domingo, 27 de maio de 2018

HENRIQUE DESLANDES

Nasceu em Paranaguá, Paraná, em data ignorada. As fontes consultadas também não oferecem informações mais detalhadas sobre ele.

Sabe-se que no final da década de 1850, mantinha um empreendimento fotográfico em São Paulo, instalado na Rua Direita nº. 14, conforme anúncios publicados no Correio Paulistano(1). Na década de 1860, vai para a frente de combate na Guerra do Paraguai atingindo o posto de Capitão, como informa Levy Rocha.(2)

Quando a Guerra termina, em 1870, Deslandes transfere-se para Vitória, onde abre um estúdio fotográfico, associado a Francisco Antonio de Faria, ex-funcionário da casa de Insley Pacheco, no Rio de Janeiro, estabelecendo-se com a razão social de Deslandes & Faria-Photographos, à Rua da Alfândega nº. 6 ou 8, conforme citam as propagandas.

Nos anúncios publicitários dos jornais da época, além de se oferecer para consertar e afinar pianos, informa trabalhar com todos os processos fotográficos conhecidos seu tempo e comercializar desde simples cartões de visita até os mais sofisticados produtos, acondicionados em luxuosos álbuns, acessíveis apenas a poucos membros da elite. Esses serviços e preços são assim apresentados nas propagandas:

Deslandes & Faria, estabellecidos à rua d'Alfandega nesta cidade n. 6, continuão com seus trabalhos, por mais algum tempo, e contão com a concurrencia do respeitavel publico.

Cartões de visita (duzia)............ 12$000
Cartões de albuns (duzia)........  25$000
Especialidade de retratos coloridos e envernisados por novo processo  20$000
Os retratos em grupo, pagarão mais 2$000, por pessôa.(3)

Em outro anúncio publicitário, publicado alguns meses depois, além de detalhar mais os produtos que comercializava, entre eles os "cartões coloridos e os cartões imperiaes coloridos", que custavam 30$000 a dúzia, informava que passaria a trabalhar também em outros municípios do Estado:

Tendo agradado os nossos trabalhos nesta capital, esperamos que o mesmo acontecerá nas demais cidades e villas da província nas quaes temos de percorrer; assim, previnimos ao respeitável publico dessas localidades para que conte com nossos trabalhos. No regresso da villa da Serra não pretendemos trabalhar nesta cidade como por engano foi publicado.(4)

Em anúncio posterior, além de melhorias na sua oficina, orientam os interessados em adquirir seus retratos que roupas e penteados deveriam usar:

Photographia de Deslandes & Faria- 6, Rua da Alfandega, 6. Grande melhoramento na officina. Trabalhos todos os dias das 9 ½ horas da manhã às 2 ½ da tarde, sendo os melhores dias os de sol encoberto em que há nuvens brancas, ainda mesmo chovendo.
As roupas que mais se prestão para tirar retratos são as de côr preta, havana, cinzenta e roxa, e para homens que quizeren seus retratos de pé, são preferiveis calça e collete de casemira de côr, mas o palitot ou sobre-cazaca preta tem a preferencia: ficão assim as sombras mais harmoniozas. As roupas brancas, côr de roza, alecrim ou azul claro não convem.
Os cabellos muito lizos e engordurados apresentão pontos luminozos que na protograhia ficão brancos, e portanto é necessario alisa-los pouco.
O último dia de trabalho é o dia 15 de janeiro de 1871.(5)

Em 1872, torna-se um dos sócios fundadores da Loja Maçônica União e Progresso, nesta cidade e passa a se dedicar a outros ramos empresariais, quando o governo da província autoriza a contratação, com Henrique Deslandes, da navegação do rio Itapemirim, desde sua foz até a villa do Cachoeiro.(6)

No ano de 1873, Henrique Deslandes transfere-se para ltapemirim, onde abre nova oficina fotográfica Nesse município, além da atividade fotográfica, atua também corno dentista e mecânico.(7)

Em 1876, entrou no ramo empresarial ao obter a primeira concessão para explorar a navegação no Rio ltapemirim, para cujo serviço adquiriu, em Campos, o vapor ''Muriahé".(8)

Em 1885, Deslandes obtém junto ao Presidente da Província, Muniz Freire, a concessão de licença para construir a estrada de ferro ligando Cachoeiro de Itapemirim a Castelo:

Comissão do Commercio, Agricultura e Obras, havendo examinado a cópia enviada a esta assembléa do termo de inovação do contracto celebrado com Henrique Deslandes para construção de uma via ferrea, da bitola 0,76 m, que partindo do Cachoeiro de Itapemirim procure o Castello, é de parecer que seja adaptado este projecto.(9)

