Nasceu em Ubá-MG, a 3 de agosto de 1904. Faleceu em Vitória, a 13 de maio de 1981. Filho de lavradores italianos originários da região de Roma, teve uma infância humilde.
Aos 9 anos de idade, começou a trabalhar para ajudar a família. Foi vendedor de amendoins e pintor.
Aos 16 anos de idade, começou a aprender os processos fotográficos com o irmão, Celidônio Mazzei, nascido na Itália e 14 anos mais velho que Alfredo. No final da década de 1920, transferiu-se para Cachoeiro de Itapemirim, onde começou a atuar como fotógrafo. Chega a Vitória a 11 de abril de 1931, "no encalço de alguns oficiais da Policia Militar que voltavam da Revolução de 30 e tinham feito fotografias em seus estúdios cachoeirenses. Saiu para receber na época 300 mil réis". (1)
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Maria Henriqueta e Maria de lurdes Lindenberg.
Autor: Foto Mazzei.
Data: 1933.
Dimensões: 19,5 x 14,8 cm.
acervo: Maria Lindenberg, Vitória.
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No entanto, em janeiro daquele mesmo ano, publicava na revista Vida Capichaba uma vista de Cachoeiro de Itapemirim. Uma matéria, na mesma revista, informava sobre a exposição de "diversos trabalhos fotográficos do conhecido artista A. Mazzei; perfeito conhecedor do seu ofício, na montra do Pan Americano", o qual passaria a ser "o colaborador artístico daquele periódico". (2) A boa receptividade de suas fotografias, expostas na vitrina daquela casa comercial, faz chegar ao artista muitas encomendas para cobertura de eventos sociais (banquetes, casamentos, aniversários de crianças e jovens, cerimônias de batizados e retratos de crianças no dia da primeira comunhão, formaturas, etc). Enquanto procurava os devedpres que o trouxeram a Vitória, Mazzei hospedou-se no Hotel Central (onde mais tarde se onstalou o Magazine Helal). Sem dinheiro e já sem muita esperança de receber o que lhe deviam, ele decide então trabalhar como fotógrafo profissional em Vitória. Monta um laboratório fotográfico num “amplo e confortável compartimento conveniente aparelhado (...), que pode ser comparado a um dos melhores da Capital da República, (3) no edifício do Banco Inglês (depois Banco de Crédito Real de Minas Gerais):
Mazzei conhecido e festejado artista da objectiva comunicou-nos haver instalado o seu studio nos altos do edifício de Banco Inglez. Brevemente fará nesta capital uma interessante exposição dos seus trabalhos, em que figurarão os principaes elementos da nossa sociedade bem como os aspectos mais pitorescos da nossa natureza. (4)
No entanto, antes mesmo de instalar esse ateliê, Mazzei realizava uma exposição de seus trabalhos numa vitrina de uma casa comercial:
O sr,. Mazzei expôs na vitrine do Pan-Americano, alguns dos seus trabalhos fotográficos. Todos quantos os viram não regatearam aplausos ao inteligente e caprichoso, que sabe com a sua objectiva focalizar os aspectos mais interessantes da nossa natureza e as expressões mais sutis do rosto humano. Mazzei que vem montar atelier nesta capital organizará uma variada collecção de vistas panorâmicas e de retratos das principais figuras do nosso mundo social para uma exposição futuramente. (5)
Os articulistas da imprensa local davam destaque, em todas as matérias, às poses originais e aos extraordinários efeitos de luz, que o autor imprimia aos retratos das personalidades da elite local. (6)
Realizou também mostras de seus trabalhos, sempre com ampla cobertura da imprensa local, a exemplo deste comentário, que recebeu o titulo de A Arte fotográfica moderna:
Os raios ultravioleta, para fotografias, vêm revolucionar a moderna arte fotográfica. Até a pouco era o americano no norte o único a aplicar esses raios para produzir fotografias. Mazzei, dando mais uma prova de seu desejo de bem servir a nossa capital, vem de melhorar consideravelmente a sua aparelhagem fotográfica, para a perfeita execução de retratos comparáveis aos até agora feitos pelos norte-americanos.
