreensão do movimento dos ramos das árvores agitados pelo vento, seja ao registrar as diferentes etapas do desmatamento, preparo do solo, cultivo, nas fases de crescimento, florescimento, frutificação e colheita de produtos agrícolas, com ênfase no café. Processo análogo empreendeu ao tratar de temas como as atividades religiosas e sociais dos imigrantes, uma vez que elaborou imagens em seqüência, como nos revelam as vinte e quatro fotografias e os respectivos títulos da série de imagens enviadas à imperatriz Thereza Christina. Tal seqüência remete a um tempo cinemático ou a uma relação passado-presente-futuro, como se constata nesse elenco fotográfico: Casas para recepção de imigrantes; Vista da mata virgem; Colonos derrubando a mata; Uma derrubada; Derrubada em fogo; Derrubada depois do fogo; Primeira plantação de diversos produtos; Segunda plantação, café; Uma roça velha de café; Galho de café em flor; Um terreiro de café para secar; Uma manjola para socar café; Uma tropa transportando café; Vista de uma casa provisória de um colono novo; Vista da casa provisória e da casa definitiva de um colono; Vista de uma casa definitiva de um colono há quatro anos no Brasil; Vista de uma casa definitiva de um colono com 12 anos no Brasil; Vista da igreja católica; Colonos a cavalo para ir ou vir a missa (sic); Vista da igreja evangélica; Um pagamento de salário aos colonos na casa da Directoria; Vista da ponte sobre o rio Santa Maria no Porto do Caxoeiro (sic); Vista do Porto do Caxoeiro; Sede da Colônia.
Ao traçar esse roteiro, Dietze revela, acima de tudo, o seu fascínio e uma quase reverência à terra que o acolheu, o que  se confronta com aquilo que escreveram alguns viajantes e historiadores, que ressaltam a vida dura  na lavoura e as precárias condições de sobrevivência dos imigrantes alemães no Espírito Santo. A materialização do sucesso dos colonos nas terras capixabas concretiza­ se no registro das diferentes versões das casas construídas pelos imigrantes, da prodigalidade da natureza, e na vontade de transformar essa iconografia em publicidade. Esta última não se resumia num texto escrito, mas na fusão texto-imagem ou texto e contexto. Ao sobrepor relato verbal e registro visual, sintetizados num álbum fotográfico, Dietze pontua aspectos significativos para a construção de uma identidade visual.
"que representasse, claramente sobre a cultivação do café, desde sua plantação no solo virginal, até a colheita acabada e preparos completos e promptos para fins convenientes (...), sobre a vinda dos· colonos estrangeiros e o desenvolvimento colonial neste paiz, especialmente na Província do Espírito Santo".
As paisagens rurais, urbanas e humanas, produzidas pelo alemão, subvertem ou ultrapassam a finalidade meramente propagandística a que se propunha submetê-las. Mostram certos atributos na composição das cenas familiares, os hábitos dos imigrantes e a interferência do homem no meio, a peculiaridade das construções, o traçado labiríntico das ruas, o bailado das casas comprimindo-se umas contra as outras, com seus telhados-chapéus quase se tocando num cumprimento amistoso, o balanço-acalanto das redes dos cipós-barba com sua fragilidade desafiando o vento: índices de uma sensibilidade à flor da pele, que, mais do que registrar a vida do europeu no novo meio, parecem ser capazes de desvelar como se processou a integração de fotógrafo e fotografados à "terra prometida".
Muitas das fotografias elaboradas por Albert Richard Dietze na região de Santa Leopoldina mostram as famílias dos imigrantes em frente às casas, com os seus componentes distribuídos na varanda, nas janelas ou sentados e em pé em frente à residência: as mulheres com os filhos mais novos no colo, as meninas com singelos ramos de flores nas mãos e os homens tocando concertina. Junto à família não raramente aparecem os animais domésticos, como cães, cabras, galinhas, patos, cavalos, vacas... Em outros registros fotográficos, o grupo familiar é posicionado em frente à sua plantação de café, com destaque para as plantas em flor ou com frutos, provavelmente para serem enviados aos parentes que ficaram na Europa, para quem essa vegetação era desconhecida.
Mas, se essas imagens parecem revelar o fascínio pela terra, por parte de algumas famílias, para outras, elas são também uma forma de atenuar as dificuldades e a ausência da pátria-mãe, perpetuando na fotografia apenas o lado positivo, a concretização do sonho de se tornar dono de um pedaço de solo cultivável, de balizar a identidade coma terra que os acolheu. O progresso econômico é expresso pela melhoria nas dimensões e na aparência das casas, pela fartura de alimentos (carne, leite, frutas, entre outros), pelas roupas elegantes, como vestidos longos enfeitados, ternos, jóias, que exibem nos retratos, mesmo que muitas vezes os pés de adultos e crianças apareçam descalços. Essa ordem cinemática parece ainda mais evidente na maneira como o fotógrafo vai detalhando, na sua reportagem, certas peculiaridades, entre elas a nomeação das residências dos imigrantes de "casas provisórias" - típicas dos colonos recém chegados da Europa - e "casas definitivas" construídas pelos colonos mais antigos. Dessa maneira, os seus ícones fotográficos sacralizam, visualmente, a noção de prosperidade. As primeiras casas são frágeis, rústicas, de pequenas proporções e pé direito baixo. São construídas de troncos de árvores, retiradas da própria gleba de terra recebida pelo colono, ou de pau-a-pique Essas moradias são cobertas de palha ou de zinco e possuem janelas de chapas de madeira, sem vidraças e sem pintura. As construções posteriores (que substituem as antigas taperas), também chamadas de casas definitivas, são mais harmoniosas, sólidas, arejadas e bem-cuidadas. Edificadas em alvenaria, são de cor clara e possuem amplos espaços, pé direito alto, varandas e alpendres, janelas envidraçadas, pisos de madeira reluzente. São rodeadas de jardim, pomar, horta, além do chiqueiro e do galinheiro para animais domésticos e galpões para armazenar café e milho. Essas últimas habitações diferem, portanto, daquelas utilizadas pela maioria da população rural brasileira.
Todavia, mesmo que visualmente esse cenário convença pelos seus atributos fidedignos, essa série de imagens que se vai desenrolando, numa sequência temporal passado-presente­ futuro, tem também algo de ilusório e irreal, pois escamoteia (ou não permite fixar?) os atributos de natureza psicológica ou emocional que perpassam a vida dos colonos, em sua adaptação ao ambiente desconhecido e inóspito, mas que, por força das circunstâncias, foram obrigados a adotar.


Frederica Cristina Henrietta Sacht e Alberto Richard Dietze, com os filhos.
Autor: Albert Richard Dietze.
Data: cerca de 1889.
Dimensões: 19,5x23,5 cm.
Acervo e reprografia: Henrique Bucher.
