segunda-feira, 28 de maio de 2018

A. NUNES

Anunciava em maio de 1887 a sua Photographia Moderna, onde tirava retratos a 8$000 e 10$000 a dúzia em porcelana, "com fundos de diversos modelos; para isso tem grande sortimento de desenhos vindos da Europa [interessante referência aos cenários com vistas européias que compunham o décor dos retratos]". Encontrava-se estabelecido no mesmo endereço que sediara o estúdio de Joaquim Ayres (A Folha da Victoria, 5 maio 1887, p.4). Ao que parece, não permaneceu muito tempo na atividade. Ver AYRES, J.
Referência: KOSSOY, Boris. Dicionário histórico-fotográfico brasileiro: fotógrafos e ofício da fotografia no Brasil (1833-1910). São Paulo: Instituto Moreira Salles, 2002.
Endereço: Largo do Dr. João Climaco, 6. Vitória, ES. 1887.
Fonte: A Folha da Victoria.



A. RAELTE

Anunciava-se em sociedade com Lette (ou Lotti). Informavam ao público local que "se achão estabelecidos provisoriamente neste arraial, aonde offerecem-se para tirar retratos pelos sys­temas mais aperfeiçoados" (O Itabira, 21 jul. 1866, p.4). No ano seguinte o antigo sócio se anunciava na cidade. Ver LOTTI, C.
Referência: KOSSOY, Boris. Dicionário histórico-fotográfico brasileiro: fotógrafos e ofício da fotografia no Brasil (1833-1910). São Paulo: Instituto Moreira Salles, 2002.
Endereço: nd. Cachoeira do Itapemirim, ES. 1866.
Fonte: Itabira.

ALBERT RICHARD DIETZE

Filho de August Friedrich Dietze e Auguste Friedrike Sack Gr. Scorlop, nasceu na cidade de Kitzen, na Prússia, Alemanha, em 29 de dezembro de 1838. Faleceu em Santa Leopoldina, Espírito Santo, a 24 de agosto de 1906. Segundo informações de familiares, Dietze chegou ao Brasil pouco antes de completar 30 anos de idade, passando a trabalhar no Jardim Botânico, no Rio de Janeiro. Os motivos que atraíram tão sensível e culta personalidade a aventurar-se sozinha em terras tão distantes são ignorados. Porém, tudo leva a crer que a complexa e confusa situação sócio-político-econômica da Alemanha naquele tempo, provocada por questões relativas à unificação, à perda da hegemonia prussiana, à agressiva ideologia nacionalista e racista (entre outras), problemas que geravam um clima tumultuado, insegurança, tensões e guerras internas e externas, pesaram sobre a decisão de Dietze.
Formado em agronomia em seu país de origem, pouco depois de desembarcar no Brasil, Albert Dietze tornou-se auxiliar do então diretor do Jardim Botânico, cargo que o teria aproximado do botânico alemão Karl Glasl e também do botânico e paisagista francês Glaziou (1833-1897) (1), o qual acabava de ser nomeado para o cargo por D Pedro II, em 1863. Dietze atuava também como fotógrafo e era bom desenhista, qualificações que, se por um lado, lhe eram úteis na função que exercia ao lado daquele paisagista - em especial para registrar as espécies vegetais e os jardins - por outro, não lhe permitiam alçar maiores vôos. O inquieto alemão traçou rapidamente outra trajetória para sua vida profissional. Instalou, no mesmo ano, na capital imperial, a sua Photographia Alemã e demitiu-se do cargo de assistente de Glasl, que ocupou por apenas quatorze meses.
Embora se desconheça como se deu o seu aprendizado artístico, sabe-se que já desenvolvia a atividade fotográfica na Alemanha. Segundo afirmam seus familiares, Dietze retratou na Europa uma clientela de ilustres personalidades e membros da nobreza, como atesta, por exemplo, o retrato da baronesa Wladimir von Rusland e suas filhas, reproduzido neste trabalho, em cuja composição e outros atributos se percebe nítida influência da pintura européia clássica. Foi também o fotógrafo do imperador Guilherme I, conforme atestam algumas imagens da nobreza produzidas por ele e algumas medalhas que localizamos no acervo de seus familiares, as quais lhe teriam sido concedidas pelo próprio Kaiser. Ao chegar ao Brasil, além de já dominar os segredos das câmaras e dos produtos químicos para processamento das imagens fotográficas, revelava grande habilidade como desenhista, conhecia e amava profundamente a música, destacando-se como exímio instrumentista.
Na corte, os encomendários de seus retratos eram, provavelmente, na sua maioria, imigrantes ilustres ou membros da elite local.
Quando passou a se dedicar exclusivamente à fotografia, além dos retratos de estúdio circula também pelo interior do Rio de Janeiro, estendendo os percursos até o Espírito Santo. Vem à procura de clientela interessada em adquirir suas imagens, o que lhe possibilitaria ampliar as fronteiras comerciais, em razão da concorrência que se estabelece entre os mais conhecidos e conceituados estúdios fotográficos existentes na capital imperial. No entanto, parece ter sido atraído muito mais pela curiosidade de conhecer uma região ainda pouco desenvolvida, mas que havia sido escolhida como pátria por muitos de seus conterrâneos, assentados como colonos nos loteamentos que o governo oferecia nas terras devolutas da região central do Espírito Santo (2), a contar pela singularidade da maior parte das imagens que aqui produziu.
Ainda em 1869, faz a primeira visita à ex-colônia de Santa Leopoldina, quando obtém registros fotográficos que são hoje verdadeiros documentos históricos de um Espírito Santo que passou por muitas transformações e que hoje em nada se parece com o cenário congelado naqueles ícones. No mesmo ano, o fotógrafo alemão elabora também um grande número de vistas, paisagens, fazendas, monumentos naturais e construídos pelo homem, além de elaborar retratos de índios e escravos, captados em suas andanças por diferentes localidades da Província. Embora haja referência do autor de que tais retratos desses tipos étnicos foram elaborados com o intuito de estudá-los, naquela época, sabe-se que índios e negros erem exibidos em exposições nacionais e européias como uma espécie de excentricidade ou mesmo exotismo, conforme já foi citado neste trabalho. Apesar da dificuldade em elaborar retratos, em especial dos arredios botocudos, é no mínimo curioso o empenho do alemão em obtê-las, urna vez que não lhe rendiam, certamente, nem fama nem o valor cobrado pelos retratos tirados dos membros da elite. Mas foi graças a esse interesse que tais ícones acabariam por se tomar, ao que tudo indica, os mais antigos registros de negros e índios espírito­santenses que se conhece ou que, pelo menos, chegaram até nós. Essas imagens eram reveladas inicialmente no estúdio que mantinha no Rio de Janeiro, e, a partir dos anos 1870, eram processadas na oficina que inaugura neste Estado (3).
Pomeranos Johanna Zich e duas outras pessoas não
identificadas (Santa Leopoldina).
Autor: Albert Richard Dietze (carimbo no verso:
A. R. Dietze, Rio de Janeiro).
Dimensões: 10,5x7,5 cm; 12x10 cm (suporte)
Acervo: Nilza Abnrt (Itaimbé, ES)
Dietze parece ter encontrado boa receptividade para o trabalho que desenvolvia, o que fez com que anunciasse várias vezes, na imprensa local, o prolongamento de sua permanência em Vitória, em 1873, ano em que também se casa, em Santa Leopoldina, conforme veremos adiante. Em um desses anúncios, transcrito neste ensaio, no capítulo que trata da propaganda, o fotógrafo informa também que na sua "última viagem à Europa, conseguiu aprender e aperfeiçoar-se de forma a ficar em estado de poder rivalizar com as casas mais afamadas do Brasil" (4). Depreende-se daí que, no intervalo que vai da sua chegada ao Brasil, por volta de 1868, até 1873, já havia voltado à Europa mais de urna vez (5).
Embora não exista registro da data da viagem, nem do tempo de permanência de Dietze na Alemanha, para "aperfeiçoar a sua arte" e, ao que tudo indica, em busca das últimas novidades, adquirindo lá equipamentos e material específico, ele parece ter permanecido na terra natal entre 1871 e 1872, em razão de não haver, nesse período, qualquer referência, por parte da imprensa capixaba, a sua atuação como fotógrafo. No entanto, a partir de 1873, o alemão volta a publicar propagandas nos jornais capixabas, nas quais informa, entre outras coisas, que ainda vive e trabalha profissionalmente como fotógrafo no Rio de Janeiro. Nesses anúncios, oferece, em Vitória, os seus préstimos aos clientes que possam pagar 5$000 ou 6$000 (cinco ou seis mil réis) a dúzia de retratos, em formato carte de visite, valor que aumentava muito, caso o freguês preferisse ter sua imagem reproduzida em maiores dimensões.


