domingo, 27 de maio de 2018

JOÃO DE OLIVEIRA

Nasceu em Três Irmãos, estado do Rio de Janeiro, a 24 de junho de 1891. Filho de Claudino de Oliveira e Maria Medeiros de Oliveira. Faleceu em Marataízes (ES), a 28 de maio de 1977, aos 85 anos de idade.

Aprendeu a fotografar, ainda muito moço, com o irmão, Sebastião de Oliveira, fotógrafo amador, que exerceu depois a função de coletor de impostos em Santa Leopoldina.

Curva do Saldanha da Gama (bilhete postal). Autor: João de Oliveira. Data: c.1940. Acervo: Carlos Laet de Oliveira.
Depois de se transferir para Cachoeiro de Itapemirim, no início dos anos 20, passa a trabalhar como fotógrafo profissional, viajando por todo o Espírito Santo, fazendo retratos, ampliações e vistas, paisagens e monumentos. Fotografava os bailes e os blocos carnavalescos, alguns dos quais muito conhecidos na época em toda a região pela sua irreverência, a exemplo do bloco denominado "Futuristas e Passadistas". Retratava também as formaturas dos colégios mais renomados do seu tempo em Cachoeiro, como o Pedro Palácios. Mantinha o estúdio e o laboratório, onde preparava as chapas e revelava os filmes, na própria residência, à Praça Coronel Marins, naquela cidade do sul do Estado. A fama de exímio retocador permitia-lhe corrigir pequenas "imperfeições" nos retratados ou mesmo acrescentar algum acessório considerado importante, como gravatas e jóias, corrigir armações de óculos muito pesadas ou muito grandes,  em proporção ao tamanho da face, pentear cabeleiras desalinhadas. Isto desmontava a antiga concepção do retrato como cópia ou como reprodução da objetividade, mostrando que a fotografia podia também mentir, camuflar, interpretar e ser mais condescendente com o mundo. Os trabalhos de Oliveira se destacam pela inventividade das poses, pela harmonia das composições e pelos contrastes de luz e sombra, que lhe permitiam criar efeitos inusitados, que o tornaram um dos fotógrafos mais requisitados pelas famílias mais abastadas da região, tanto para retratos como para registrar casamentos, batizados e outras cerimônias sociais e religiosas. A esse respeito, parentes e amigos do fotógrafo contam alguns episódios. Sabendo da dificuldade do amigo Jeremias Sandoval em deixar-se retratar, por não lhe agradar ver o corpo obeso estampado nas fotografias, qual não foi a surpresa e a satisfação dele quando recebeu os retratos e constatou que havia sido representado muito mais magro, graças à mágica do lápis de retocar do fotógrafo. Em outra ocasião, ao revelar as cenas de um casamento de casal abastado, constatou que entre os convidados havia um homem sem gravata, o que era considerado falha grave aos bons costumes e um desrespeito à família, naquela época. João de Oliveira não teve dúvida, completou o traje, solucionando o problema, antes que os encomendários recebessem as fotografias.

Isaura Borges
Autor: João de Oliveira
Data: 1919.
Dimensões: 13x8,5 cm; 
16,5x10 cm(suporte)
Acervo: Bernadette e Olga Rubim.
Montava seus retratos sobre suportes de papelão adornados com cabeças femininas de perfil, contornadas por guirlandas ou por motivos vegetais estilizados em relevo, que remetem ao estilo art nouveau, com uma janela oval no centro para deixar ver apenas a imagem, que assumia assim essa mesma forma. Dessa maneira, as bordas brancas do fundo, circundando os retratados, eram ocultadas pelo papelão. Até a década de 30, costumava carimbar no verso de suas fotografias ou na base inferior do suporte a seguinte legenda: João de Oliveira (na parte superior), fotógrafo (no meio), Cachoeiro de Itapemirim (embaixo). As fotografias posteriores a essa década não são mais identificadas ou assinadas.