Muito já se falou dos problemas enfrentados pelos imigrantes, em especial os germânicos, tanto por questões culturais e religiosas, dificuldade de comunicação, doenças tropicais e moléstias causadas por falta de saneamento básico em algumas regiões do Brasil, solos nem sempre produtivos ou muito acidentados, má gestão das administrações das colônias, acarretando desvio do dinheiro destinado pelo governo à ajuda dos colonos, fraudes na demarcação dos lotes dos assentamentos, entre outros. Entretanto, mesmo que essa problemática tenha gerado dificuldades para a sobrevivência de muitos colonos e precauções, restrições, culminando com a proibição à vinda dos imigrantes para regiões pouco desenvolvidas e com hábitos e clima muito diferentes daqueles do país de origem dos colonos, a situação da Alemanha e de outros países da Europa, na época, provocou, ainda assim, grande concorrência, em especial de lavradores assalariados, para o Brasil. A promessa de terras produtivas e a esperança de obter áreas próprias e de dimensões muito superiores às dos agricultores europeus, e a expectativa de obter bons lucros com o cultivo, principalmente, do café, superava todos os sacrifícios.
É o que deixa transparecer tanto a listagem das estampas fotográficas como o teor do texto, que seria inserido no folheto publicitário que Dietze se propunha a elaborar. O discurso do alemão não tem nenhum toque pessimista ou de desencanto, como ocorre, por exemplo, no de Tschudi, que descreve, em 1860, a situação dos imigrantes como pouco favorável (15). O entusiasmo e o tom celebrativo da retórica dietzeana parecem indicar que, na década seguinte, a situação das colônias capixabas havia melhorado muito, progresso que é confirmado também pelo relatório do cônsul geral da Prússia, Haupt, publicado em 1867 (16). Mas esse otimismo parece ter a intenção de minorar, ou mesmo escamotear as situações adversas, que, afinal, pouco representam diante da aspiração dos colonos de enriquecer e ascender  socialmente:
Os brasileiros fugiram diante dos estrangeiros que chegaram. Os mantimentos enviados pelo presidente de Vitória foram consumidos durante a viagem pelos emissários. Um entendimento com os povos primitivos era impossível e só através de sinais podia acontecer alguma comunicação. Não havia nem caminhos, nem acolhidas, nem casas, nem sítio – tudo era selva com plantas trepadeiras e matos intranponíveis. Na maior parte das vezes o calor era insuportável. A picada das cobras venenosas era temida e os alimentos não eram compatíveis, muitas vezes, com o estômago alemão. Com poucos meios e mãos o difícil labor da preparação para o lavradio da terra havia de ser iniciado e levado a termo; hoje cultiva-se com sucesso o café e a árvore de rícino, a cana de açúcar e o algodão, tabaco, milho, feijão, banana, batatas doces e europeias, mandioca, cará, vária leguminosas, etc. (17)
Como já foi citado, mais que para os retratos individuais, que certamente não encontravam imigrantes - pelo menos nos primeiros anos em que o fotografo se estabeleceu na ex-colônia de Santa Leopoldina - com condições financeiras de darem-se ao luxo de adquirir seus ícones individuais, Dietze acabaria por direcionar o enfoque de sua produção para os grupos familiares e para o gênero paisagístico. Mas não são menos significativos os documentários, que procuram registrar a faina diária na lavoura e colheita do café e de outros produtos cultivados pelos imigrantes, certamente já com o intuito de elaborar álbuns, conforme se depreende nos textos que acompanham a iconografia enviada pelo fotógrafo alemão ao imperador, com o objetivo de produzir material publicitário para estimular a vinda de mais imigrantes germânicos para as colônias espírito-santenses (18). É o que informa nos textos escritos ora em português ora em alemão, inseridos no verso do cartão-suporte das fotografias que envia ao imperador e à esposa deste, assinados e datados desde 1869 a 1878, nos quais Dietze pedia auxílio financeiro para publicar A Colônia de Santa Leopoldina no Império do Brasil, Província do Espírito Santo, folheto que deveria ser acompanhado de reproduções de suas fotos de paisagens, residências dos imigrantes e de lavouras e animais. Essa produção destinava-se, segundo o próprio autor, a fazer propaganda do Brasil na Europa, estimulando a imigração espontânea para as ex-colônias de Santa Leopoldina, Rio Novo e Santa Isabel (atual Domingos Martins).
Apelos de ajuda financeira semelhantes ao de Dietze foram feitos por muitos outros fotógrafos ao imperador Pedro II conhecido por seu interesse pessoal pela fotografia e por ser amante das artes e das ciências. Esses pedidos se justificam em razão dos altos custos com a aquisição de materiais e equipamentos e pelas dificuldades enfrentadas pelos artistas que se dedicavam à realização desse gênero de imagens, tendo de permanecer meses embrenhados na mata virgem, expostos a perigos de animais e índios e a viagens que muitas vezes causavam prejuízos, como a quebra das chapas de vidro, avarias nos equipamentos e perda dos produtos químicos e papéis, ao atravessar rios e pântanos ou em razão de chuvas torrenciais ou da exposição à luz solar. O transporte de uma imensa parafernália de equipamentos, que incluía pelo menos uma máquina fotográfica ainda muito pesada, tripés de ferro, tenda para montar a câmara escura em plena selva, banheiras para revelar e fixar as imagens, placas de vidro de grandes proporções, frascos de drogas químicas, papéis e outros instrumentos, além de roupas, alimentos e água, panelas (e às vezes até fogareiros) para preparar os alimentos e as poções durante a aventura de trabalhar e processar as imagens em locais ermos e de difícil acesso, exigia muita coragem, abnegação e perseverança por parte de fotógrafos como Dietze. Além disso, um simples descuido ou acidente podia pôr a perder a produção de dias inteiros de penoso trabalho, subindo e descendo morros e montanhas para descortinar a melhor vista, empecilhos que se agravavam ainda mais em razão das viagens que se viam obrigados a fazer, deslocando-se por caminhos íngremes e trilhas abertas precariamente na mata densa ou em locais alagados pelas chuvas, praticamente intransitáveis aos homens e aos animais. Além dos sacrifícios incalculáveis que isso impunha, ainda exigia a contratação e o pagamento de auxiliares para o transporte do equipamento, dos víveres e para orientação do fotógrafo nas matas, o que obrigava esses profissionais a recorrerem muitas vezes à ajuda do imperador.