ALBERTO CELESTE MARROCHI

Filho de italianos, nasceu em Santa Teresa, em 1899, e faleceu na mesma cidade, a 25 de novembro de 1981.
Atuou profissionalmente como sapateiro, consertando e fabricando calçados; como seleiro, fiscal de obras da Prefeitura local e do Estado. Revelou desde cedo interesse pela arte, tornando-se músico da banda daquela cidade. Dedicou-se também à fotografia, como hobby, produzindo retratos de amigos e familiares e circulando por toda a região para registrar paisagens e vistas de povoados, ruas e monumentos. Os filmes eram revelados por outros fotógrafos locais ou enviados para o Empório Capichaba, de Donato Giafredo, em Vitória.
Referência: LOPES, Almerinda da Silva. Memória aprisionada: a visualidade fotográfica capixaba, 1850/1950. [Vitória, ES]: EDUFES, 2002.
Fonte: depoimento de Norma MarroChi (filha de Alberto), à autora, em Santa Teresa, 26 de fevereiro de 1999.

Casamento de Maria Idalina Fontana e Isidoro Linhares. Fotógrafo: Alberto Celeste Marrochi (Santa Teresa).
Data: em torno de 1935. Dimensões: 10 x 10 cm (diâmetro círculo); 12 x 12 cm (comprimento papel).
Acervo: Norma Marrochi.



ALBERTO LUCARELLI

Filho de Annita e Pedro Lucarelli, pequenos empresários do ramo de fabricação de chocolates, na Itália, nasceu em Gênova (Itália), em 1884. Faleceu em Vitória a 22 de abril de 1967. Veio para o Brasil em companhia do cônsul da Itália, então residente no Rio de Janeiro, Luigi Petrochi. (1) Fixa-se inicialmente em São Paulo, onde começa a trabalhar como fotógrafo. Em razão da concorrência com oficinas afamadas tanto de patrícios como de imigrantes vindos de todas as regiões da Europa, decide mudar o empreendimento para Vitória, aqui chegando no início do século XX. Conhecedor do oficio de fotógrafo já na Itália, onde estudou em escola especializada - segundo informação de Francisco Quintas, de quem foi discípulo e amigo - torna-se o primeiro profissional da área a montar um estúdio fixo nesta cidade, no início do século, estabelecendo-se na rua Duque de Caxias.
Tornou-se o fotógrafo oficial do governo de Jeronymo Monteiro, no período de 1908 a 1912, de quem foi também grande amigo e admirador. Eram companheiros inseparáveis em caçadas realizadas nas matas das então vias da Serra e Cariacica. Na função de fotógrafo oficial fazia as reportagens de todas as visitas oficiais de personalidades políticas ao Espírito Santo, a exemplo do que se lê nesta pequena nota:
O sr. Alberto Lucarelli teve a gentileza de nos oferecer uma das excellentes photographias que o estimado e competente artista tirou ante-hontem, pela manhã, dos srs. drs. Nilo Peçanha, Jeronymo Monteiro e Francisco Sá. (2)
Cais Schimidt
Autor: Alberto Lucarelli.
Data: cerca de 1912.
Dimensões: 17,8x23 cm.
Acervo: Arquivo Público Municipal de Vitória.
No início de 1910, em companhia do consagrado pintor, desenhista, escultor e fotógrafo italiano, nascido em Florença, Giuseppi Boscagli (1862-1945), realizou trabalhos em Alagoas, provavelmente a convite de alguma personalidade política. Boscagli já havia trabalhado antes no Rio de Janeiro e em Porto Alegre, no Rio Grande do Sul, no estabelecimento fotográfico de Jacinto Ferrari, para o qual produziu retratos de excepcional qualidade, entre 1897 e 1898. (3) Em 1900, fixou-se em Bento Gonçalves e, em 1909, vai para o Rio de Janeiro. Chega a Vitória em 1910, operando no estúdio de Lucarelli. Expôs na vitrina de urna loja comercial, em Vitória, alguns de seus trabalhos, conforme se constata nesta nota publicada na imprensa:
Nesta redação, recebemos ontem a visita do pintor José Boscagli e do photographo Alberto Lucarelli, anteontem chegados de Alagoas. Os distintos artistas, que aqui estiveram acompanhados do estimável cavalheiro Sr. Ildebrando Resemini, acabam de fazer no estabelecimento dos Srs. Resemini & Leone, uma exposição de vários quadros que, segundo nos informam, muito recomendam os seus méritos. ( ... ). (4)
A notícia é assim vinculada pelo jornal Commercio do Espírito Santo:
Deu-nos o prazer de sua visita o sr. José Boscagli, apreciado artista pintor, que faz de alguns de seus trabalhos uma interessante exposição na casa Resemini & Leone.
Artista de merecimento, consagrado pela imprensa do Rio Grande do Sul, onde viveu durante muitos annos e do Rio, onde esteve de passagem, O sr. Boscagli é um cavalheiro de trato delicado e gentil que nos deixou agradabilíssima impressão.
De seus trabalhos falaremos no próximo número. Em companhia do sr. Boscagli nos visitou também o sr. Alberto Lucarelli, artista photographo, com longa prática desse officio, que anda em excursão pelo norte da Republica.
O sr. Lucarelli se demora alguns dias nesta capital e aceita chamadas para trabalho em domicílio, garantindo a perfeição. (5)
Dinórah Salles de Sá
Autor: Alberto Lucarelli
Data:1918
Dimensões: 13,8x9,6 cm
acervo: Maria Filina Salles de Sá.



