Nasceu no Líbano, em 5 de janeiro de 1916. Faleceu em Goiânia, Goiás, em 29 de outubro de 1997. Era filho de Theodoro Merjane e Amour Merjane.
Depois da morte do pai, nos anos 20, Jamil e sua mãe seguem para Gênova, na Itália, e de lá para a França, onde embarcam para o Brasil Jamil contava então com 13 anos de idade. Instalam-se inicialmente em São Paulo, na casa de parentes maternos. Outros familiares haviam emigrado para a Argentina e para os Estados Unidos, mas ele e a mãe preferiram continuar no Brasil. Pouco tempo depois, o jovem segue para Caxambu, em Minas Gerais, para trabalhar na casa comercial de um tio.
Chega a Vitória na metade da década de 30, empregando-se como atendente no Empório Capixaba, dos italianos Donato e Domingos Giafredo. Ali, aprende a revelar filmes, a fazer reproduções e ampliações fotográficas, tomando-se o fotógrafo e o operador do laboratório da empresa até fevereiro de 1941, quando o Empório Capixaba já tinha como proprietários Mário Cinelli & Filhos.
Em novembro de 1939, casou-se, em Vitória, com a capixaba Maria Feres Merjane. Aqui nasceram também seus três filhos.
No final do ano seguinte, adquiriu o estúdio fotográfico de Alfredo Mazzei, estabelecendo-se como fotógrafo profissional. Além de retratos para documentos, fazia também retratos artísticos, retocados e coloridos artesanalmente, esmerando-se na técnica, nos contrates de claro-escuro, nos efeitos da luz e na ambientação ilusória, criando cenários, construídos com móveis, colunas, cortinas e outros acessórios. Registrava casamentos, aniversários, festividades religiosas, eventos governamentais e sociais - como bailes, realizados nos clubes da cidade, entre eles os carnavalescos e de debutantes. Especializou-se também em retratos de formatura.
Foi também fotógrafo correspondente do jornal O Imparcial e do jornal A Gazeta, desde 1946, além de operador cinematográfico, registrado no Serviço de Censura de Diversões Públicas do Departamento Federal de Segurança Pública, desde 1951. Naquele mesmo ano, elabora um álbum fotográfico documentando os festejos do IV Centenário da Fundação de Vitória, encomendado pelo Desembargador Eurípedes Queiroz do Vale, membro da comissão executiva do evento. No mesmo álbum, o fotógrafo insere um selo de propaganda com os seguintes dizeres:
Jamil Merjane - Fotógrafo e cinegrafista - studio: Av. Jerônimo Monteiro, 365 - Vitória.
Ainda na década de 40, colaborou com a revista Vida Capichaba, ilustrando com seus trabalhos as páginas e as capas do periódico, a exemplo do retrato de Marluci Maia, princesa do Carnaval de 1949, que foi impressa por fotogravura na capa da edição n. 685, de março de 1949.
Amante de futebol, Merjane chegou a ocupar o cargo de diretor do Rio Branco Atlético Clube. Teve também intensa participação social como membro atuante de importantes clubes da cidade de Vitória, o Saldanha da Gama e o Clube Vitória, para os quais realizou também documentários fotográficos.
Em 1956, muda-se para Goiânia, onde abriu um ateliê fotográfico, dando continuidade ao seu trabalho profissional, ao mesmo tempo que se torna o fotógrafo oficial, passando a elaborar retratos e reportagens para o governo local. Registrou todos os eventos ocorridos naquela cidade. Foi também a serviço do governo que documentou todas as etapas da construção de Brasília, seja através da sua câmara fotográfica, seja realizando filmes documentários, o que o tornou percursor do cinema goiano, conforme consta do Documentário 159, da revista Goianicidade:
Vale lembrar que já na década de 50 Jamil Merjane tornou-se o precursor do cinema goiano ao trabalhar na produção de cinejornais. De forma precária, durante um período ele operou a produtora Karajá Filmes, responsável pelo cinejornal O Planalto na tela. A experiência durou pouco, porém abriu caminho para projetos mais ousados. (1)
Atuou também como cinegrafista e cameraman de TV, desde 1961, da Associação Goiana de Imprensa e da United Press International. Foi ainda repórter cinematográfico e coordenador de externas do Departamento de Notícias da Televisão Brasil Central, da CERNE - Consórcio de Empresas de Radiodifusão e Notícias do Estado de Goiás, de 1976 a 1978.
Muito atuante, determinado, criterioso, apesar de ter cursado apenas o primário, era um homem competente e arrojado e fez do trabalho seu laboratório de invenção e dedicação. Tantos atributos permitiram-lhe fundar, em 1962, a Produções Jamil Merjane - Karajá Filmes, da qual se tornou Diretor-Presidente. Além de produzir ali o jornal O Planalto na tela, que abriria caminho para projetos posteriores mais ousados ou de produção mais sofisticada, realizou ainda inúmeros trabalhos para o governo de Goiás, entre os quais, dezesseis documentários sobre as etapas da construção da rodovia Belém-Brasília e sobre a cidade de Goiânia, durante os mandatos de Otávio Lage de Siqueira, Leonino Caiado e Manoel dos Reis. Produziu também documentários coloridos para as Centrais Elétricas de Goiás, veiculados em todo o território nacional, além de um sobre a festa de Trindade. Elaborou ainda documentários em cores sobre as plantações de arroz irrigado, para a Goiás-rural, e sobre a cultura do trigo, para a Emater. Fez as filmagens da segunda etapa de Cachoeira Dourada e do Autódromo Internacional de Goiânia (hoje Airton Sena).
Em Vitória, Jamil Merjane ensinou os segredos da arte fotográfica a vários amadores. Em Goiânia, influenciou toda uma geração de produtores cinematográficos, deixando alguns discípulos que deram continuidade ao seu trabalho pioneiro.
Nota: (1) Cópia fotocopiada fornecida à autora, sem anotação do lugar de publicação, sem data e página, pertencente ao arquivo da família Merjane, em Gioânia.
Referência: LOPES, Almerinda da Silva. Memória aprisionada: a visualidade fotográfica capixaba, 1850/1950. [Vitória, ES?]: EDUFES, 2002.
Fontes: Depoimento do fllho do fotógrafo, Jorge Merjane, a Maria Elízia Borges, em Goiânia, em 25 de abril de 1999.
Depoimento concedido por Leda Merjane, através de telefone, em fevereiro de 1999, à autora.
Curriculum Vitae datilografado por Jamil Merjane, cedido por familiares.
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