Essas dificuldades parecem não abater Albert Dietze, uma vez que os textos que envia a D. Pedro II e à imperatriz não são pontuados por nenhum tom nostálgico ou melancólico. Situam-se na confluência entre o devaneio e o entusiasmo, acrescido de um devotado amor ao Brasil e da crença no futuro promissor dos colonos na "terra prometida":

Hoje que o Brasil desassombrado procura seguir o caminho fecundo dos progressos materiais; hoje que o journalismo e homens eminentes se esforção para tomar conhecido do mundo a importante colônia de Santa Leopoldina, releve-se que eu ofereça o meu pequeno obolo (sic) para o festim dos melhoramentos em que se acha o paiz, e que preste a esta terra, digna de melhor sorte o meu humilde contingente". (19)
O projeto desse folheto era assim descrito pelo fotógrafo alemão à esposa de D. Pedro II, em 1878:
Trata-se de uma publicação séria, assentada sobre bases sólidas, que será tanto quanto puder alcançar o meu esforço completa e irreprehensível. As estampas serão photographicas de meia chapa, produzidas de mão própria nos lugares desejados, de modo que por ellas e a parte escrita obtenha a Europa conhecimento exacto da cultivação do café, do progresso da colonisação (sic) brasileira. Não comprometto-me a dar uma produção maravilhosa mas sim fiel, interessante e natural e abstenho-me de comparar os meus trabalhos com os de outrem. (20)

O fotógrafo, por não obter resposta positiva, acaba dirigindo ao imperador e a "Sua Alteza Sereníssima", outros requerimentos, contendo sempre o mesmo pedido manuscrito no verso das fotografias, apresentando de um para outro pequenas variações, como se constata naquela denominada Porto de Caxoeiro (sic), visto da Estrada de Santa Thereza, datada de 1877. Albert Richard Dietze assim apresenta as imagens produzidas por ele: 
Visto não existir até hoje um álbum fotográfico de amostras que representassem claramente o cultivo do café, desde o seu plantio no solo original até à colheita acabada, os preparas completos e prontos para fins convenientes, bem assim sobre a vida dos colonos estrangeiros e o desenvolvimento colonial neste país, especialmente na Província do Espírito Santo, Vosso humilde suplicante confeccionou um álbum desse gênero e, simultaneamente, um folheto em alemão (...), que compreende, além da coleção de 24 estampas fotográficas, mais outras explicações exatas principalmente sobre o cultivo do café, etc. 
Nesse mesmo texto, justifica o objetivo do folheto que pretende publicar:
Se fosse como deveras é a imprensa considerada uma das maiores e influentes potências do Universo afim de atrair a atenção do mundo para objetivos importantes d eprogresso e, sendo de grande interesse para os povos europeus conhecer as riquezas da natureza brasileira, creio que, meu folheto serviria para fazer propaganda na Europa e daria fortíssimo impulso à emigração espontânea para o Brasil, se fosse o impresso em diversas línguas e em número suficiente. Não tendo sido pouco o meu trabalho e não dispondo de meios pecuniários para realizar o meu projeto (...), venho oferecera minha obra declarada no prospecto incluso (...) pelo preço que V. A. I. houver por bem demandar ajustar. Pai de numerosa família apelo à benignidade do coração que caracteriza a pessoa da Sereníssima Senhora e imploro deferimento da minha submissa petição. 
No entanto, já havia feito solicitação de apoio financeiro à família imperial, ao que parece, pouco depois de sua chegada ao Espírito Santo, em 1869, segundo o teor do requerimento enviado a "Sua Alteza Todo Poderoso, Misericordioso Imperador e Senhor", alegando falta de numerário para produzir uma coleção fotográfica. Renovava então o pedido feito naquela época, agora à princesa Isabel, conforme cita e transcreve no trecho do requerimento enviado. Nesse pedido, Dietze mostra-se bem-informado, ao referir-se à viagem que D. Pedro II fez ao Espírito Santo, quando esteve inclusive em visita à colônia de Santa Leopoldina, em 29 de fevereiro de 1860, onde foi recebido pelo fazendeiro Domingos José de Freitas e pelo então diretor daquela colônia, Tenente Nazaré. Ali o Imperador conversou em alemão com os imigrantes e entusiasmou-se com as lavouras de café, afirmando na oportunidade que "da lavoura tem devir a nossa grandeza futura, o café temde representar, indubitavelmente, o papel mais brilhante nesse drama de prosperidade". (21)
Sua majestade, corno o mais sublime protetor das Ciências e das Artes, ousa o abaixo assinado de expor-lhe submissamente um pedido, cuja misericordiosa concessão me encheria com o mais profundo agradecimento. O conhecimento do fato de que Sua Majestade tenha visitado a província do Espírito Santo, me trouxe a idéia de preparar uma coleção de amostras fotográficas com o maior cuidado e esforço possível a mim, e fazer delas cópias de modo que correspondam às exigências da natureza e ao nosso tempo, bem como às exigências que atualmente são feitas à arte. Na medida em que ouso dedicar e oferecer-lhe submissamente 28 folhas de minha coleção, acrescento-lhe o mais subalterno pedido:
'Misericordiosamente determinar, que meu requerimento dirigido à Sua Alteza Real a Senhora Princesa Herdeira da Coroa em 30 de junho do ano passado receba a graça de Sua consideração, para que eu possa através da ajuda de alguns recursos financeiros ser colocado na possibilidade de realizar meu principal desejo, de retratar numa coleção as mais lindas  a Sua Majestade na mais profunda devoção'.
A benevolente concessão deste pedido ao mesmo tempo me sentia uma prova que Sua Majestade não considera sem valor a minha fraca ambição ao aperfeiçoamento de minha arte e me entusiamaria ao contínuo esforço para alcançar sempre mais progressos. 
A suposição de que este pedido de ajuda à família imperial seja de 1869, também se baseia no fato de que Dietze não faz nenhuma menção a sua família, uma vez que se casa apenas em 1873, enquanto que na correspondência enviada posteriormente, afirma sempre "ser pai de numerosa prole", como vimos antes. No entanto, torna-se difícil detectar hoje, num total de 53 fotografias enviadas por Dietze ao casal imperial, quais aquelas que remeteu com o primeiro pedido de ajuda e quais aquelas que enviou depois, para ilustrar o impresso publicitário, que pretendia divulgar na Alemanha com o intuito de atrair novos colonos. Isso porque nem todas as imagens são datadas - e tanto um conjunto como outro possuem fotografias catalogadas como sendo de 1869 - o que levanta a hipótese de que a série mais antiga seja aquela constituída pelos trabalhos de menores dimensões.