Anúncios publicados no Diário da Manhã, em todo o ano de 1910 e início de 1911, informam que José Boscagli "pintor italiano consagrado no Rio Grande do Sul, pinta retratos a óleo". Realiza, no mesmo período, várias exposições de retratos de Lucarelli, pintados por ele a óleo e aquarela, entre os quais um retrato a óleo, em tamanho natural, do Presidente do Estado Jeronymo Monteiro, encomendado por um grupo de amigos, (6) do Marechal Hermes da Fonseca, Presidente eleito da República, (7) um de Cecília Monteiro e um do coronel Henrique Coutinho, encomendado para o Salão Nobre do Palácio do Governo. Sobre o assunto, a imprensa local informa:



Ao meio dia, no salão Domingos Martins, reunidos os srs. dr. Jeronymo Monteiro, sua consorte Cecilia Monteiro, Lafayette Valle, em nome da oficialidade do corpo de polícia, foi oferecido 'a exma. Sra. Cecilia Monteiro, o seu retrato a óleo, meio busto, trabalho do professor Boscagli (...). No dia 02 o sr. Dr. Jeronymo Monteiro visitou o quartel da força pública, onde descansou e tirou na ocasião, junto à oficialidade, uma photographia a magnésio o hábil photographo Lucarelli. (8)
Os fotógrafos que não vinham do meio artístico e que não tinham, portanto, condições de
Beatrice Morjardim.
Autor: Alberto Lucarelli.
Data: c. 1920.
Dimensões: 15x9 cm.
Acervo Beatrice Monjardim.
elaborar trabalhos de fotopintura, tão a gosto da elite da época, associam-se a algum fotógrafo-artista ou artista plástico, a exemplo do que faz Lucarelli ao se associar a Boscagli. Apenas poucos dias depois, a imprensa dá destaque ao trabalho do fotógrafo acompanhando a comitiva do governador Jeronymo Monteiro à fábrica de tecidos de algodão, em Jucutuquara, que se encontrava em construção, e à cobertura da visita da escritora Júlia Lopes de Almeida ao Espírito Santo. (9) É notável a quantidade de trabalhos realizados pelo fotógrafo, acompanhando o cortejo de Jeronymo Monteiro, em visitas tanto na capital como em todo o interior, às vezes em dias subseqüentes, acontecimentos que eram amplamente divulgados pelos jornais. Recebe também um prêmio na Exposição Mundial de Turim, em 1911, conforme informa nas propagandas.
A convivência de Lucarelli com o artista italiano Boscagli parece ter sido benéfica para ambas as partes. Além dos ganhos consideráveis advindos da abundância de encomendas, Lucarelli aperfeiçoa seu trabalho, ao receber ensinamentos de desenho e de pintura com aquarelas importadas, fundamentais para o retoque e a coloração dos retratos de personalidades que continuaria a elaborar durante e depois da volta de Boscagli ao Rio de Janeiro, em maio ou junho de 1911. (10) E não foram poucas as personalidades da elite e da política que se deixaram retratar pelo italiano, conforme nos informa a imprensa:
Na vitrine do café Rio Branco acha-se exposto um esplêndido retrato do sr. Dr. Júlio Pereira Leite, nosso illustre collega do Commercio do Espirito Santo, bellissimo trabalho do sr. Alberto Lucarelli, que muito o recommenda como intelligente cultivador que é da arte photographica. (11)
Apesar de consagrado e muito atuante, o fotógrafo não se acomoda e continua a investir em melhorias e na ampliação do seu estúdio, conforme se depreende desta nota publicitária:
Alberto Lucarelli, avisa aos seus amigos e clientes que mudou seu Atelier Photographico para a Rua do Commercio, 20, antigo Hotel Victória, aonde installará muitos melhoramentos concernentes a sua arte. (12)
E este não foi o último local onde funcionou o seu estúdio, uma vez que ainda o instalaria na Rua José Marcelino, 20, conforme se constata nas propagandas publicadas na imprensa jornalística, em 1916.
Em 1919, propagandas publicadas no Diário da Manhã, além de informarem sobre a sua especialidade em fotopintura, ainda destacam a premiação do artista na Itália, já citada:
Photographia Lucarelli
Premiada na Exposição Mundial de Turim - 1911
Praça 8 de Setembro
Entrada pela Rua Duque de Caxias n.34
O atelier mais central da capital Execução perfeita de qualquer trabalho photographico.
Ampliações, retratos a oleo, crayon, pastel etc. (13)
Propagandas posteriores informam estar estabelecido naquele mesmo endereço:
Photo Lucarelli - grande brinde de fim de ano aos seus amigos e fregueses: quem tirar uma dúzia de retratos álbum, terá por brinde uma ampliação da mesma photographia. Executa-se qualquer encomenda em 24 horas. Arte, esmero, mocidade. Rua Duque de Caxias n° 34. (14)
Mas o fotógrafo elaborou também vistas de ruas, vilas e cidades, monumentos, paisagens, e fez reportagens de casamento e outros eventos sociais e religiosos.
Bem-relacionado politicamente e admirado como fotógrafo, Lucarelli passou a trabalhar para praticamente todos os governos estaduais, por um período de mais de 30 anos. Assim, documentou as várias etapas das reformas do Palácio Anchieta, a construção de monumentos e pontes, como a Florentino Avidos, entre outras. Foram as lentes da câmara desse italiano que registraram todas as etapas da construção das pontes de ferro, nos anos 1920, criando imagens de rara beleza, muitas das quais citadas hoje como de autoria desconhecida, uma vez que nem todas eram assinadas ou carimbadas por Lucarelli.
Alberto Lucarelli e Maria (esposa), filhos e neta: Angélica (em pé, atrás do pai); Alberto Lucarelli Filho e esposa (em pé, no centro); Anita Lucarelli (sentada à direita); Vilar, marido de aAnita e Dulce, filha de Anita. Autor: alberto Lucarelli.. Data: cerca de 1938. Dimensões: 8,4x13,5 cm. Acervo: Geraldo Lucarelli.
Em 1911, Alberto Lucarelli casa-se com a espanhola Maria Amoroz (filha de um cantor de ópera), com a qual teve três filhos: Alberto Lucarelli Filho, Anita Lucarelli Vilar e Angélica Lucarelli Amaral.
Além de fotógrafo, dedicou-se também à música, tocando violino, atividade que ensinou também aos filhos. Realizou várias viagens à Itália para visitar familiares e amigos, para se aperfeiçoar e para resgatar aspectos culturais. Nessas viagens à Itália, lá permanecia por períodos variados. A mais longa, que durou cerca de quatro anos, na década de 1920, permitiu também ao filho estudar violino com professores genoveses. Ao voltar da Europa, Alberto Lucarelli junta à sua bagagem material fotográfico, um violino, um bandolim e um gramofone.
A partir de 1923, torna-se colaborador de revista Vida Capichaba, (15) a qual tem suas páginas ilustradas com inúmeros trabalhos do fotógrafo. Nesse ano, ainda mantém o estúdio em Vitória, comercializando a dúzia de retratos a 5$000 (cinco mil réis). (16) Em 1927, esteve em Pistóia, no país natal, publicando algumas fotos da viagem na mesma revista Vida Capichaba.
Em 1925, importou da Itália uma motocicleta, tornando-se o primeiro a dirigir esse tipo de veículo em Vitória, o que despertava curiosidade e estranhamento na população local, que via a máquina como uma excentricidade.
Turíbio Farina.
Autor: Alberto Lucarelli.
Data: Década de 1920.
Dimensões: 11,5x7,7 cm; 18x7,8 cm (suporte.
Acervo: Celina L. Nalin.
Tal como o seu pai, que era integralista convicto, Alberto Lucarelli foi também simpatizante da ideologia dos conhecidos "camisas verdes", na Itália. Entretanto, no Brasil, manteve-se aparentemente à margem de qualquer participação político-ideológica, uma vez que nunca se aproximou dos militantes integralistas locais.
Durante a Segunda Guerra, por ser italiano, enfrentou perseguição e problemas com a polícia, refugiando-se durante algum tempo no morro Itapinambi.
O fotógrafo ensinou a arte fotográfica ao filho e a vários outros jovens locais, os quais o auxiliavam a fotografar e a revelar as imagens como seus assistentes. Alberto Filho, no entanto, nunca revelou vocação para a atividade, tomando-se, na segunda metade dos anos 30, funcionário do Departamento Nacional de Café.
Depois de aposentado, no final dos anos 40, Alberto Lucarelli abandonou a atividade fotográfica e passou a viver num sítio que adiquiriu na Praia do Suá, na Avenida Ordem e Progresso, hoje Avenida César Hilal.
Notas: (1) Luigi Petrochi era toscano, de Pistóia, e, em 1910, radicou-se em Vitória, com a esposa e os filhos Mário e Fiorino. Foi o último representante consular de carreira e um dos fundadores do Clube Ítalo-Brasileiro, em Vitória, em 1968, segundo Luiz Serafim Derenzi. Os italianos no Estado do Espírito Santo, 1974, p.150.
(2) Diário da Manhã, 1 de julho de 1910, p.2.
(3) José Boscagli foi discípulo na Itália, d eMorini e Passani, quando conheceu também os pintores brasileiros Pedro Américo e Décio Villares. Em 1897, veio para o Brasil, indo direto para Porto alegre. Atuou como pintor oficial da expedição de Rondon ao interior do país. Participou do Salão Nacional de belas Artes, em 1924 e 1941, segundo Carlos Cavalcanti (coord.). Dicionário de Artistas Plásticos. Brasília, INL/MEC, 1973.
(4) Id. Ib. Vitória, 22 fevereiro 1910, p.2.
(5) Id. Ib. Vitória, 22 fevereiro 1910, p.2.
(6) Id. Ib. Vitória, 22 fevereiro 1910, p.2.
(7) Commercio do Espirito Santo, Vitória, 21 fev.1910. Ao veicular a notícia da exposição, o Diário da Manhã, em sua edição de 24 fev. 1910, p.3, informava que chamava a atenção, na galeria de retratos pintados a óleo, o do Papa Leão XII.
(8) Diário da Manhã, Vitória, 19 abril 1910, p.3.
(9) Id. Ib. 29 março 1910, p.3 e 26 abril 1910,  p.2.
(10) “O advento do ano novo”, Diário da Manhã, 5 jan. 1911, p.1.
(11) Id. 14 jan. 1911; 19 março 1911, p.2. Diário da Manhã, 19 março 1919, p.6.
(12) No entanto, mesmo depois de voltar ao Rio de Janeiro, J. Boscagli continuou elaborando fotopinturas a óleo para membros da elite e da política capixaba, a exemplo do retrato a óleo que elaborou de Moacyr Avidos (Diário da Manhã, 21 março 1926, p.3).
(13) Diário da Manhã, 29 março de 1911, p.2.
(14) Id. Ib., 25 ago. 1911, p.2.
(15) Id. 15 nov. 1919, p.3.
(16) “Retratos”, Diário da Manhã, 15 fev. 1925, p.6.

