Nasceu em Três Irmãos, estado do Rio de Janeiro, a 24 de junho de 1891. Filho de Claudino de Oliveira e Maria Medeiros de Oliveira. Faleceu em Marataízes (ES), a 28 de maio de 1977, aos 85 anos de idade.
Aprendeu a fotografar, ainda muito moço, com o irmão, Sebastião de Oliveira, fotógrafo amador, que exerceu depois a função de coletor de impostos em Santa Leopoldina.
Depois de se transferir para Cachoeiro de Itapemirim, no início dos anos 20, passa a trabalhar como fotógrafo profissional, viajando por todo o Espírito Santo, fazendo retratos, ampliações e vistas, paisagens e monumentos. Fotografava os bailes e os blocos carnavalescos, alguns dos quais muito conhecidos na época em toda a região pela sua irreverência, a exemplo do bloco denominado "Futuristas e Passadistas". Retratava também as formaturas dos colégios mais renomados do seu tempo em Cachoeiro, como o Pedro Palácios. Mantinha o estúdio e o laboratório, onde preparava as chapas e revelava os filmes, na própria residência, à Praça Coronel Marins, naquela cidade do sul do Estado. A fama de exímio retocador permitia-lhe corrigir pequenas "imperfeições" nos retratados ou mesmo acrescentar algum acessório considerado importante, como gravatas e jóias, corrigir armações de óculos muito pesadas ou muito grandes, em proporção ao tamanho da face, pentear cabeleiras desalinhadas. Isto desmontava a antiga concepção do retrato como cópia ou como reprodução da objetividade, mostrando que a fotografia podia também mentir, camuflar, interpretar e ser mais condescendente com o mundo. Os trabalhos de Oliveira se destacam pela inventividade das poses, pela harmonia das composições e pelos contrastes de luz e sombra, que lhe permitiam criar efeitos inusitados, que o tornaram um dos fotógrafos mais requisitados pelas famílias mais abastadas da região, tanto para retratos como para registrar casamentos, batizados e outras cerimônias sociais e religiosas. A esse respeito, parentes e amigos do fotógrafo contam alguns episódios. Sabendo da dificuldade do amigo Jeremias Sandoval em deixar-se retratar, por não lhe agradar ver o corpo obeso estampado nas fotografias, qual não foi a surpresa e a satisfação dele quando recebeu os retratos e constatou que havia sido representado muito mais magro, graças à mágica do lápis de retocar do fotógrafo. Em outra ocasião, ao revelar as cenas de um casamento de casal abastado, constatou que entre os convidados havia um homem sem gravata, o que era considerado falha grave aos bons costumes e um desrespeito à família, naquela época. João de Oliveira não teve dúvida, completou o traje, solucionando o problema, antes que os encomendários recebessem as fotografias.
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Curva do Saldanha da Gama (bilhete postal). Autor: João de Oliveira. Data: c.1940. Acervo: Carlos Laet de Oliveira. |
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Isaura Borges
Autor: João de Oliveira
Data: 1919.
Dimensões: 13x8,5 cm;
16,5x10 cm(suporte)
Acervo: Bernadette e Olga Rubim.
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Em 1935, João de Oliveira (também conhecido como Zizinho), casa-se com Edite Tavares de Oliveira (natural de Campos-RJ) e o casal passa a residir em Vitória. Embora já bastante conhecido pelos seus trabalhos também nesta cidade, os primeiros tempos são difíceis. Trabalha na própria residência, à Rua Waldemir da Silveira, 140, em Jucutuquara, revelando os filmes num laboratório improvisado num pequeno compartimento. Continua viajando longos períodos, por todas as regiões do Estado, à procura de clientela, deslocando-se com mais freqüência a São Mateus, às vezes acompanhado da esposa e dos filhos pequenos. Hospedava-se no hotel Peçanha, como convidado oficial para documentar os festejos do dia da cidade.
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Lina Borges Marques
Autor: João de Oliveira
Photografo (Cachoeiro de Itapemirim - carimbi verso)
Data: 12/01/1920
Dimensões: 11,5x7,5 cm
Acervo: Olga Rubim e Bernadette R. Teixeira.
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A falta de dinheiro e a concorrência, numa época em que surgiam muitos empreendimentos fotográficos comerciais, foram sempre encarados com muita inventividade e capacidade por João de Oliveira. Criou câmaras de fole para fotógrafos lambe-lambe, estampas religiosas, cartões postais com vistas de ruas, cidades e monumentos. Além de ampliações de retratos de políticos, criou imagens inovadoras para as campanhas políticas de Vitória e municípios vizinhos, recorrendo inclusive à montagem fotográfica. Este último recurso obteve grande sucesso entre os candidatos, em razão da novidade que representava naquele momento, no Espírito Santo. Essas imagens tomaram-se precursoras dos atuais "santinhos".
Procurou manter-se sempre em contato com as novidades internacionais, no que se refere
a recursos químicos e equipamentos fotográficos, que lhe chegavam através de leituras ou do contato com outros profissionais. Tomou-se amigo de vários fotógrafos profissionais, entre eles, Joaquim Lopes Sá, Ugo Musso, Jamil Merjane, bem como de Nestor Cinelli, os quais conheceu no Empório Capichaba. Ensinou a vários jovens a arte fotográfica. Alguns deles, que foram seus assistentes, viriam depois a estabelecer-se profissionalmente, a exemplo do sobrinho Rui de Oliveira e Gilmar Couto Teixeira.
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Carlos Laet de Oliveira
Autor: João de Oliveira
Data: Década de 1950
Dimensões: 11,5x7 cm.
Acervo: Carlos Laet de Oliveira
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Exerceu a profissão de fotógrafo por mais de 60 anos, deixando de trabalhar pouco tempo antes de falecer, na década de 70.
Referência: LOPES, Almerinda da Silva. Memória aprisionada: a visualidade fotográfica capixaba, 1850/1950. [Vitória, ES?]: EDUFES, 2002.
Fonte: Depoimento de Carlos Laet de Oliveira, filho de João de Oliveira, e de Edite Tavares de Oliveira, viúva do fotógrafo, à autora em Vila Velha, em 23 de janeiro de 1999.
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