Em 1935, João de Oliveira (também conhecido como Zizinho), casa-se com Edite Tavares de Oliveira (natural de Campos-RJ) e o casal passa a residir em Vitória. Embora já bastante conhecido pelos seus trabalhos também nesta cidade, os primeiros tempos são difíceis. Trabalha na própria residência, à Rua Waldemir da Silveira, 140, em Jucutuquara, revelando os filmes num laboratório improvisado num pequeno compartimento. Continua viajando longos períodos, por todas as regiões do Estado, à procura de clientela, deslocando-se com mais freqüência a São Mateus, às vezes acompanhado da esposa e dos filhos pequenos. Hospedava-se no hotel Peçanha, como convidado oficial para documentar os festejos do dia da cidade.

Lina Borges Marques
Autor: João de Oliveira
Photografo (Cachoeiro de Itapemirim - carimbi verso)
Data: 12/01/1920
Dimensões: 11,5x7,5 cm
Acervo: Olga Rubim e Bernadette R. Teixeira.
Depois da Segunda Guerra, comprou o empreendimento fotográfico de Manoel Fundão, que funcionava no edifício Tabajara, denominado Stúdio Fundão, o qual havia pertencido antes ao foto Paes, mantendo a mesma denominação de Foto Arte, que lhe fora atribuída por Paes. Nesse estúdio fixo, intensificou a produção de retratos para documentos, mas também criou ambientações ilusórias, recorrendo a móveis, roupas e outros objetos, além de jogos de luzes que lhe permitiam explorar curiosos efeitos nos retratos elaborados em estúdio, que continuam tendo tratamento de obra de arte, especialmente no requinte dos retoques. Elabora também ampliações de até um metro de altura, a partir de pequenos retratos, que recebem tratamento especial, seja nos efeitos de luz, seja em pequenas correções ou modificações por meio de retoques. Tornaram-se famosas as poses e alguns artifícios utilizados para dar um toque de sensualidade a certos retratos femininos, a pedido das próprias retratadas, tirando partido de efeitos da luz e dos trajes, em especial dos decotes e transparências obtidas com um tecido de tule, nos quais inseria uma rosa. No entanto, essas imagens, que causaram algum mal-estar em algumas famílias, não passam hoje de ingênuos retratos, se comparadas aos nus e aos apelos à sensualidade nas poses dos modelos fotográficos estampados em revistas comerciais.

A falta de dinheiro e a concorrência, numa época em que surgiam muitos empreendimentos fotográficos comerciais, foram sempre encarados com muita inventividade e capacidade por João de Oliveira. Criou câmaras de fole para fotógrafos lambe-lambe, estampas religiosas, cartões postais com vistas de ruas, cidades e monumentos. Além de ampliações de retratos de políticos, criou imagens inovadoras para as campanhas políticas de Vitória e municípios vizinhos, recorrendo inclusive à montagem fotográfica. Este último recurso obteve grande sucesso entre os candidatos, em razão da novidade que representava naquele momento, no Espírito Santo. Essas imagens tomaram-se precursoras dos atuais "santinhos".

Procurou manter-se sempre em contato com as novidades internacionais, no que se refere
Carlos Laet de Oliveira
Autor: João de Oliveira
Data: Década de 1950
Dimensões: 11,5x7 cm.
Acervo: Carlos Laet de Oliveira
a recursos químicos e equipamentos fotográficos, que lhe chegavam através de leituras ou do contato com outros profissionais. Tomou-se amigo de vários fotógrafos profissionais, entre eles, Joaquim Lopes Sá, Ugo Musso, Jamil Merjane, bem como de Nestor Cinelli, os quais conheceu no Empório Capichaba. Ensinou a vários jovens a arte fotográfica. Alguns deles, que foram seus assistentes, viriam depois a estabelecer-se profissionalmente, a exemplo do sobrinho Rui de Oliveira e Gilmar Couto Teixeira.

Exerceu a profissão de fotógrafo por mais de 60 anos, deixando de trabalhar pouco tempo antes de falecer, na década de 70.

Referência: LOPES, Almerinda da Silva. Memória aprisionada: a visualidade fotográfica capixaba, 1850/1950. [Vitória, ES?]: EDUFES, 2002.

Fonte: Depoimento de Carlos Laet de Oliveira, filho de João de Oliveira, e de Edite Tavares de Oliveira, viúva do fotógrafo, à autora em Vila Velha, em 23 de janeiro de 1999.


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