Referência: LOPES, Almerinda da Silva. Memória aprisionada: a visualidade fotográfica capixaba, 1850/1950. [Vitória, ES]: EDUFES, 2002.
Fonte: Depoimento do neto do fotógrafo, Geraldo Lucarelli, à autora (LOPES, Almerinda da Silva. Memória aprisionada: a visualidade fotográfica capixaba, 1850/1950. [Vitória, ES?]: EDUFES, 2002), em 24 fevereiro de 1999.
Depoimento de Francisco Quinta Júnior à autora, em 24 fevereiro de 1999.

ALEXANDRE WENCIONECK

Nasceu em Muqui (ES), na década de 1880 e faleceu em Cachoeiro de ltapemirim, nos anos 1960. Era filho de imigrantes poloneses que se estabeleceram na região sul do Estado.
Atuou vários alguns anos como retratista ambulante, circulando pela zona rural do sul do Estado, fazendo retratos e registrando vistas, plantações, paisagens, casamentos, batizados. Apenas em 24 de junho de 1924, comunicava a inauguração de um estúdio denominado Foto Ideal, na rua Vieira Machado, associado a João Dibo. Numa nota publicitária, publicada no jornal O Muquiense, naquela data, eles informam que:
estavam aptos a executar ampliações a óleo, aquarela, pastel, esmalte purificado a fogo e semi-esmalte.
Na década de 1940, transferiu-se para Cachoeiro de ltapemirim, onde abriu uma oficina de relojoeiro e ourives, abandonando a profissão de fotógrafo.
Referência: LOPES, Almerinda da Silva. Memória aprisionada: a visualidade fotográfica capixaba, 1850/1950. [Vitória, ES]: EDUFES, 2002.
Fontes: O Muquiense, 24 de junho de 1924.
RAMBALDUCCI, Ney Costa. Muqui: passado de glória, futuro de esperança. Rio de Janeiro, Achiamé, 1991.
Depoimento de Eglina Wencioneck Tedaldi Filgueiras (sobrinha do fotógrado), à autora, em Muqui, no dia 16 de abril de 1999.