Tal hipótese parece ter respaldo no fato de que o autor inseriu somente atrás das fotografias maiores, pertencentes à coleção citada, outras informações detalhadas sobre a vida e a atividade agrícola dos colonos, mas também sobre a paisagem natural, que acabariam por se tornar importantes ícones da história da visualidade arquitetônica, rural e social do Espírito Santo do século XIX. Manifesta nesses relatos, além de devotado amor à natureza indomada, preocupação em preservá-la, descrevendo-a sempre com um toque de poesia. Curiosamente, num desses textos, o fotógrafo confirma a sua vocação preservadora ao afirmar que as florestas locais "raramente foram tocadas pelo pé humano" e não pela mão destruidora. No entanto, logo depois contradiz essa posição utópica ao observar que o tecido vegetal intrincado das matas espírito-santenses lhe sugere ser uma forma de resistência contra a mão implacável do homem, ao escrever no verso da fotografia denominada O Rio Santa Maria visto da Ponte do Funil:
(...). A floresta, que ainda encobre montanhas e vales, é quase totalmente selva densa, que raramente foi tocada pelo pé humano. Ali existem enormes Amarelos e pináceas, etc. Plantas trepadeiras de fantástica força e beleza: parasitas, espinheiros e cipós com magníficas flores  e florescências. Com encantamento olham-se os maravilhosos agrupamentos de árvores, as quais se apertam umas contra as outras como se fosse desejo delas de resistir contra a mão do homem, esta que não encontra descanso em seu eterno avançar na mata. E, como se fosse sério, avançam as árvores com seus grandes braços para lá e para cá e se trançam com as plantas trepadeiras, formando imensas redes, que devem uni-las para sempre, ao mesmo tempo balançam suas cabeças coroadas e a araponga anuncia de hora em hora, em gritos que penetram a alma, as decisões tomadas por estes 'habitantes primitivos'. Floresta digna de lamentos - você não resistirá ao machado que cada ano invade mais profundamente seu santuário e clareia suas fileiras; Seus troncos deverão cair e as plantas sarmentosas e os cipós abraçar-te-ão  num gesto  amoroso(...). (22)
No mesmo texto, revela todo o seu devotamento à paisagem rural que, apesar das dificuldades e das agruras do trabalho, ainda lhe parece mais fascinante que a monótona vida urbana:
Porto do Cachoeiro é praça do mercado da Colônia e é menos interessante do que suas redondezas, através das quais seguem os diferentes caminhos até à Colônia e dos quais se pode usufruir a cada passo uma paisagem diferente. Consiste em grande encanto da selva, que não forma uma imagem estática, cansando assim a vista e resultando cm consequente apatia, mas sim que as formações das árvores estejam com grande mutação e permitir, ora vislumbrar ângulos sombrios, ora graciosos. Pode-se dizer que a janela da natureza permite que suas decorações se transformem e esta transformação é uma verdadeira delícia para os olhos espírito e mente. O coração como que se abre, quando o olhar vagueia pelo horizonte sobre o verde e as montanhas cobertas de florestas, e, principalmente, os estreitos entre as montanhas onde o Santa Maria salta, pulula e espuma, são incansáveis em suas variações.
Exacerba ainda mais na linguagem poética ao descrever os serpenteios e o jogo de esconde-esconde do Rio Santa Maria, que desempenhou importante papel para a história da economia e para o desenvolvimento de Santa Leopoldina, uma vez que era por ele que subiam os imigrantes, que se fazia o escoamento da produção agrícola da região (em especial do café) e chegavam os produtos estrangeiros (louças, ferragens, bebidas, brinquedos...) para serem vendidos pelas casas comerciais. Dietze observa, escuta e traduz com grande fluência de linguagem a sonoridade do rio, a força avassaladora de suas corredeiras, capaz de vencer e rasgar pedras, de solapar tudo o que encontra pela frente, de desafiar, como um gigante invencível, montanhas e vales:
A mais ou menos 20 minutos de Porto de Cachoeiro uma segunda ponte passa por sobre o rio, isto num local que recebe o nome de Funil. A água some da superfície e continua seu curso debaixo de grandes pedras, até que surge depois de talvez 150 passos novamente à luz do dia. Exatamente sobre o leito do rio estão fincadas as estacas da ponte e esta foi aí mesmo construída. Porém, durante as grandes inundações a água não consegue infiltrar-se com a rapidez suficiente na abertura existente e represa-se, encobrindo as gigantescas pedras, pelo que se forma uma cachoeira bastante interessante. Depois do funil o vale alarga-se um pouco mais e chega-se às maiores altitudes. O rio continua a correr lá embaixo e retumba do abismo que o deseja aprisionar, alto e furioso. Rochedos com grandes fendas, massas rochosas deslocadas pelo tempo, por vezes do tamanho de uma casa, surgem com punhos gigantescos do fundo, jogados caoticamente uns sobre os outros. (23)
E mesmo que o autor enfatize, na correspondência que manda ao Imperador e à esposa, o caráter documental das imagens que lhes enviava, o que se observa são angulações e escolhas repletas de poesia, a exemplo de Rio Santa Maria visto da Ponte do Funil, já citada. Nesta paisagem, Dietze faz entrar pela esquerda do campo fotográfico parte de uma montanha, que atinge quase que o canto superior do papel. Esse enquadramento dá origem a uma diagonal que, partindo desse canto superior esquerdo, é interrompida pelo leito encachocirado do rio, correndo entre blocos de pedra. No entanto, a nossa visão tende a prolongar a linha, que terminaria próximo ao canto inferior direito, mantendo proporção equivalente à distância que separa o início da diagonal, da altura total do campo fotográfico. A montanha, por sua vez, parece ter sido espetada ortogonalmente pelo tronco de uma árvore, do qual saem uns poucos ramos retorcidos e sem folhas, que se lançam suplicantemente em direção ao rio. Neles balançam, embalados pelo vento, teias de ''barba-de-velho", muito freqüentes na região serrana espírito-santense. O movimento da teia, de grande leveza e evanescência, projeta as formas no espaço atmosférico, como manchas, numa trajetória contrária à dos planos das montanhas do fundo, que perdem o seu detalhamento e angulosidade, para desenharem a sua languidez no infinito. A composição, o desenho das formas e o equilíbrio entre as gradações de tons, numa escala que vai do branco ao preto, passando por várias nuanças de cinza e efeitos de texturas, aproximam esta fotografia da plasticidade da pintura.


Ensaio de músicos da família de Albert Richard Dietze.
Autor: Albert Richar Dietze. Data: Cerca de 1892.
Dimensões: 15,2x23,7 cm.
Acervo e reprografia: Henrique

Nesses textos, o fotógrafo revela-se analogamente deslumbrado com os afluentes do Santa Maria, com as montanhas e o clima, presenças constantes tanto na iconografia dietzeana, como na análise poética, nos textos que inseriu atrás das fotografias enviadas ao imperador, a exemplo do que escreve naquela que tem o título de Pinheiro brasileiro:

Cada vez se tornam mais altas as montanhas, mais profundos os abismos, o rumorejo das águas montanhosas aumenta e o brado da primeira cachoeira, pelos ribeirinhos do Santa Maria, chamado de Fumaça, se faz ouvir. O ar atinge cada vez mais aquele caráter puro e fresco do clima das montanhas, um ou outro tronco jogado nas profundezas, permite-nos vislumbrar a força das tempestades, e algum trecho de caminho caído faz imaginar a tempestuosidade das chuvas.