Em princípios do próximo mês de fevereiro, o Studio Mazzei inaugurará uma linda exposição, que certamente, trará momentos de prazer para a culta sociedade capichaba. A melhor boa vontade vem o Mazzei demonstrando na realização dessa moderna inovação na arte fotográfica. (7)
Animado com a boa receptividade do público a essas mostras, Mazzei aluga uma vitrina "dedicada à sociedade elegante da capital" e às paisagens capixabas, no saguão do Teatro Glória, para manter em exposição permanente as suas fotografias. O acervo exposto era renovado semanalmente, sempre aos domingos. Segundo informações da imprensa da época, essa vitrina possuía uma base de mármore, com o nome do artista-fotógrafo. Ainda segundo essas mesmas fontes, pelo local passavam cerca de três mil pessoas, para assistir à exibição de filmes e de peças teatrais e, conseqüentemente, a vitrina do fotógrafo não passava despercebida:
O excelente photógrapho A. Mazzei, já bastante conhecido pelos seus belos trabalhos e criações photográphicas, alugou uma vitrine na sala de espera do teatro Glória, onde fará uma exposição permanente de seus artísticos trabalhos. Terá assim o nosso público uma ótima oportunidade de apreciar a obra de arte valiosa de Mazzei, porque o local escolhido, um ponto central da cidade, é quase da nossa sociedade elegante, muito facilita aos que gostam de admirar a arte da photographia maximé, sabendo-se que seu autor é um perfeito conhecedor da profissão que escolheu ( ... ). (8)
Incansável, Mazzei tenta se superar a cada trabalho, renovando sempre os processos e as técnicas e mantendo sempre bem-equipado o seu estúdio. Desde que aqui chegou, ele produz intensamente, seja retratos de personalidades da política e belas mulheres capixabas, seja vistas, monumentos e paisagens do Espírito Santo, com destaque para os crepúsculos e os amanheceres. Foi também um dos mais requisitados fotógrafos para documentar casamentos, aniversários, batizados, bailes e outras atividades nos clubes sociais de Vitória. Especializou-se também em quadros de formatura.
Mazzei: o melhor serviço fotográfico, às suas ordens. Retratos de festas, casamentos, homenagens, formaturas, etc. Atendemos chamados para fora de Vitória. Rua Jerônimo Monteiro, 381-Vitória. (9)
Este fragmento de uma matéria sobre o trabalho do fotógrafo, esclarece um pouco mais sobre a diversidade de trabalhos realizados por ele:
Hoje a fotografia tornou urna forma de arte verdadeira, é de salientar o quanto ela progrediu entre nós. Dedicou-se ao retrato, mas, foi além: às ampliações, aos trabalhos de porcelana e vidro, à paisagem a óleo. Para maio deste ano Mazzei nos promete uma grande exposição ( ... ) no hall do Cine Glória. (10)
Em 1937, inaugura um ateliê de fotogravura para elaborar trabalhos destinados à imprensa, com a colaboração de profissionais de Minas Gerais, segundo informação desta nota publicitária:
Anexo ao Studio Mazzei será inaugurado amanhã, nesta Capital, o atelier de fotogravura de Mazzei, o conhecido e competente artista da fotografia que a cidade admira.
A oficina de gravação de que vai ser dotada a nossa capital, estará entregue à perícia de verdadeiros profissionais, contratados especialmente em Belo Horizonte, em cuja imprensa estiveram durante longo tempo, empregando, naquela arte as atividades, achando-se, para poder alcançar o seu objetivo, perfeitamente aparelhada e modernamente instalada, à Av. Capixaba, 57. (11)
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Maria Queirós Lindenberg e Carlos Fernando
Lindenberg Filho.
Autor: Foto Mazzei.