ALFREDO MAZZEI

Nasceu em Ubá-MG, a 3 de agosto de 1904. Faleceu em Vitória, a 13 de maio de 1981. Filho de lavradores italianos originários da região de Roma, teve uma infância humilde.
Aos 9 anos de idade, começou a trabalhar para ajudar a família. Foi vendedor de amendoins e pintor.
Aos 16 anos de idade, começou a aprender os processos fotográficos com o irmão, Celidônio Mazzei, nascido na Itália e 14 anos mais velho que Alfredo. No final da década de 1920, transferiu-se para Cachoeiro de Itapemirim, onde começou a atuar como fotógrafo. Chega a Vitória a 11 de abril de 1931, "no encalço de alguns oficiais da Policia Militar que voltavam da Revolução de 30 e tinham feito fotografias em seus estúdios cachoeirenses. Saiu para receber na época 300 mil réis". (1)
Maria Henriqueta e Maria de lurdes Lindenberg.
Autor: Foto Mazzei.
Data: 1933.
Dimensões: 19,5 x 14,8 cm.
acervo: Maria Lindenberg, Vitória.
No entanto, em janeiro daquele mesmo ano, publicava na revista Vida Capichaba uma vista de Cachoeiro de Itapemirim. Uma matéria, na mesma revista, informava sobre a exposição de "diversos trabalhos fotográficos do conhecido artista A. Mazzei; perfeito conhecedor do seu ofício, na montra do Pan Americano", o qual passaria a ser "o colaborador artístico daquele periódico". (2) A boa receptividade de suas fotografias, expostas na vitrina daquela casa comercial, faz chegar ao artista muitas encomendas para cobertura de eventos sociais (banquetes, casamentos, aniversários de crianças e jovens, cerimônias de batizados e retratos de crianças no dia da primeira comunhão, formaturas, etc). Enquanto procurava os devedpres que o trouxeram a Vitória, Mazzei hospedou-se no Hotel Central (onde mais tarde se onstalou o Magazine Helal). Sem dinheiro e já sem muita esperança de receber o que lhe deviam, ele decide então trabalhar como fotógrafo profissional em Vitória. Monta um laboratório fotográfico num “amplo e confortável compartimento conveniente aparelhado (...), que pode ser comparado a um dos melhores da Capital da República, (3) no edifício do Banco Inglês (depois Banco de Crédito Real de Minas Gerais):
Mazzei conhecido e festejado artista da objectiva comunicou-nos haver instalado o seu studio nos altos do edifício de Banco Inglez. Brevemente fará nesta capital uma interessante exposição dos seus trabalhos, em que figurarão os principaes elementos da nossa sociedade bem como os aspectos mais pitorescos da nossa natureza. (4)
No entanto, antes mesmo de instalar esse ateliê, Mazzei realizava uma exposição de seus trabalhos numa vitrina de uma casa comercial:
O sr,. Mazzei expôs na vitrine do Pan-Americano, alguns dos seus trabalhos fotográficos. Todos quantos os viram não regatearam aplausos ao inteligente e caprichoso, que sabe com a sua objectiva focalizar os aspectos mais interessantes da nossa natureza e as expressões mais sutis do rosto humano. Mazzei que vem montar atelier nesta capital organizará uma variada collecção de vistas panorâmicas e de retratos das principais figuras do nosso mundo social para uma exposição futuramente. (5)
Os articulistas da imprensa local davam destaque, em todas as matérias, às poses originais e aos extraordinários efeitos de luz, que o autor imprimia aos retratos das personalidades da elite local. (6)
Realizou também mostras de seus trabalhos, sempre com ampla cobertura da imprensa local, a exemplo deste comentário, que recebeu o titulo de A Arte fotográfica moderna:
Os raios ultravioleta, para fotografias, vêm revolucionar a moderna arte fotográfica. Até a pouco era o americano no norte o único a aplicar esses raios para produzir fotografias. Mazzei, dando mais uma prova de seu desejo de bem servir a nossa capital, vem de melhorar consideravelmente a sua aparelhagem fotográfica, para a perfeita execução de retratos comparáveis aos até agora feitos pelos norte-americanos.
Em princípios do próximo mês de fevereiro, o Studio Mazzei inaugurará uma linda exposição, que certamente, trará momentos de prazer para a culta sociedade capichaba. A melhor boa vontade vem o Mazzei demonstrando na realização dessa moderna inovação na arte fotográfica. (7)
Animado com a boa receptividade do público a essas mostras, Mazzei aluga uma vitrina "dedicada à sociedade elegante da capital" e às paisagens capixabas, no saguão do Teatro Glória, para manter em exposição permanente as suas fotografias. O acervo exposto era renovado semanalmente, sempre aos domingos. Segundo informações da imprensa da época, essa vitrina possuía uma base de mármore, com o nome do artista-fotógrafo. Ainda segundo essas mesmas fontes, pelo local passavam cerca de três mil pessoas, para assistir à exibição de filmes e de peças teatrais e, conseqüentemente, a vitrina do fotógrafo não passava despercebida:
O excelente photógrapho A. Mazzei, já bastante conhecido pelos seus belos trabalhos e criações photográphicas, alugou uma vitrine na sala de espera do teatro Glória, onde fará uma exposição permanente de seus artísticos trabalhos. Terá assim o nosso público uma ótima oportunidade de apreciar a obra de arte valiosa de Mazzei, porque o local escolhido, um ponto central da cidade, é quase da nossa sociedade elegante, muito facilita aos que gostam de admirar a arte da photographia maximé, sabendo-se que seu autor é um perfeito conhecedor da profissão que escolheu ( ... ). (8)
Incansável, Mazzei tenta se superar a cada trabalho, renovando sempre os processos e as técnicas e mantendo sempre bem-equipado o seu estúdio. Desde que aqui chegou, ele produz intensamente, seja retratos de personalidades da política e belas mulheres capixabas, seja vistas, monumentos e paisagens do Espírito Santo, com destaque para os crepúsculos e os amanheceres. Foi também um dos mais requisitados fotógrafos para documentar casamentos, aniversários, batizados, bailes e outras atividades nos clubes sociais de Vitória. Especializou-se também em quadros de formatura.
