Nasceu em Vitória, a 7 de junho de 1916, filho de um pescador português, natural da região do Algarve. Aos 7 anos de idade, a família muda-se para Portugal, lá permanecendo durante oito anos. Retoma a Vitória, em 1931.
Ainda adolescente, interessou-se por aquilo que chama de "magia da arte de desenhar e fotografar", recebendo os primeiros ensinamentos e alguns equipamentos do italiano Alberto Lucarelli, a quem sua família era ligada por laços de amizade. Aos 14 anos, comprou a primeira câmara fotográfica, passando a atuar como auxiliar de Lucarelli, fotógrafo muito atuante e que trabalhava para o governo estadual, desde o início do século XX. Foi adquirindo novos equipamentos para a montagem de um laboratório próprio, inclusive uma câmara bastante sofisticada para a época, capaz de criar um efeito de abaulamento nas fotos, já pensando em se profissionalizar. Passou a fazer retratos para os estúdios dos fotógrafos Paes e Mazzei, especializando-se em ampliações, muito admiradas na época por sua perfeição técnica e pela naturalidade dos modelos. Tais retratos eram um misto de técnica e arte, uma vez que fotografava apenas o rosto da pessoa, projetava-o num papel de grandes proporções e todo o trabalho final era desenhado: roupas, acessórios e cenário. Tornou-se um dos retratistas preferidos da elite local, tal era a perfeição de seu trabalho, passando a receber muitas encomendas desse gênero de imagens, bem como para elaborar documentários de casamentos e outros eventos sociais. Era também o único fotógrafo do seu tempo que fazia retratos pintados com tintas importadas. Abriu então o Estúdio Quintas, que funcionou primeiro na rua Jerônimo Monteiro e depois em vários outros endereços, entre eles a avenida Capixaba e a avenida Cleto Nunes. Com o aumento dos serviços, ensinou o ofício também a um primo e depois a outras pessoas, os quais se tornaram seus auxiliares. Alguns, estimulados pelo próprio mestre, abriram posteriormente empreendimentos próprios.
Ainda na década de 30, passa a trabalhar como autônomo para a Companhia Vale do Rio Doce, fazendo o registro fotográfico dos empregados, para identificação das fichas funcionais que eram enviadas ao Ministério do Trabalho. Instalou, para isso, um laboratório fotográfico numa locomotiva ferroviária, onde também fazia as refeições e dormia à noite, transitando de cidade em cidade, acompanhado por um funcionário daquele Ministério. No início dos anos 40, com a abertura do Empório Capixaba, em Vitória, passou a adquirir ali todo o material fotográfico, o qual era entregue no seu estúdio por Otacílio Coser, então office boy dessa casa especializada. Na mesma loja, conheceu vários fotógrafos amadores que lá revelavam os filmes e adquiriam produtos fotográficos, entre eles Magid Saade. E foi justamente de conversa com Saade, no seu Estúdio Quintas, que surgiu a idéia da fundação do Foto Clube local, em 1946.
Tornou-se também amigo de Ugo Musso, então balconista e uma espécie de técnico em fotografia do Empório Capixaba, uma vez que revelava os filmes e fazia as reproduções, encomendadas pelos amadores. Francisco Quintas convidou então o amigo para trabalhar com ele, oferecendo-lhe sociedade no estúdio que passou a se chamar Foto Arte. Alguns anúncios publicitários informavam os serviços que o empreendimento oferecia:
Executa qualquer serviço fotográfico. A maior organização em ampliações a óleo, pastel e crayon, no Estado. Rua Jerônimo Monteiro, 57 - Vitória.(1)
A sociedade com Musso durou cerca de doze anos, só terminando depois que este abriu o próprio empreendimento nas imediações do Cine Glória, no centro de Vitória.
Durante a Segunda Guerra, Francisco Quintas atuou como fotógrafo da Marinha, fotografando navios de guerra e soldados, no Espírito Santo e no Rio de Janeiro.
O fascínio pelo mar, aprendido com o pai, levou-o a realizar também estudos sobre navegação e construções navais, montando um estaleiro para a construção de barcos, após concluir o curso de Engenharia Náutica. Tal atividade e formação garantiram-lhe um trabalho na Marinha, em 1945, fazendo o registro fotográfico, aéreo e terrestre de construções, fundações e de navios estrangeiros que circulavam pelas costas brasileiras. Convocado para combater na Itália, soube do término do conflito mundial já embarcado, quando, junto com outros brasileiros, o navio deixava o porto do Rio de Janeiro. Sua atividade profissional valeu-lhe a condecoração de ''Amigo da Marinha". Prestou serviços também para o Iate Clube local, navegando por toda a costa brasileira e no exterior.
O interesse em aperfeiçoar-se e a vontade de elaborar imagens artísticas e não meros registros visuais, aproximou-o dos membros do Foto Clube do Espírito Santo, participando de alguns salões nacionais e internacionais (França, Inglaterra, Portugal, Estados Unidos). Interessado pelo universo das imagens artísticas, criou composições primorosas e belos e originais efeitos de luz.
Elaborou também as primeiras fotografias com filme colorido da Agfa, no Estado. Eram imagens tiradas à noite de um circo iluminado, instalado, segundo Quintas, em frente à antiga Capitania dos Portos. Enviou então os trabalhos para o laboratório do fabricante, na Alemanha, o qual, fascinado com o resultado, concedeu ao autor um diploma de honra ao mérito e medalha de ouro.
Prestou também serviços para a TELEST, no período de 1970 a 1985, fotografando miniaturas de placas de registros telefônicos, em todo o Espírito Santo. Produziu ele próprio um aparelho que lhe permitia fazer a leitura das chamadas telefônicas.
Aprendeu sozinho a arte de imprimir imagens fotográficas em louças de porcelana. Fez fotos de operações cirúrgicas, utilizadas para estudos médicos, adotando um sistema que suavizava o clique da máquina, evitando assim a tensão dos pacientes. Fez serviços também para o Cartório de Protestos e Títulos, utilizando a fotografia como meio capaz de comprovar a autenticidade de documentos.
Em 1972, deixa de vez essas atividades, passando a fotografar apenas crianças e eventos sociais. E casado e tem os filhos Reginaldo, Milton, Ailton e Francisco Quintas Neto. Aposentou-se depois de trabalhar 65 anos como fotógrafo, passando a residir em Itaúnas, Conceição da Barra. Voltou a viver em Vitória recentemente.
Referência: LOPES, Almerinda da Silva. Memória aprisionada: a visualidade fotográfica capixaba, 1850/1950. [Vitória, ES?]: EDUFES, 2002.
Nota: (1) Vida Capichaba, 578, 15 set. 1943.
Fonte: Depoimento de Francisco Quintas Júnior à autora, em novembro 1999. NASCIMENTO, Gese M. L. Foto Clube do Espírito Santo.Vitória, UFES, 1997.
Vida Capichaba, 1940-1955.
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