Data: 1936.
Dimensões: 21,5 x 15,5 cm (diâmetro do oval);
29,5 x 21x5 cm (campo papel).
Acervo Maria Lindenberg.
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Em razão desse empreendimento o fotógrafo era credenciado pela Companhia Editora Americana, naquele mesmo ano, para fazer a cobertura dos eventos sociais do Estado, para a Revista da Semana. (12) Mas colaborava também com as revistas locais Vida Capichaba, desde a década de 20, e Chanaan, nos anos 30, enviando seus trabalhos para ilustração das páginas desses periódicos.
Na década de 1940, quando amplia o negócio e instala seu estúdio na Rua Jerônimo Monteiro, propõe-se a elaborar retratos artísticos, recorrendo à pose, a cenários e ao retoque.
Dependendo do interesse do cliente, os retratos eram ampliados até um metro de altura, para elaboração das fotopinturas, pintando depois as imagens com tinta a óleo francesa, que importava diretamente da Europa. Esses trabalhos eram oferecidos nos jornais da época como "retratos artísticos de luxo". Fazia também montagens fotográficas pintadas, reveladoras de seu talento para a arte, declarando-se, em entrevistas, um "pintor frustrado". Assinava depois suas fotopinturas, como se fossem mesmo obras de arte, chegando a afirmar que "fotografia é coisa de artista". Esse tipo de retratística não lhe garantiu, entretanto, a sobrevivência, uma vez que o preço cobrado pelos trabalhos, 40 mil réis a unidade, tornava-os acessíveis a uma clientela restrita, o que o levou a substituir a foto artística por processos mecânicos ou mais vulgarizados. Mesmo assim, calculava em cerca de 500 o número de fotopinturas realizadas.
Em 1943, transferiu seu gabinete fotográfico, localizado à Rua Jerônimo Monteiro, 365, para Jamil Merjane, mudando-se temporariamente para Minas Gerais, atendendo a um convite do governo daquele Estado para trabalhar como fotógrafo oficial. O novo proprietário conserva, todavia, o nome anterior do Studio Mazzei, conforme se constata nesta declaração do próprio Mazzei:
Tendo que atender temporariamente a serviços fora desta capital, resolvi vender a Casa Studio Mazzei, à rua Jerônimo Monteiro, 365, ao Sr. Jamil Merjane, de modo que desde o dia 2 de dezembro os trabalhos fotográficos estão sendo feitos sob a orientação do novo proprietário. Entretanto, estou terminando todos os trabalhos de compromissos anteriormente assumidos, os quais ficarão ultimamente até 15 de janeiro de 1943.
Oportunamente terei o prazer de comunicar à praça e aos meus amigos onde poderei novamente merecer seus favores e confiança no desempenho de minha profissão. A. Mazzei. (13)
Resolve depois estabelecer-se, na mesma época, no ramo industrial, abrindo uma fábrica de sabonetes e bebidas. A paixão pela fotografia fez com que desistisse rapidamente desse empreendimento, retomando em Vitória as atividades no ateliê, depois de ganhar o direito de voltar ao empreendimento, uma vez que Merjane continuou sempre usando o nome e a credibilidade de Mazzei, mantendo a denominação anterior do estúdio.
O interesse pela fotografia como arte e a vontade de manter-se sintonizado com todas as novidades e atualizado, do ponto de vista técnico e artístico, aproximou-o dos amadores do Foto Clube do Espírito Santo, ao qual se associou, embora não chegasse a freqüentar suas reuniões, excursões e demais atividades. Procurava adquirir os equipamentos e materiais mais modernos lançados no mercado pelos comerciantes do ramo fotográfico, introduzindo-os em primeira mão no Espírito Santo. Ainda nos anos 40, o magnésio foi o recurso mais inovador usado para clarear os ambientes à noite. No início da década seguinte, enquanto todos os fotógrafos ainda continuavam a usar o magnésio, Mazzei introduziu, não apenas no Espírito Santo, mas foi o pioneiro no Brasil, o emprego do flash, importado por ele com a ajuda da Central Brasileira, tendo usado o recurso pela primeira vez na cobertura da visita de Getúlio Vargas a Vitória. O uso do flash, mesmo consumindo uma nova lâmpada a cada foto batida, deixa perplexos os fotógrafos da comitiva presidencial e o próprio visitante.