Mazzei: o melhor serviço fotográfico, às suas ordens. Retratos de festas, casamentos, homenagens, formaturas, etc. Atendemos chamados para fora de Vitória. Rua Jerônimo Monteiro, 381-Vitória. (9)
Este fragmento de uma matéria sobre o trabalho do fotógrafo, esclarece um pouco mais sobre a diversidade de trabalhos realizados por ele:
Hoje a fotografia tornou urna forma de arte verdadeira, é de salientar o quanto ela progrediu entre nós. Dedicou-se ao retrato, mas, foi além: às ampliações, aos trabalhos de porcelana e vidro, à paisagem a óleo. Para maio deste ano Mazzei nos promete uma grande exposição ( ... ) no hall do Cine Glória. (10)
Em 1937, inaugura um ateliê de fotogravura para elaborar trabalhos destinados à imprensa, com a colaboração de profissionais de Minas Gerais, segundo informação desta nota publicitária:
Anexo ao Studio Mazzei será inaugurado amanhã, nesta Capital, o atelier de fotogravura de Mazzei, o conhecido e competente artista da fotografia que a cidade admira.
A oficina de gravação de que vai ser dotada a nossa capital, estará entregue à perícia de verdadeiros profissionais, contratados especialmente em Belo Horizonte, em cuja imprensa estiveram durante longo tempo, empregando, naquela arte as atividades, achando-se, para poder alcançar o seu objetivo, perfeitamente aparelhada e modernamente instalada, à Av. Capixaba, 57. (11)

Maria Queirós Lindenberg e Carlos Fernando 
Lindenberg Filho.
Autor: Foto Mazzei.
Data: 1936.
Dimensões: 21,5 x 15,5 cm (diâmetro do oval);
29,5 x 21x5 cm (campo papel).
Acervo Maria Lindenberg.
Em razão desse empreendimento o fotógrafo era credenciado pela Companhia Editora Americana, naquele mesmo ano, para fazer a cobertura dos eventos sociais do Estado, para a Revista da Semana. (12) Mas colaborava também com as revistas locais Vida Capichaba, desde a década de 20, e Chanaan, nos anos 30, enviando seus trabalhos para ilustração das páginas desses periódicos.
Na década de 1940, quando amplia o negócio e instala seu estúdio na Rua Jerônimo Monteiro, propõe-se a elaborar retratos artísticos, recorrendo à pose, a cenários e ao retoque.
Dependendo do interesse do cliente, os retratos eram ampliados até um metro de altura, para elaboração das fotopinturas, pintando depois as imagens com tinta a óleo francesa, que importava diretamente da Europa. Esses trabalhos eram oferecidos nos jornais da época como "retratos artísticos de luxo". Fazia também montagens fotográficas pintadas, reveladoras de seu talento para a arte, declarando-se, em entrevistas, um "pintor frustrado". Assinava depois suas fotopinturas, como se fossem mesmo obras de arte, chegando a afirmar que "fotografia é coisa de artista". Esse tipo de retratística não lhe garantiu, entretanto, a sobrevivência, uma vez que o preço cobrado pelos trabalhos, 40 mil réis a unidade, tornava-os acessíveis a uma clientela restrita, o que o levou a substituir a foto artística por processos mecânicos ou mais vulgarizados. Mesmo assim, calculava em cerca de 500 o número de fotopinturas realizadas.
Em 1943, transferiu seu gabinete fotográfico, localizado à Rua Jerônimo Monteiro, 365, para Jamil Merjane, mudando-se temporariamente para Minas Gerais, atendendo a um convite do governo daquele Estado para trabalhar como fotógrafo oficial. O novo proprietário conserva, todavia, o nome anterior do Studio Mazzei, conforme se constata nesta declaração do próprio Mazzei:
Tendo que atender temporariamente a serviços fora desta capital, resolvi vender a Casa Studio Mazzei, à rua Jerônimo Monteiro, 365, ao Sr. Jamil Merjane, de modo que desde o dia 2 de dezembro os trabalhos fotográficos estão sendo feitos sob a orientação do novo proprietário. Entretanto, estou terminando todos os trabalhos de compromissos anteriormente assumidos, os quais ficarão ultimamente até 15 de janeiro de 1943.
Oportunamente terei o prazer de comunicar à praça e aos meus amigos onde poderei novamente merecer seus favores e confiança no desempenho de minha profissão. A. Mazzei. (13)
Resolve depois estabelecer-se, na mesma época, no ramo industrial, abrindo uma fábrica de sabonetes e bebidas. A paixão pela fotografia fez com que desistisse rapidamente desse empreendimento, retomando em Vitória as atividades no ateliê, depois de ganhar o direito de voltar ao empreendimento, uma vez que Merjane continuou sempre usando o nome e a credibilidade de Mazzei, mantendo a denominação anterior do estúdio.
O interesse pela fotografia como arte e a vontade de manter-se sintonizado com todas as novidades e atualizado, do ponto de vista técnico e artístico, aproximou-o dos amadores do Foto Clube do Espírito Santo, ao qual se associou, embora não chegasse a freqüentar suas reuniões, excursões e demais atividades. Procurava adquirir os equipamentos e materiais mais modernos lançados no mercado pelos comerciantes do ramo fotográfico, introduzindo-os em primeira mão no Espírito Santo. Ainda nos anos 40, o magnésio foi o recurso mais inovador usado para clarear os ambientes à noite. No início da década seguinte, enquanto todos os fotógrafos ainda continuavam a usar o magnésio, Mazzei introduziu, não apenas no Espírito Santo, mas foi o pioneiro no Brasil, o emprego do flash, importado por ele com a ajuda da Central Brasileira, tendo usado o recurso pela primeira vez na cobertura da visita de Getúlio Vargas a Vitória. O uso do flash, mesmo consumindo uma nova lâmpada a cada foto batida, deixa perplexos os fotógrafos da comitiva presidencial e o próprio visitante.

