domingo, 27 de maio de 2018

JOÃO AYRES DE SOUZA ALVARENGA

Nasceu em Alegre (ES), a 23 de junho de 1920. A mãe, Armantina Bueno Alvarenga, era originária do estado do Rio de Janeiro, e o pai, Antonio Bueno Alvarenga, era um dentista mineiro que veio exercer a profissão em Alegre.
Revelando muito cedo talento para a arte, os dotes de desenhista de João Ayres eram notados por colegas e familiares. Ainda bastante jovem, interessou-se pela fotografia, maneira que encontrou para lidar com o desenho, através dos lápis e pincéis que usava para retocar as imagens. Comprou uma câmara em Vitória, aprendeu a fotografar, revelar e reproduzir os retratos, com a orientação de alguns amigos e lendo sobre o assunto em manuais. Fascinado por essa arte, vai-se aperfeiçoando, atuando como amador e aceitando algumas encomendas de retratos.
Viveu e cursou contabilidade na cidade natal, até se alistar no serviço militar, quando seguiu para o Rio de Janeiro para cursar a escola de oficiais. Ao deixar o exército, em 1947, passa a viver em Itabira (MG), cidade onde passa a trabalhar como fotógrafo, depois de passar uma temporada em Vitória, aperfeiçoando-se com Mazzei e ele adquirir uma câmara e outros equipamentos necessários a um profissional. A aproximação foi feita por um irmão de Ayres, que era amigo do conceituado fotógrafo vitoriense. Este lhe revelou os segredos das tintas importadas dos Estados Unidos, uma espécie de aquarela, que era comprada em tabletes e dissolvida em água, usada por ele para colorir os retratos ampliados, que mais pareciam pinturas e eram disputados pela elite. Ensinou-lhe também outros recursos e possibilidades de retoque e efeitos de luz. Em Itabira, além de retratos, fazia reportagens de casamento, de debutantes e dos bailes nos clubes da cidade. Já casado com Maria Nadir Santos Alvarenga, contava com a ajuda da esposa nos trabalhos de retoque, coloração e reprodução das imagens, o que lhe permitiu trabalhar numa escala quase industrial, tal era a rapidez com que elaborava os seus retratos. Batia as fotos dos casais dançando, logo no início dos bailes, corria para casa e ambos revelavam os filmes, voltando ao clube para vender os retratos aos interessados, no final do baile.
Em 1949, transfere-se para Colatina, onde abre o Foto Ayres, montando um estúdio especializado em retratos de crianças. Para isso, recorre a brinquedos e a outros objetos, usados para compor a cena ou para obter instantâneos ou poses mais espontâneas. Fazia estudos minuciosos dos jogos de sombras e dos contrastes de luz, atributos que tornaram o seu estabelecimento muito requisitado e seus trabalhos muito apreciados, até em outros estados.
As fotografias de noivas que elaborou eram muito disputadas pela elite de Colatina, tal a naturalidade com que captava seus instantâneos, os enquadramentos, cortes, rostos em close-up e os contrastes de luz que utilizava. Isso lhe valeu encomendas para fazer reportagens em diferentes regiões do Estado.
O material fotográfico era adquirido em lojas especializadas do Rio de Janeiro e de São Paulo.
Pouco depois de abrir o estabelecimento, recebeu a visita de um ex-fotógrafo inglês, Victor Cliford, premiado em várias exposições internacionais, que viera a Colatina para dar um curso de culinária. Durante a sua permanência na cidade, interessou-se pelo trabalho de Ayres, Depois de ver algumas imagens elaboradas por ele. À medida que via as fotos fazia comentários opinativos, conselhos que foram bastante oportunos e úteis para a sua carreira, segundo Ayres.
Na metade dos anos 50, Ayres mudou o seu estúdio para a Rua da Independência, onde se dedicou especialmente a elaborar retratos de personalidades e dos artistas de rádio que se apresentavam na emissora aberta em Colatina, e que eram retocadas e coloridas minuciosamente, assumindo características de pintura. Publicava anúncios usando, o slogan: ''Foto Ayres: o fotógrafo que a elite prefere". Pouco tempo depois, desmontou o estúdio e passou a trabalhar em casa, deslocando-se apenas para fazer reportagens de casamentos, batizados e bailes de debutantes, revelando, ampliando, retocando e copiando sozinho as fotos. Chegou a registrar cirurgias, a pedido do médico Ubaldo Caetano, em Cachoeiro de ltapemirim.
Assinava as fotos: Ayres (Colatina).
Em 1974, ao aposentar-se, ingressa na Faculdade de Direito de Colatina, concluindo o curso em 1979. Entretanto, nunca exerceu a profissão de advogado, preferindo continuar fazendo reportagens de casamentos, fotografando ou filmando a cerimônia e a recepção, atividades que desenvolveu até 1996, quando deixou definitivamente de produzir retratos.
Referência: LOPES, Almerinda da Silva. Memória aprisionada: a visualidade fotográfica capixaba, 1850/1950. [Vitória, ES?]: EDUFES, 2002.
Fonte: Depoimento de João Ayres de S, Alvarenga, à autora, em sua residência, em Colatina, no dia 17.02.99.


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