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Aniversário de Luiz Mário Nalin (menino de terno e gravata, em frente à mesa). Entre os convidados: Biblides Mazzei, Juraci Machado, Isaltina Paoliello. Zélia Ferrari, Celisa S. Nalin e José Agostinho P. Nalin. Autor: Foto Mazzei. Data: 1947. Dimensões: 16,7 x 22,6 cm. Acervo: Celina S. Nalin. |
O advento dos filmes coloridos, que passam a ser revelados por laboratórios industriais e as câmaras fotográficas cada vez mais baratas e fáceis de manipular, fazem desaparecer a fotopintura, restringindo a atividade dos fotógrafos aos retratos para documentos e às reportagens especiais, geralmente casamentos e eventos de natureza política, como visitas de autoridades e inaugurações. Porém, isso não impediu que Mazzei continuasse a produzir muitos retratos artísticos dos familiares, vistas e paisagens em branco e preto, quase até o fim da vida.
Notas: (1) Rogério Medeiros, 1994, p.13.
(2) Vida Capichaba, 269, 29 mar. 1931.
(3) Id. Ib., 12 julho 1929 e 08 de jul. 1931, p.1.
(4) “Studio Mazzei”, Diário da Manhã, 18 abril 1931.
(5) “Notas de Arte”, Id. Ib. 28 mar. 1931, p.2.
(6) “Studio Mazzei”, Diário da Manhã, 22 maio 1931, p.1.
(7) “A fotografia moderna”, Diário da Manhã, Vitória, 21 jan. 1934, p.4.
(8) “Exposição Mazzei”, Diário da Manhã, Vitória, 06 fev. 1936, p.7.
(9) A Gazeta, 18 jun. 1948, p.6.
(10) “A respeito de uma exposição fotográfica”, Chanaan, (2), ano 1, fev. 1936, p.20.
(11) “Um atelier de fotogravura em Vitória”, Diário da Manhã, Vitória, 08 ago. 1937, p.1.
(12) Diário da Manhã, Vitória, 8 out. 1937, p.1. a Companhia Editora americana editava as revistas Eu sei de Tudo, A Scena Muda, Almanack Eu sei de Tudo, além da Revista da Semana.
(13) A Gazeta, 01 jan. 1943, p.4.
Referência: LOPES, Almerinda da Silva. Memória aprisionada: a visualidade fotográfica capixaba, 1850/1950. [Vitória, ES]: EDUFES, 2002.
Fontes: A Gazeta, Vitória, 01 jan. 1943, p.4; 04 fev. 1943, p.4; 18 jun. 1948, p.6. "Arte: A . Mazzei (fotógrafo)", Vida Capichaba, Vitória, 269, 28 mar. 1931.
A Tribuna, Vitória, 22 ago. 1946, p.8.
Chanaan, Vitória, (1),2:20, fev. 1936).
Diário da Manhã, Vitória, 12 jun. 1929, p.1; 08 e 12 jul.1931, p.1; 21 jan. 1934, p.4; 06 fev. 1936, p.7; 18 fev. 1936, p.8; 08 ago. 1937, p.1; 8 out. 1937, p.1.
MEDEIROS, Rogério, "Entre uma revelação e outra: Alfredo Mazzei", Vitória, Você, (IH), 27:11-18, out/nov, 1994.
NASCIMENTO, Gese M. L. O Foto Clube do Espírito Santo. Vitória, UFES, 1997;
Vida Capichaba, Vitória, 261, 31 jan. 1931; 450, 28 fev. 1938.