Aniversário de Luiz Mário Nalin (menino de terno e gravata, em frente à mesa). Entre os convidados: Biblides Mazzei, Juraci Machado, Isaltina Paoliello. Zélia Ferrari, Celisa S. Nalin e José Agostinho P. Nalin. Autor: Foto Mazzei. Data: 1947. Dimensões: 16,7 x 22,6 cm. Acervo: Celina S. Nalin.

O advento dos filmes coloridos, que passam a ser revelados por laboratórios industriais e as câmaras fotográficas cada vez mais baratas e fáceis de manipular, fazem desaparecer a fotopintura, restringindo a atividade dos fotógrafos aos retratos para documentos e às reportagens especiais, geralmente casamentos e eventos de natureza política, como visitas de autoridades e inaugurações. Porém, isso não impediu que Mazzei continuasse a produzir muitos retratos artísticos dos familiares, vistas e paisagens em branco e preto, quase até o fim da vida.
Notas: (1) Rogério Medeiros, 1994, p.13.
(2) Vida Capichaba, 269, 29 mar. 1931.
(3) Id. Ib., 12 julho 1929 e 08 de jul. 1931, p.1.
(4) “Studio Mazzei”, Diário da Manhã, 18 abril 1931.
(5) “Notas de Arte”, Id. Ib. 28 mar. 1931, p.2.
(6) “Studio Mazzei”, Diário da Manhã, 22 maio 1931, p.1.
(7) “A fotografia moderna”, Diário da Manhã, Vitória, 21 jan. 1934, p.4.
(8) “Exposição Mazzei”, Diário da Manhã, Vitória, 06 fev. 1936, p.7.
(9) A Gazeta, 18 jun. 1948, p.6.
(10) “A respeito de uma exposição fotográfica”, Chanaan, (2), ano 1, fev. 1936, p.20.
(11) “Um atelier de fotogravura em Vitória”, Diário da Manhã, Vitória, 08 ago. 1937, p.1.
(12) Diário da Manhã, Vitória, 8 out. 1937, p.1. a Companhia Editora americana editava as revistas Eu sei de Tudo, A Scena Muda, Almanack Eu sei de Tudo, além da Revista da Semana.
(13) A Gazeta, 01 jan. 1943, p.4.
Referência: LOPES, Almerinda da Silva. Memória aprisionada: a visualidade fotográfica capixaba, 1850/1950. [Vitória, ES]: EDUFES, 2002.
Fontes: A Gazeta, Vitória, 01 jan. 1943, p.4; 04 fev. 1943, p.4; 18 jun. 1948, p.6. "Arte: A . Mazzei (fotógrafo)", Vida Capichaba, Vitória, 269, 28 mar. 1931.
A Tribuna, Vitória, 22 ago. 1946, p.8.
Chanaan, Vitória, (1),2:20, fev. 1936).
Diário da Manhã, Vitória, 12 jun. 1929, p.1; 08 e 12 jul.1931, p.1; 21 jan. 1934, p.4; 06 fev. 1936, p.7; 18 fev. 1936, p.8; 08 ago. 1937, p.1; 8 out. 1937, p.1.
MEDEIROS, Rogério, "Entre uma revelação e outra: Alfredo Mazzei", Vitória, Você, (IH), 27:11-18, out/nov, 1994.
NASCIMENTO, Gese M. L. O Foto Clube do Espírito Santo. Vitória, UFES, 1997;
Vida Capichaba, Vitória, 261, 31 jan. 1931; 450, 28 fev. 1938.


AMADEU BASTOS

Nasceu em São Mateus, Espírito Santo, em 21 de setembro de 1892. Faleceu em 1941, na mesma cidade, de morte natural. Era filho de Dalila Bastos e do delegado Bento Bastos.
Cursou apenas o primário em São Mateus. Casou-se com Mathilde Bastos, com quem teve nove filhos: Amadeu Bastos Filho, Isa, Datan, Neusa, Mário, Gilson, Hugo, Adri e Maria. As duas últimas morreram ainda pequenas.

Loja de João Tannure & Irmão, em Alegre. Autor: Foto Fenestran (atribuída). Data: década de 1940. Dimensões: 18 x 25,2 cm. Acervo: Milute Tancredi.