O mais surpreendente na iniciativa de Dietze é a sua estratégia de conectar texto­imagem. As imagens por si só não traduziriam certamente a subjetividade do devaneio, da identificação, do deslumbramento, do delírio que o texto-poesia - que inseriu no dorso de cada fotografia - é capaz de revelar. Por outro lado, não lhe pareciam bastar a revelação e os depoimentos inflamados dos conterrâneos, atestando a sua felicidade na nova terra, era preciso o testemunho fidedigno do registro fotográfico para dar credibilidade ao discurso.
Muitos outros aspectos poderiam ainda ser analisados na produção dietzeana, se considerarmos, por exemplo, que, ao mostrar numa fotografia a "igreja católica" e a "igreja evangélica", lado a lado num mesmo contexto, o autor traduz a permissividade e a tolerância do governo brasileiro aos diferentes credos. O fotógrafo alemão é capaz de perceber, no século XIX, aquilo que vários teóricos constatariam depois: que no Brasil, a convivência entre os diferentes credos e o sincretismo religioso ocorreu sem traumas. Essa iconografia revela também que as antigas hostilidades entre os católicos de Viana (24) e os protestantes leopoldinenses não se repetem no cenário mais recente da então colônia de Santa Leopoldina. Mas as imagens dietzeanas vão além: não desvinculam o sonho individual do da história social daquela colônia Nos textos que escreve ao imperador, ele associa coragem e determinação na busca de soluções para afastar o inimigo mais temido, que de chama de "animalejos nocivos", como cobras e, provavelmente, os mosquitos e microorganismos transmissores da malária, da febre amarela, do tifo, entre outros males, que provocavam a morte de muita gente, especialmente nos primeiros anos de formação da colônia. Nem isso é motivo de preocupação ou de desânimo, do ponto de vista do fotógrafo, ao explicar a D. Pedro II, como seria a estrutura do folheto publicitário, que se propunha a publicar na Alemanha, com o objetivo de atrair mais imigrantes germânicos para o Espírito Santo:
1.      A colonia de Sta. Leopoldina - fundação e actual estado.
2.      Explicação sobre o modo de roçar e a cultura e colheita dos mais importantes productos a saber: café, mandioca, milho, feijão, yambatatas etc. etc.
3.      Discripção de alguns animalejos nocivos que se achão frequentes na colonia e as melhoras preservativas contra eles.
4.      Do clima e das circunstâncias sanitárias da colonia.
5.      Declarações escriptas sobre a prosperidade e felicidade dos colonos, servindo de documentos de recomendação.
A data da correspondência, num momento em que o Império vem enfrentando momentos de pressão, hostilidade e descontentamento, mostra que Dietze não desiste de seu intento.
Embora não haja registro de resposta do casal imperial às solicitações do alemão, é provável que não tenha sido atendido, uma vez que o tal material publicitário parece que não chegou a ser elaborado. Além dessa intensa atividade, em algumas propagandas de seu empreendimento fotográfico, Dietze informa que se dedica também ao conserto e à afinação de pianos, à música e ao desenho, pondo em prática outros dotes artísticos, certamente porque o retrato ainda não lhe garante os lucros esperados, uma vez que o tão propalado progresso dos imigrantes atrai também para a região um número considerável de outros fotógrafos profissionais e amadores.
Como músico, fundou e dirigiu uma orquestra, cujos componentes eram seus próprios filhos e alguns outros membros da comunidade leopoldinense. Era formada por violinos, piano, violoncelo, instrumentos de sopro, como clarinete e trombone, e um instrumento (copofone), constituído apenas por copos de cristal, contendo água e óleo. Produzia sons em várias intensidades e alturas ao ser tocado pelo próprio Dietze. Essa orquestra se apresentava não apenas em Santa Leopoldina, onde residiam os seus componentes, mas também em Vitória e outras localidades capixabas. Ensinou também música a muitos imigrantes, em instrumentos importados da Europa ou elaborados por ele próprio. Isso permite avaliar um pouco melhor a sua capacidade empreendedora e o seu potencial artístico, proporcionando meios de tornar mais estimulante (ou talvez um pouco menos monótona) a vida dos imigrantes, numa região pouco desenvolvida e carente de atividades culturais. Dietze introduzia assim não apenas uma dose de ânimo na pacata Santa Leopoldina, mas procurava, através da arte, estreitar as relações de sociabilidade entre nativos e colonos, ricos e pobres, cultos e incultos. Contribuiu para difundir o gosto pela música, sedimentar e preservar a cultura dos imigrantes, em especial a tradição popular dos tocadores de concertina, instrumento que o fotógrafo tocava muito bem e cujo manuseio ensinou a muitos conterrâneos ali residentes. Muitas dessas concertinas e outros instrumentos, trazidos da Europa por Dietze, ainda estão em uso na região das ex-colônias, tocadas hoje pelos descendentes dos imigrantes. Esses instrumentos foram, quase sempre, importados (25) das melhores casas especializadas da Alemanha, depois que o fotógrafo abriu, em Santa Leopoldina, uma casa comercial que oferecia "completo sortimento de gêneros nacionais e estrangeiros. Vendas por atacado e retalho. Importação direta das principais fabricas d’Allemanha”. (26)
Na década de 1880 (provavelmente depois da emancipação da Colônia, em 1882), Dietze abriu em Cachoeiro de Santa Leopoldina uma casa comercial de secos e molhados, nacionais e importados, entre eles, frutas, bebidas e instrumentos musicais. Segundo depoimento de familiares, também não foi bem-sucedido nesse empreendimento, ao que tudo indica, por falta de tino comercial.
Mas foi sempre a fotografia a atividade artística primordial e o meio de subsistência de Albert Dietze e sua família, pelo menos até a década de 1880, antes do retrato atingir a escola industrial e o consequente processo de banalização. Assim, mesmo desenvolvendo tantas atividades, Dietze não abandona a fotografia. À medida que melhoram as condições de vidas dos colonos, em razão dos preços do café no mercado internacional, o retrato passa a exercer maior interesse entre os imigrantes. Os retratos do grupo familiar, ou mesmo vistas dos cafezais em flor ou abarrotados de frutos, eram enviados a familiares e amigos na Europa. Outros colocavam os retratos nos álbuns de família ou preferiam exibi-los pendurados nas paredes das salas de suas casas como troféus, ou como símbolos do sucesso do seu trabalho na nova pátria.
