Nasceu a 10 de fevereiro de 1911, em Minas Gerais. Faleceu em Vitória, no dia 15 de abril de 1971, vítima de ataque cardíaco.
Chega à capital do Espírito Santo no início da década de 40, para trabalhar na Kosmos Capitalização. Paralelamente a essa atividade profissional, dedica-se à fotografia, como amador, métier que o pôs em sintonia com outros amantes da arte fotográfica, com os quais se aperfeiçoou e educou o olhar sensível. Durante esses contatos, surgiu a idéia de criar em Vitória a I Exposição de Arte Fotográfica, que, por sua vez, acenderia a chama para a criação de um fotoclube, do qual Pedro Fonseca foi um dos sócios fundadores. Elegeu-se, em outubro de 1946, para o cargo de tesoureiro, na diretoria que teve como presidente Isauro Rodrigues. Na citada Exposição de Arte Fotográfica, aberta em dezembro de 1945, Fonseca classifica três de seus trabalhos, denominados Entardecer, Pirâmide Humana e Convento de Penha, em 1º, 4º e 5º lugares, respectivamente. Tornou-se, a partir daí, um dos mais atuantes e premiados fotógrafos locais, dada a qualidade e a personalidade que imprimia às suas imagens, cujo mérito era reconhecido em mostras e salões nacionais.
Em pouco tempo, tornou-se figura conhecida e imprescindível nas rodas boêmias e no meio artístico e jornalístico capixaba. Como fotógrafo, produziu os retratos dos concursos para eleger as mais belas representantes tanto do Espírito Santo como de outros estados, como convidado especial dos Diários Associados, credencial que fazia questão de exibir.
Pela sua experiência no assunto e por essa atuação tomou-se conhecido como o "fotógrafo das misses", título do qual se orgulhava e atividade que se tornou um misto de trabalho e diversão, uma vez que
escolhia a sua candidata e buscava, malandramente, colocá-Ia nos melhores ângulos, com os melhores destaques de grupo e insinuava citações nas reportagens sobre sua preferência. E, tudo isso, sem macular sua dignidade profissional.(1)
Registrou também os bailes de debutantes do Clube Vitória, no Parque Moscoso, bem como os carnavalescos e outros eventos sociais.
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Título: Manhã Capixaba.
Autor: Pedro Fonseca.
Data: década de 1940.
Dimensões: 30 x 23,3 cm.
Acervo: Foto Clube do Espírito Santo
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Em 1949, é eleito para ocupar o cargo de tesoureiro do Foto Clube do Espírito Santo.
Numa matéria publicada na revista do Instituto Histórico e Geográfico do Espírito Santo, em 1951, José Carlos Monjardim Cavalcanti assim definiu o artista:
Pedro Fonseca, retratista da cidade. Em geral, e lamentavelmente, o artista tem a sua personalidade eclipsada pela atuação do profissional, sempre que coloca a arte a serviço do espírito de lucro. Com Pedro Fonseca, entretanto, a regra geral sofre uma exceção, como se esta fosse mesmo necessária para confirmá-Ia.
Desde muitos anos o público capixaba ( ... ) se habituou a ver fotografias desse mineiro desgarrado da terra gloriosa e que hoje se transformou em autêntico cidadão capixaba. Magníficas poses de moças e senhoras da nossa sociedade, paisagens, grupos, flagrantes dos principais acontecimentos da vida citadina e mesmo estadual. A paisagem viva e o interior curioso também aparecem nas revistas e jornais, constantemente, com a assinatura de Pedro Fonseca. ( ... )
Se consagra atraindo a atenção de todos os interessados, gentIeman supera em muito o homem de negócios.
( ... )
Conquistou a sociedade capixaba, tomou-se o fotógrafo amador predileto da cidade. E não é somente na fotografia paisagística e familiar que Pedro Fonseca se especializou e serve a capitaI, mas no documentário comercial e industrial, através de magníficas chapas, em que se aliam a nitidez e a felicidade do ângulo, ao capricho de uma execução artística perfeita ....(6)
Na década de 1940 e início da de 50, foi colaborador da revista Vida Capichaba, ilustrando com imagens de sua autoria as páginas daquele periódico, tornando-se autor das capas de várias edições, impressas em rotogravura, entre as quais a de número 660, com Pôr-da-sol em Itacibá.
Perspicaz e sempre atento a todos os acontecimentos, transformações e até às cenas singulares e inusitadas do cotidiano da cidade, elegeu tanto os assuntos nobres como os insólitos como temas de suas incomparáveis imagens fotográficas, uma vez que fez da arte forma de expressão, não um mero comércio. Basta citar que engendrou magníficas composições e revelou grande senso estético, mesmo na produção de imagens que sabia de antemão não serem absorvidas pelo mercado, a exemplo daquelas que elaborou em 1948, do túmulo de Totó, um cãozinho vira-lata que vivia pelas ruas da Praia Comprida e morreu atropelado por um automóvel causando consternação nos moradores, em especial nas crianças que cuidavam dele e das quais o animal tinha-se tornado íntimo. Inconfundível, por ter uma mancha escura em volta do olho esquerdo, à maneira de um tapa-olho, que lhe dava um ar sedutor de pirata, a população do bairro prestou a última homenagem a esse personagem querido, sepultando-o na areia da praia, com direito a lápide com seu nome, urna interrogação na data de nascimento e a data da morte: 22.9.48. Na hora do féretro, lá estava o fotógrafo registrando tudo, perpetuando assim, através das lentes de sua objetiva, a memória de Totó, como qualquer personalidade da elite local, imagens que publicou na Vida Capichaba.(7)
Em 1954, Pedro Fonseca passa a atuar como repórter fotográfico no jornal A Gazeta, transformando-se nurna mistura de
fotógrafo e repórter, uma vez que buscava o fato e a notícia com a mesma preocupação e responsabilidade e descrevia minuciosamente os grandes acontecimentos.(8)
Como documentarista, foi insuperável e "suas fotografias continuam, ainda hoje, com uma excelente atualidade".(9) Entre as principais coberturas e episódios que documentou costumava citar e exibir o
diploma de fotógrafo oficial das festividades comemorativas do IV Centenário, que lhe foi conferido com respectiva medalha de ouro, pelo saudoso Jones dos Santos Neves.