Foi agente do Serviço da Estrada de Ferro de São Mateus, tendo exercido a função de supervisor de linha e eletricista. Como funcionário, inscreveu-se na Associação dos Funcionários Públicos do Espírito santo (Consórcio Profissional e Corporativo), sob o número 2531, no dia 6 de julho de 1938, em Vitória-ES. Os seus filhos mais velhos, Amadeu, Datan e Isa, foram também funcionários da mesma Estrada de Ferro, até novembro de 1941, quando a mesma foi desativada.
Amadeu Bastos destacou-se em São Mateus principalmente pelo ofício de fotógrafo, no período de 1920 até 1940. Através de suas lentes, registrou acontecimentos que marcaram época, como o movimento de passageiros na estação da cidade; o embarque e o desembraque de cargas e passageiros no Porto (Cidade Baixa); a inauguração do extinto Marcado Municipal, em 1929; o corte das palmeiras imperiais que contornavam o cais, até a década de 40. Fotografou pessoas do povo e gente da burguesia, registrou casamentos e batizados, além de paisagens. Fez também retratos para documentos. Seus trabalhos eram revelados em laboratório próprio, montado em sua própria casa.
Do seu acervo de imagens, pouco foi preservado, retsando apenas um velho álbum de família, doado ao Jornal de são Mateus por Gumercindo Pinto, viúvo de Neusa, filha de Amadeu Bastos e bisavô de Neusita Pinto Nardoto, diretora daquele veículo de comunicação.
Referência: LOPES, Almerinda da Silva. Memória aprisionada: a visualidade fotográfica capixaba, 1850/1950. [Vitória, ES]: EDUFES, 2002.
Fontes: Informações escritas enviadas à autora por Herinéa de Lima e Eliezer Nardoto.
Arquivo Jornal de São Mateus.


AMÉLIA REIS VIANNA

Filha do fotógrafo Sebastião Reis e de Isaura Reis, nasceu em Castelo (Espírito Santo), a 7 de maio de 1919.
Aprendeu a fotografar e a processar as imagens com o próprio pai, quando tinha apenas 14 anos de idade. Juntamente com a irmã mais velha, Isaura, passou a auxiliá-lo nos trabalhos do estúdio que ele mantinha em Cachoeiro de Itapemirim. Com a mudança de Sebastião Reis para Magé, no estado do Rio de Janeiro, onde ele abriu um novo ateliê fotográfico, no final dos anos 30, Amélia deu continuidade à profissão paterna, instalando o próprio empreendimento, denominado Foto Brasil, localizado na Rua Coronel Francisco Braga n. 63. Tornou-se assim a primeira fotógrafa profissional de Cachoeiro de Itapemirim.
Além de retratos da elite cachoeirana, fotografava também casamentos, batizados, formaturas, crianças recebendo a primeira comunhão etc., atendendo também a clientes de toda a região. Esta propaganda do Foto Brasil dá mais informações sobre a especialidade de Amélia Vianna:
Uma foto com todos os recursos artísticos, prima pelo bom tratamento que dá às suas encomendas, procurando sempre satisfazer seus numerosos fregueses. Seus serviços são feitos com rapidez e com a maior perfeição. Aceitam-se encomendas de ampliações em todos os tipos. Atende-se a domicílio. (1)
Casou-se, em 30 de março de 1939, com Mário Ribeiro Vianna, falecido em 22 de fevereiro de 1953, com o qual teve dois filhos, Dario Humberto Vianna e Romário Reis Vianna. Exerceu a profissão de fotógrafa até 1974, quando se aposentou. Transferiu o Foto Brasil ao filho Romário, o qual exerceu a mesma atividade da mãe por cerca de 20 anos.
Nota: (1) Vida Capichaba, Vitória, 640, junho 1946.
Referência: LOPES, Almerinda da Silva. Memória aprisionada: a visualidade fotográfica capixaba, 1850/1950. [Vitória, ES]: EDUFES, 2002.
Fonte: Depoimento escrito enviado à autora, por Romário Reis Vianna, filho da fotógrafa. Vida Capichaha, Vitória, 640, jun. 1946.


AMÉRICO GAVA

Nasceu em Topaligo, província de Treviso, a 21 de dezembro de 1916. Chegou a Valsugana, município de Santa Teresa, com apenas dois anos de idade, acompanhando os pais que retornavam ao Espírito Santo, depois de passarem alguns anos na Itália. Casou-se em Valsugana, com Maria Zotelle, filha de imigrantes italianos, mas ali nascida. Dessa união teve quatro filhos: Maria Eleta, Dalto, Francisco Luiz e Dalva.
Maria Linhares com a boneca.
Autor: Américo Gava, Colatina.
Data: cerca de 1950. 
Dimensões: 15,5 x 12,2 cm.
Acervo: Norma Marrochi.
Reprografia; Jove Fagundes.
Nas suas itinerâncias pela zona rural de Colatina, interessou-se em registrar anomalias e curiosidades (como frutos raízes animais, xifópagos), algumas das quais permanecem até hoje expostas numa vitrina de seu estabelecimento.
Américo deu continuidade à atividade profissional do pai, Francisco Décimo Gava, mantendo o empreendimento com a denominação de Foto Gava, no mesmo endereço, trabalhando até recentemente. O seu oficio teve continuidade através do filho Dalto Gava (nascido em 1947), que aprendeu muito cedo a manipular as químicas, auxiliando o pai. Assumiu a incumbência de manter viva a atividade profissional do avô, a partir dos anos 80, quando se aposentou no ramo de comércio. O trabalho se restringe hoje, praticamente, a retratos coloridos para documentos e reportagens de casamento, em razão da banalização e massificação dos processos fotográficos. Mas, ao que tudo indica, a atividade profissional da família Gava terá continuidade com um bisneto de Francisco e filho de Dalto, e um sobrinho deste, de nome Sandro, que trabalham hoje como assistentes do pai e tio, no estúdio e no laboratório.
No passado, outros membros dessa família se estabeleceram como fotógrafos, entre os quais um primo de América Gava, que manteve um estabelecimento em Linhares.
Referência: LOPES, Almerinda da Silva. Memória aprisionada: a visualidade fotográfica capixaba, 1850/1950. [Vitória, ES]: EDUFES, 2002.
Fonte: Depoimento à autora em 17 de fevereiro de 1999.