Como fotógrafo, Dietze participou também de várias mostras internacionais, entre elas a Exposição Brasileira em Berlim, em 1883, na qual recebe o grande diploma de mérito, conforme nos informa esta nota inserida num jornal capixaba da época, denominada Exposição Brasileira em Berlim:
No brilhante certamem industrial em Berlim o conhecido protógrapho Alberto Ricardo Dietz, agente consular d'Alemanha nesta província e residente também em Santa Leopoldina, foi distinguido com o grande diploma de mérito, pela exibição de photographias de plantas, paisagens e quadros de costumes coloniais de Santa Leopoldina. (27)
Volta a participar de um evento internacional em 1886, conforme se depreende da seguinte informação, publicada com o título de Exposição Sul Americana em Berlim:
Temos notícias de que foram premiadas naquele importante certamen industrial, as fotografias exibidas pelo Sr. Alberto Ricardo Dietze fotógrafo residente da ex-colônia de Santa Leopoldina. O muito ilustre Dr. Jannassh, presidente da Sociedade de Geografia Comercial de Berlim, escrevendo ao Sr. Dr. Dietze, diz com referência às fotografias o seguinte: 'A sua coleção de vistas fotográficas do província do Espírito Santo, especialmente as da cidade da Victória e Porto de Cachoeiro, e seus retratos de tipos de índios e negros têm causado o maior interesse. Atualmente, são elas expostas no nosso museu geográfico comercial, na sala do recentemente criado clube alemão sul-americano (...) para serem vistas. E como o Sr. Já terá lido no n. 8 do Export, foram essas vistas prenúadas com um diploma (...). (28)
Tomou-se também um dos seis fotógrafos brasileiros do seu tempo a participar da Exposição Universal de Paris, em 1889. Parte das fotografias da exposição brasileira foi selecionada pelo barão do Rio Branco e publicada no Albun de vues du Brésil (1889), sendo que  Albert Richard Dietze aparece na página 224. Apresenta também trabalhos na Exposição de Kiel, na Alemanha, em 1896.
Em 1888, anuncia nos jornais de Vitória a venda de uma coleção de "paysagens e vistas photographicas" do Espírito Santo, algumas das quais foram utilizadas alguns anos depois na elaboração de uma série de cartões postais:
Em 1899, Alberto Ricardo Dietze, organizou no município de Santa Leopoldina, onde residia, a primeira coleção de fotografias de Vitória, em grupo de cartões postais. (29)
Além de paisagens e vistas, utiliza também nesses postais retratos individuais e grupais dos índios botocudos e de negros, bem como bandas de conga, alguns dos quais foram reproduzidos nesta pesquisa. Os índios foram flagrados inúmeras vezes por A. R Dietze, em razão do profundo interesse que demonstrou por eles, propondo-se inclusive a desenvolver estudos que seriam ilustrados com essas imagens. Isso o coloca, ao que tudo indica, como o precursor na elaboração de postais usando esse gênero de imagem, no país.
Embora não haja unanimidade sobre o ano de aparecimento do primeiro cartão postal, para alguns historiadores ele teria sido criado em Viena em 1869, naquela época ilustrado com pintura, desenho ou gravura, e somente em 1880 passou a ser adotado no Brasil. Ainda assim, no nosso país, somente em 1891 os bilhetes-postais, como eram denominados, foram impressos com imagens fotográficas. No entanto, foi somente no início do século XX que o cartão-postal se popularizou e se tornou uma espécie de filão para os fotógrafos, o que significa que pode ser atribuída a Dietze posição pioneira nessa atividade não apenas no nosso Estado, mas também no Brasil. Annateresa Fabris ajuda não apenas a esclarecer a questão, mas a reforçar a posição que requisitamos para o fotógrafo alemão, ao afirmar que a
(...) origem do cartão postal é atribuída a uma revista especializada da época a un livreiro de Oldenburd, que, em 1875, teria editado duas séries de vinte e cinco cartões. O primeiro cartão postal ilustrado francês remonta a 1889, reproduzindo cm sua superficie uma vinheta da torre Eiffel, desenhada por Libonis. É introduzido no Brasil cm 1901 e também aqui se transforma num sucedâneo da obra de arte, vindo a ser exposto emoldurado como se fosse um quadro, de acordo com a moda generalizada na Europa e nos Estados Unidos. (30)
Pesquisador muito curioso das coisas brasileiras, Dietze aprendeu a língua portuguesa com facilidade, como revelam os textos escritos no verso das fotos que enviou à imperatriz Thereza Christina, com o objetivo já citado acima. Isto lhe possibilitou criar uma Gramática de Português-Alemão para iniciantes, adotada, na época, na escola particular aberta por ele em Santa Leopoldina, e depois também em outras escolas da região, conforme se consta nesta nota publicada na imprensa:
Sobre a inauguração de uma escola particular alemã, por Alberto R. Dietze, que trouxe um professor da Alemanha É uma escola mista para o ensino das línguas vernácula e alemã. O Fotógrafo enviou ao jornal uma fotografia do edifício da escola, no dia da festa inaugural. (31)
O esforço do alemão de ensinar português aos colonos muito antes da proibição pelo governo brasileiro do ensino do alemão no Brasil (1942-1956) era estratégico, pois permitiria que eles se comunicassem não apenas entre si, mas também com os demais habitantes locais, o que lhes proporcionaria melhores condições para reivindicar direitos sociais e lhes facilitaria as transações comerciais. Basta citar que documentos da época dão conta de que até 1881 todos os habitantes de Santa Leopoldina só falavam a língua alemã. Até mesmo os atos litúrgicos eram professados nessa língua, vindo os padres diretamente da Alemanha para atuar na região, a exemplo de João Fritzen, nomeado "Capelão Provisionado da Colônia de Santa Leopoldina e vigário encomendado da Freguesia de Santa Izabel". Se considerarmos as informações de alguns de seus netos, que dizem ter ouvido de seus pais a confirmação de que Dietze dizia ter vindo para o Brasil com a missão de exercer o magistério, essa atividade parece empanar a verdadeira vocação dietzeana. Porque não a exerceu com exclusividade? A pergunta continuará sem resposta, mas talvez se possa concluir que a morte do professor despertou e deu vida ao artista.
Os filhos de A. R. Dietze, Ricardo e Gustav (32), também adotaram a fotografia como forma de expressão e meio de vida, o primeiro atuando em Aimorés (MG) e o segundo em Santa Júlia (ES). O mesmo ocorre com alguns de seus netos (a exemplo de Dolores, Humberto e Henrique Bucher) e bisnetos, que ainda se dedicam à produção desse gêneros de imagens, mantendo viva uma atividade iniciada há mais  de cento e vinte anos pelo ancestral alemão, que fez do Espírito Santo sua pátria adotiva, fonte de inspiração, veneração e dedicação ao trabalho produtivo e artístico.