Gostava de recordar passagens de suas reportagens, coberturas e andanças. ( ... ) Buscava o fato e a notícia com a mesma preocupação e responsabilidade, descrevia minuciosamente os grandes acontecimentos que abalaram o Estado: desastre ferroviário de Engano, queda do avião da Cruzeiro do Sul, caça e perseguição ao contrabando, visita de Getúlio Vargas, os grandes comícios de encerramento de campanhas, a visita de Carlos Lacerda e muitos outros.(10)
Reconhecido no Estado e fora dele, o mineiro Pedro Fonseca foi convidado pelo cerimonial da Presidência da República para documentar a inauguração de Brasília, em 1960. Através de fotos em preto e branco, as quais encontraram generoso espaço nas colunas dos principais periódicos de todo o país, esbanjou criatividade.
Manteve um laboratório próprio para revelação e ampliação de sua produção fotográfica, uma vez que dominava perfeitamente todas as etapas dos procedimentos para a geração das imagens e exigia o máximo de qualidade e limpeza nos mínimos detalhes e sutilezas de gradações nas escalas de tons de cinzas e nos contrates de luz e sombra, tomando-se um verdadeiro mestre da fotografia contemporânea capixaba, exercendo influência em várias gerações de fotógrafos. Deixou enorme produção iconográfica e urna verdadeira legião de admiradores, entre os quais era conhecido como o fotógrafo da "sombra e da luz", tal era a perícia com que explorava esses contrastes.
Durante mais de 30 anos de intensa produção, registrou todos os eventos sociais, paisagens, marinhas, vistas, monumentos, não escapando à sua objetiva nenhum aspecto significativo de Vitória, captando tudo com um olhar treinado e uma sensibilidade à flor da pele, atributos que afastaram seus ícones do lugar-comum. Usando sempre uma câmara fotográfica russa, retratou tanto tipos populares corno beldades capixabas, a cujos retratos imprimiu sempre um toque artístico, seja através de inusitados enquadramentos, de inconfundíveis efeitos de luz e sombra, capazes de projetar instigantes silhuetas, seja dando a cada imagem uma força expressiva que transcende a mera aparência externa, capaz de manifestar uma espécie de subjetividade, a exemplo do que se observa em ícones como Ciranda, Cirandinha, que foi capa da revista Vida Capichaha (662), 15 de junho de 1947. Apesar de ter freqüentado os ambientes mais refinados e de ter cultivado seletas amizades, não fez do dinheiro o objetivo primordial de sua vida. Pedro Fonseca morreu pobre, tendo como companheira apenas a velha câmara e um imenso legado de belas imagens, que compõem um fabuloso acervo histórico e artístico, que ultrapassa, segundo algumas fontes, os quatro mil negativos. A fotografia foi seu laboratório de experiência, sua fonte de inspiração e seu "élan vital", uma vez que se dedicou a ela mais como necessidade de expressão, não fazendo dela uma profissão rentável nem a transformando num produto de comercialização.
Notas: (1) J. C. Monjardim Cavalcanti, “A monumental documentação do mestre Pedro Fonseca”, A Gazeta, 4 set. 1980, p.1 (Caderno Dois).
(2) Vida Capichaba, 644, 30 set. 1946.
(3) “Encerrada a Quinzena de Arte”, A Tribuna, 21 dez. 1947, p.8.
(4) Vida Capichaba, (675), 30 maio 1947.
(5) Id. Ib. 686, 30 abril 1949.
(6) José Carlos Monjardim Cavalcanti. “Pedro Fonseca, o fotógrafo”, Revista do IHGES, (31/33), 1980/82; A Gazeta, 12 jun. 1951, p.10; “Pedro Fonseca, o fotógrafo”, A Gazeta, 4 set. 1980, p.1 (Caderno Dois).
(7) Geraldo C. Alves, “Totó”, Vida Capichaba, 687, maio 1949.
(8) C. Monjardim Cavalcanti, A Gazeta, 4 set. 1980.
(9) Rogério Medeiros, in João Gualberto Vasconcellos (org.). Vitória: trajetória de uma cidade, p.42.
(10) José Carlos Monjardim Cavalcanti. “Pedro Fonseca, o fotógrafo”, A Gazeta, 4 set. 1980, p.1. (caderno Dois).
Referência: LOPES, Almerinda
da Silva. Memória aprisionada: a visualidade fotográfica capixaba, 1850/1950.
[Vitória, ES?]: EDUFES, 2002.
VASCONCELOS, J. G. (org.). Vitória: trajetórias de uma cidade. Vitória, 1997.
Fontes: A Gazeta, 1940 a 1980.
A Tribuna, 1940 a 1968.
Revista do IHGES, 1940 a 1982.

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