Quando a estrada de ferro foi inaugurada, em setembro de 1887, o capitão Henrique Deslandes já vivia no Rio de Janeiro. Em carta enviada a Horta de Araújo, justifica a sua ausência à cerimônia de inauguração, e cita Moisés, dizendo entre outras coisas:

Não cheguei, mas apontei aos Hebreus o progresso da terra da promissão n 'essa província.(10)

Notas: (1) Correio Paulistano, São Paulo, 24 março 1859, propagandatranscrita por Solange Ferraz de Lima, in Fabris (org.). Fotografia: usos e costumes no século XIX, 1991, p. 72.

(2) Rocha. Crônicas de Cachoeiro, 1966,p.67.

(3) Correio da Victoria, 17 set 1870, p. 4

(4) Correio da Victoria, 21 dez. 1870, p. 1.

(5) Correio da Victoria, 16 jan. 1872, p. 2.

(6) Sobre o assunto vide também Levy Rocha, op. Cit.

(7) O Operário do Progresso, ltapemirim, 19 maio 1876,  p. 4.

(8) A Província do Espírito Santo, Vitória, 12 abril 1885, p. 3 e 4.

(9) ld. ib. 27 set 1887, p. 2.

(10) Commercio do Espírito Santo, 22 ago. 1894, p. 4.

Referência: LOPES, Almerinda da Silva. Memória aprisionada: a visualidade fotográfica capixaba, 1850/1950. [Vitória, ES?]: EDUFES, 2002.

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2, Anunciava-se como daguerreotipista em Curitiba no ano de 1857 (Dezenove de Dezembro, 20 maio 1857, snp). Dois anos depois registra-se sua breve passagem por São Paulo, nesta altura oferecendo retratos pelos sistemas do ambrótipo e "em laminas de ferro [ferrótipo], malacacheta, papel e oleado, sendo estes commodos para transportar em cartas" (Correio Paulistano, 20 mar. 1859, p.6). No mês seguinte avisa ao público que permanecerá na cidade apenas alguns dias (Correio Paulistano, 20 abr. 1859, p.4)Seis anos mais tarde encontramos o fotógrafo anunciando-se em Ouro Preto (Almanak Administrativo, Civil e Industrial da Provincia de Minas Gerais para o anno de 1865, p.116). Em março de 1870 registra-se a presença de um Deslande (que se trata provavelmente do mesmo fotografo) em Vitória associado a Faria (Deslande & Faria), comunicando a abertura de seu estabelecimento (Correio da Vitória, 31 mar. 1870, p.4). Cobravam pelos retratos os seguintes preços: 1 dúzia de cartões de visita 12$, ½ dúzia 8$, 1 dúzia de cartões coloridos 15$, ½ dúzia 10$, 1 dúzia de cartões imperiaes 25$, ½ dúzia 10$. Em setembro despediam-se do público da capital e informavam que se retirariam para a “villa da Serra (Correio da Victoria, 24 set. 1870, p.4) Meses depois, a dupla já se encontrava em Cachoeiro de Itapemirim (O Estandarte, 5 mar. 1871, p.4). Alguns dias depois faziam esclarecimentos técnicos para a obtenção de bons retratos: “os melhores dias [para retratar] são os de sol coberto, de nuvens brancas, ainda mesmo chovendo [por causa da melhor difusão da luz]. A roupa mais própria é a de côr preta, havana, cinzenta e roxa [devido ao maior contraste que resultava para o tipo de filme poucos sensíveis da época], devendo evitar-se o branco, azul claro e roza [devido ao pouco contraste]. O Cabello muito lizo e engordurado apresenta pontos luminosos que ficão brancos na fotografia”. (O Estandarte, 12 mar. 1871, p.4)

Referência: KOSSOY, Boris. Dicionário histórico-fotográfico brasileiro: fotógrafos e ofício da fotografia no Brasil (1833-1910). São Paulo: Instituto Moreira Salles, 2002.
Endereços: Largo do Rozario, 10. Curitiba, PR. 1857.
Rua Direita, 14. São Paulo, SP. 1859.
Rua Santa Quitéria. Ouro Preto, MG. 1865.
Rua d'Alfandega, 6. Vitória, ES. 1870.
Nd. Cachoeira do Itapemirim, ES. 1871.

Fonte: Correio Paulistano.
Correio da Vitória.
O Estandarte



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