Notas: (1) Auguste François Marie Glazziou veio para o Brasil em 1860. para dirigir a reformulaçào e redesenhar o novo traçado do Passeio Público, no Rio de Janeiro, ao qual atribuiu uma feição romântica, dotando-o de lagos, riachos e pontes. Dirigiu também as obras do parque da Quinta da Boa Vista, onde construiu um herbário com 24.000 espécies (atual Museu Nacional), e as do jardim da residência imperial de Petrópolis (1882). No período de 1873 a 1880, reformulou a Praça da Aclamação (hoje Praça da República). Escreveu livros sobre algas e linguens brasileiros e nomeia um gênero de bignociácceas (Glaziovia) e também a Maniçoba. (C f. Enciclopédia Larousse. Rio de Janeiro, Delta, 1974, p. 3076).
(2) Mesmo sem comprovação, tudo nos leva a crer que Albert Richard Dietze já tivesse informações sobre o Espírito Santo e também das colônias agrícolas de Santa Isabel (fundada em 1847) e Santa Leopoldina (fundada em 1857), ainda na Alemanha, talvez obtidas através de parentes que para cá emigraram. Tal hipótese fundamenta­se no fato de termos localizado num livro de registro de colonos alemães e austríacos o contrato firmado com Carl Dietze, que se estabeleceu na então colônia de Santa Isabel, em 1859, juntamente com a esposa, Juliane, e os filhos menores, August e Carl. Carl Dietze era natural da província de Chemnitz, na Saxônia, então anexada à Prússia, região à qual também pertencia Albert. (C.F. Contratos de colonos imigrantes alemães e austríacos (1859-1860). Vitória, Governo do Estado do Espírito Santo/Secretaria de Estado da Cultura e Esportes / Arquivo Público Estadual, 1998, p. 191).
(3) Um conjunto de vistas e paisagens naturais, elaboradas por Dietze, datadas e assinadas pelo autor, entre 1869 e 1878, medindo entre 24x32 cm e 33x25 cm, encontra-se hoje na celeção D. Thereza Christina Maria, pertencente à Biblioteca Nacional.
(4) ''Photographia Alemã, de Albert Richard Dietze", O Espíto Santense, 27 março, 1873, p.4.
(5) Viajaria ainda outras vezes à Alemanha,  algumas das quais para tratar de um mal na vista de seu filho Otto, na década de 1880, problema para o qual não obteve solução, o que levam o menino à cegueira, aos nove anos de idade.
(6) O Espírito-Santense, 7, 9 e 11 março 1876, p.4.
(7) Cf. carta a "Sua Alteza todo Poderoso Imperador e Senhor", no verso de uma fotografia elaborada por Dietze, na coleção D. Thereza Christina Maria, redigida, de próprio punho, em alemão gótico, e traduzida por Dolores e Nelda Bucher, netas do fotógrafo.
(8) Em 1860 viviam cm Santa Leopoldina 232 famílias de colonos, totalizando 1003 pessoas, entre as quais 593 de origem alemã, sendo 384 prussianos. Cf. Ernst Wagemann. A Colonização Alemã no Espírito Santo, 1949.
(9) Natural de Schleswig-Hõlstein, era conhecido como "Sapateiro Sacht". Num depoimento, colhido por Dietz, com o objetivo de sensibilizar o casal imperial para a sua solicitação de ajuda financeira, depoimento esse escrito por ele em alemão, no verso de uma das fotografias enviadas à imperatriz Thereza Christina, Sacht afirma: "(...) sempre me senti muito bem aqui e juntamente com minha família nunca passei por dificuldades. Na Alemanha, minha mulher dificilmente teria sobrevivido, já que sofria de males no peito. Aqui eh se livrou de sua doença, e também eu, descontando pequenas desgraças, que acontecem em todos os lugares, sempre tive saúde e me senti bem (...) nesta pátria adotiva, que aprendi a amar e gostar".
(10) Emma Dietze casou-se com Henrique Bucher, procedente de família de origem suíça, pioneira na vale do Rio Santa Joana. Os Bucher tinham uma venda de secos e molhados e comercializavam café e cereais. Tinham também um alambique, engenho de açúcar mascavo e rapadura, produziam calçados e arreios.
(11) "A Sua Alteza Todo Poderoso Imperador", carta manuscrita, em alemão gótico, no verso de uma das fotografias de autoria de Dietz, na Coleção D. Thereza Christina Maria, pertencente à Biblioteca Nacional, traduzida por Dolores e Nelda Bucher.
(12) Godoíredo da Silveira.  Almanak administrativo, mercantil, industrial e agrícola da provlncia do Espírito Santo, 1889.
(13) Maurício Lamberg. O Brasil, 1896, p.256. Esse relato de um baile na casa de Dietze, confirma e ilustra o seu papel social e atividade musical da família: “Tendo-me convidado (o sr. Dietze) amavelmente para me hospedar em sua casa (...), aceitei e tive a ocasião de assistir a um sarau com dança (...). Nesta soirée dançante, tanto os cavalheiros como as damas apresentavam-se de pés descalços, o que era efeito comico. A scena ainda mais engraçada se tornou, quando apareceu por condecendencia (sic) um fazendeiro brasileiro (sic), de botas de montar e esporas pesadas, e ficou logo para dançar com uma rapariga loira, que, porém, não tardou a deixa-lo, assim como várias outras, tendo no rosto uma expressão de dôr. Era evidente que o calçado pesado lhe atrapalhava os saltos de bode, tabto mais quanto as suas pernas compridas, magras e trêmulas, não tinha a força precisa para manobrarem à vontade dentro daquelas botas. E a vontade era grande, via-se-lhe nos gestos desenxabidos. Por isso, sem a menos cerimonia, aliviou-se, na sala do baile, dessa carga e dançou de meia com enthusiasmo, até estas ondearem-lhe pelas pernas como bandeirinhas. Cada terra tem seu uso: aqui ninguém se escandalisa (sic) com isso; acham naturalíssimo”. Id.ib. Relatos de antigos moradores de Santa Leopoldina a descendentes do fotógrafo informam que Dietze era um homem muito rigoroso e exigente, indispondo-se, com frequência com imigrantes e brasileiros que deixavam de mandar os filhos para a escola ou que permitiam que seus filhos andassem descalço, por exemplo, o que nem sempre era aceito e bem entendido por eles.
(14) Sobre o assunto ver Fotografia e Cinema, uma relação indissolúvel, em: LOPES, Almerinda da Silva. Memória aprisionada: a visualidade fotográfica capixaba, 1850/1950. [Vitória, ES?]: EDUFES, 2002.
(15) Na verdade, Tschudi refere-se aos alemães e suíços como remediados e asseados quanto aos cuidados com a habitação e a alimentação e mais hábeis no preparo e manejo das terras cultiváveis. Cita os holandeses como degenerados, indolentes, beberrões. Muitas dessas famílias não tinham qualquer hábito de higiene na maneira de cuidar de si, da casa e da alimentação (Ernst Wagemann. A Colonização Alemã no Espírito Santo, 1949).
(16) Apud Wagemann, op.cit.
(17) Fragmento do texto manuscrito, em alemão, inserido no verso da fotografia Ponte sobre o Rio Farinha-Porto de Cachoeiro, pertencente à Coleção Thereza Christina Maria, no acervo da Biblioteca Nacional. Tradução de Dolores Bucher e família.
(18) A então colônia de Santa Isabel foi formada, em 1847, com mão-de-obra quase que exclusivamente de alemães, enquanto que a de Santa Leopoldina (criada em 1857) foi constituída por braços europeus de diferentes nacionalidades: holandeses, suíços, tiroleses, luxemburgueses, belgas, entre outros, embora quase 70% da população fosse mesmo de alemães, por volta de 1860. Entre 1870 e 1879, o maior contingente de imigrantes foi de pomeranos, que deram novo alento a Santa Leopoldina, em razão de sua vontade de vencer e sua extraordinária capacidade de trabalho (Ernst Wagemann, 1949, p.24).
(19) Fragmento do texto manuscrito de Dietze, cm português, no verso da fotografia denominada Porto  de Cachoeiro-Rua da Dircctoria (1877).
(20) Id. Ib.
(21) Jornal do Comércio, apud Alberto Stange Júnior, "100 anos de Santa Leopoldina", A Gazeta, Vitória, 20 de abril, 1987.
(22) Fragmento dos textos manuscritos em alemão, inseridos por Dietze nos versos das fotografias que têm por titulo O Rio Santa Maria visto da ponte do Funil, cuja tradução para o português foi feito por Dolores Bucher e família.
(23) Id. Ib.
(24) Afirmam alguns historiadores que nos primeiros anos da existência de santa Leopoldina, os católicos açorianos fixados em Viana eram inimigos dos evangélicos daquela colônia a ponto de não lhes venderem nada, nem lhes adiquirirem qualquer produto que cultivaram nas terras leopoldinenses, hostilidade essa que acarretou muito problemas para a sobrevivência dos imigrantes.
(25) Depoimento do neto de A. R. Dietze, Henrique Bucher à autora, em 27 ago. 1987.
(26) Esse anúncio era publicado nos jornais da ex-colônia em português e alemão.
(27) A Província do Espírito Santo, 11 maio 1883, p.4.
(28) Id. Ib. 25 de set 1887, p.3.
(29) Vida Capichaba, 649, 25 dez. 1946, p.8.
(30) A. Fabris, “O circuito social da fotografia: Estudo do caso I”, In: Fotografia: Usos e funções no século XIX, 1991, p.33.
(31) Id, 7 abril 1886, p.3.
(32) Além de fotográfo, atividade que aprendeu com o pai, Gustav foi também músico e escrivão de cartório. Em Santa Júlia. Ricardo estudou música e cursou a Escola de Comércio na Alemanha, durante 4 anos. Em Aymorés, além de dedicar à fotografia e à música, foi comerciante de pedras semipreciosas.
Referência: LOPES, Almerinda da Silva. Memória aprisionada: a visualidade fotográfica capixaba, 1850/1950. [Vitória, ES]: EDUFES, 2002.
Fontes: Depoimento e acervos de familiares do fotógrafo: Dolores Bucher, Nelda Bucher, Henrique Bucher, Elizabeth Dietze, Olga Dietze, Llsca Bucher.
FABRIS, Annateresa. Fotografia: usos e funções no século XIX. São Paulo, EDUSP, 1 991.
Brazil. Trad. Luiz de Castro. Rio de Janeiro, Lombaerts, 1896.
TURAZZI, Maria lnez. Poses e trejeitos. Rio deJaneiro, FUNARTE/MEC, 1995.
O Espírito Santense: 1874-1888
Coleção Thereza Christina Maria, Biblioteca Nacional, Rio deJaneiro.
A Província do Espírito Santo:1883-1888.
Vida Capichaba, 1923-1946.

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2. Fotógrafo que também tinha seu nome grafado como "Ricardo A. Dietze". Em março de 1870 anunciava-se em Cachoeiro do Itapemirim como "photographo do Rio de Janeiro" que havia chegado "para trabalhar em sua arte por algum tempo". Incumbia-se de tirar retratos de vistas, paisagens e grupos de pessoas em qualquer fazenda e informava que já havia comprovado suas habilidades em Itapemirim, Itabapoana, Benevente, etc. (O Estandarte, 20 mar. 1870, p.4). Anunciava alguns dias depois que fora chamado à Europa "para negocios de familia", razão pela qual não se demoraria muito naquela vila (O Estandarte, 3 abro 1870, p.4). No final daquele mesmo mês voltava à imprensa para avisar "aos seus freguezes da Colonia do Rio Novo e da villa de Itapemirim" que ainda não tivessem tirado retratos que o fizessem logo, pois partiria brevemente; solicitava também aos clientes de Benevente e outras localidades que não haviam saldado suas contas que mandassem o importe das mesmas "em carta registrada pelo correio da villa de Itapemirim" (O Estandarte, 24 abr. 1870, p.4). Dietze permaneceu em atividade no interior do Espírito Santo e teve um destacado trabalho voltado à documentação. São de sua autoria aspectos da colonização européia na Província do Espírito Santo, num total de 53 fotos copiadas em papel albuminado, assinadas e datadas entre 1869 e 1878, que abrangem vistas da Colônia Santa Leopoldina, Guarapari, Vitória, Cacheiro e outras localidades, fazendas, sítios, igrejas, escolas, estação telegráfica, grupos de colonos, além do próprio estúdio fotográfico de Dietze. O mencionado conjunto contém texto no verso dos cartões-suportes das fotos através do qual o fotógrafo solicita auxílio à imperatriz D. Thereza Christina para publicar folheto destinado a divulgar a imagem do Brasil no exterior, visando atrair imigrantes para o país. Fotos de sua autoria representando "vues de l'intérieur de la province d'Espirito Santo" foram apresentadas na Exposição Universal de Paris de 1889 (Exposition Universelle de Paris, 1889, Catalogue officiel, p.33). Neste mesmo ano ainda há referências a sua atividade em Cachoeiro do Itapemirim (Almanak Administrativo, Mercantil, Industrial e Agricola da Provincia do Espirito Santo para o anno de 1889, p.120).
Referência: KOSSOY, Boris. Dicionário histórico-fotográfico brasileiro: fotógrafos e ofício da fotografia no Brasil (1833-1910). São Paulo: Instituto Moreira Salles, 2002.
Endereço: ND. Santa Leopoldina, ES. 1870/1890.
Coleções: Biblioteca Nacional; Ibero-Americanishes Institut.
Fonte: O Estandarte.
Exposition Universelle de Paris, 1889, Catalogue officiel.
Almanak Administrativo, Mercantil, Industrial e Agricola da Provincia do Espirito Santo para o anno de 1889.

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